capítulo 86

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Dulce ergueu-se repentinamente. Cruzando os bra­ços, estreitou os olhos para ele.

-     Christopher Uckermann, será melhor não relaxar, nem isolar-se de novo naquela casa. Se isso acontecer, eu...

Levantando-se também, ele parou ao lado dela. Ele estava tão perto que Dulce teve a impressão que, se respirasse fundo, tocaria na pele dele.

-     O que você faz, Dulce? Invade minha casa de novo? Arma uma barraca diante da minha porta, como você ameaçou? Golpeia meu peito com seus punhos delicados? Você ficaria surpresa se soubesse o quanto sentirei a falta desse seu lado autoritário.

E, ela sentiria falta dele. Dele por inteiro. Abalada pela proximidade, pela força de suas emoções, Dulce fechou os olhos. Não queria que Ucker visse a mágoa que, com certeza, estava estampada em seu rosto.

Imediatamente, ele recuou e levantou as mãos.

-Não foi um insulto, Dulce - ele se desculpou, interpretando erroneamente a inquietação dela. - Eu brinquei. Realmente, eu a admiro muito, você sabe. Anderson não poderia ter me mandado uma fisioterapeuta melhor. Vou voltar ao trabalho. Nunca mais me esconderei. Nunca mais me entregarei ao desespero. Não a decepcionarei, Dulce. - Afagou-lhe o queixo com o nó dos dedos. - Isso é tudo, não? Chegou minha hora de sair de cena.

-Ucker? - A voz de Charles soou aguda, vinda do outro lado da mesa.

Ucker olhou para o filho. Charles tinha os olhos ar­regalados e cheios de lágrimas. O sorvete esquecido na taça, transformara-se numa mistura de branco e marrom.

-Não vá, ainda, Ucker. Ok? Tenho uma coisa que quero lhe mostrar. Você espera?

-Não se preocupe, Charles. Não vou embora sem despedir-me de você.

Charles mordeu o lábio. Lentamente, desceu da ca­deira e saiu correndo da sala. Voltou em seguida, tra­zendo algo na mão. Quando Dulce percebeu do que se tratava, sentiu-se congelar.

- Não, Charles - pediu. - Leve isso de volta para o seu quarto.

Tarde demais. Charles já colocara o papel na mão enorme de Ucker.

- Ucker - ela disse, tentando pegar o pedaço de papel. Não suportava a idéia de Ucker lendo a lista de Charles. Não suportaria o olhar de decepção do filho. - Não é nada... nem perca tempo lendo.

Mas, eleja estava lendo. As palavras que Dulce sabia de cor desfilavam diante dos olhos dele. Lista de Papai. Não ter medo de monstros, nem de crianças. Não pre­cisa ser bom em quebra-cabeça. Médico. E as últimas inclusões de Charles. Alto. Cabelos amarelos.

Piscando, ela se voltou para o filho. Charles observava Ucker lendo. Sua esperança, seu amor, estavam refle­tidos em seu olhar. De repente, Dulce compreendeu que permitira que Charles fosse longe demais. Ela deveria ter acabado com aquela história logo no início.

Virando para Ucker, ela tentou pensar num modo de fazê-lo entender do que se tratava, e, de certa forma, poupar Charles.

Isso é... é...

um pai perfeitoOnde histórias criam vida. Descubra agora