capítulo 53

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Ucker sorriu de leve.


-     Não sei quem é importante, mas, sou médico, sim. Parece que você está doente.


Charles avaliou Ucker com ar cauteloso.


-     Peguei gripe. Chamei minha mãe porque os len­çóis estão revirados e não consigo encontrar meu urso. Pode ir embora. A gripe é contagiosa, e minha mãe disse que você tem medo de meninos como eu.


Assim dizendo, Charles voltou a atenção para um brinquedo que tinha nas mãos, como se a presença de Ucker fosse absolutamente dispensável. E, se Ucker usasse um pouco de seu bom senso, teria aproveitado a oportunidade para sair daquele quarto.


No entanto, ele cruzou os braços, disposto a escla­recer as palavras do menino.


-  Então, sua mãe disse que tenho medo de você?
Ouviu os passos de Dulce que vinha da cozinha.


-      Ucker? Charles? - Dulce chamou num tom preocupado.


Logo, ela entraria no quarto. Charles deitou-se, ajei­tando os lençóis da melhor maneira. Ucker olhou ao redor. Embora bem decorado e alegre, o quarto era muito pequeno. Parado na porta de entrada,Ucker sentia-se ocupando todo o espaço físico. E Dulce pra­ticamente obrigava o filho a permanecer sozinho na­quele quarto minúsculo apenas para não aborrecer o "doutor".


Ucker olhou de novo para o menino deitado na cama estreita. Um espaço tão pequeno para se ficar por tanto tempo. Quando Dulce voltasse para a sala de estar, para os exercícios, Charles ficaria sozinho, doente, solitário...


Ele estremeceu com esse pensamento. Não deveria ter ido à casa de Dulce. Ela estava certa por querer manter os dois à distância. Fitando os olhos ansiosos do garoto, para a miniatura de mão segurando a barra do lençol, Ucker compreendeu que não desejava ficar perto dele. Seu coração se contraía de dor, tentando afastar as lembranças de outras mãozinhas que ha­viam enlaçado seu pescoço. Com afagos e risos de ale­gria e beijos doces com gosto de framboesa.

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