Capítulo 30

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Cássia se baixa olhando para os objetos que caíram da mesa ignorando momentaneamente a tensão formada entre Gro e Balor, até Andrazia está de pé segurando seu cetro em apoio ao anão, Ferbos segura seu braço e a mulher se acalma, Cássia pega um medalhão que estava agora no chão com um brasão em relevo de uma coroa e louros, ela o limpa calmamente com seus dedos, se ergue novamente com seus olhos para os feridos.

Cássia - Ele está certo, eu sabia disso e ainda assim aceitei receber cada um em minhas terras, eu assumi a responsabilidade de protegê-los e não fiz, todas as perdas que sofremos é culpa minha. - O anão para de encarar o gigante voltando sua atenção para Cássia - . Gro - Não me entendam mal, eu não estou criticando sua atitude, aquelas pessoas precisavam de um lar e você as deu, eu mais do que ninguém sei disso, os humanos tomaram a terra dos gigantes em sua expansão territorial a setenta anos atrás, porém ao aceitá-los devia ter fortificado suas aldeias, ensinados a lutar ou pelo menos criar esconderijos espalhados em caso de emergência, a verdade é que estou me segurando para não ir atrás dos que foram capturados, Cássia - E nós iremos. Andrazia - Tem certeza disso? Olhe para o nosso estado, quero resgatar os nossos tanto quanto qualquer um. Balor - Mas não temos armas ou homens o suficiente para isso e a senhora não pode deslocar o resto de suas tropas de seus lugares e deixar mais pontos da fronteira desprotegidos. Cássia - Eu sei que levaremos tempo, mas do que eu gostaria, na verdade, mas em alguns dias, eu sei que teremos a força necessária. Vamos nos preparar, Ferbos reúna os que estão em bom estado, iremos começar a traçar um plano graças a um amigo.

Quatro meses depois ela estava terminando de escrever uma carta e envia dois pássaros pequenos com bicos em formato de agulha e penas vermelhas nas costas e asas, com barrigas em penugem branca, eles alçam voo com calma até ficarem sobre a copa das árvores, depois cada um se afasta voando em direções diferentes e segundos depois eles disparam em alta velocidade e um estampido violento ao ponto de produzirem o som de trovão na arrancada. Cássia toca uma pequena pedra verde emaranhada em cordas em seu pescoço, depois volta a se juntar aos seus homens, o acampamento está mais desenvolvido e vários soldados indo e vindo, alguns polindo armas e outros treinando ao fundo, Cássia se volta para Ferbos.

Cássia - Reúna nossas tropas, vamos nos encontrar com os outros. Ferbos - Está certa do nosso destino? Cássia - Graças a um soldado obstinado, sabemos exatamente para aonde iremos.

Nas proximidades do entorno dos rochedos nas minas, onde ainda haviam árvores e arbustos, um farfalhar de folhas leve e agitado chama atenção, em um dos galhos um pequeno pássaro do trovão olha na direção das minas, uma respiração fraca surge atrás do animal. Uma garota maltrapilha e magra de cabelos e pele escura estava carregando cascalhos em seus braços cortados, seus movimentos são lentos e mecânicos, seus olhos âmbar são vazios, sua pele está impregnada de poeira, lábios secos e cortados, ela joga os cascalhos em uma vala sobre ossos e restos humanos sendo comidos por ratos, corvos e abutres, ela para por um segundo fitando a vala, e depois volta a andar parecendo não se incomodar e apenas retorna para uma pilha de cascalhos para pegá-los e repetir o mesmo movimento, ao lado de uma pilha de pedras a frente da mina, a um homem magro tão sujo quanto a garota de barba grisalha sentado no chão com um martelo quebrava as pedras, a outras crianças repetido o mesmo trajeto da garota, outras traziam pedras para a pilha do homem, essas viam de dentro da mina, ao longe havia algumas pedras com diversas cores opacas que eram coladas em caixotes, há algumas poucas com cores vibrantes que são separadas por outras pessoas, nenhuma delas está acorrentada, apenas possuem grilhões em seus tornozelos e pulsos, nas partes mais altas ao redor a homens vigiando cada movimento realizado pelos prisioneiros.

Entre os arbustos um homem de estatura baixa, com um corpo proporcional ao seu tamanho e magro está agachado apoiado sobre uma perna, ele olha de longe essa movimentação, ele está com uma de suas mãos pressionadas contra a lateral do estômago, usa algumas peças de armadura sujas e um pouco atrás, sob os pés de uma árvore estão o resto das peças juntos de uma espada curta, em sua cintura a um punhal curto.

Elan - Já faz quatro meses, e essa merda ainda dói, mesmo após ter fechado.

Ele fita as pessoas trabalhando quase sem piscar, ao seu redor os sonhos parecem abafados, a uma ventania forte e um tempo nublado no céu, a ameaça de chuva forte cresce. Der repente uma mão toca seu ombro e ele em reflexo se joga para o lado segurando seu punhal na direção da figura misteriosa que está de pé gesticulando com o dedo recostado sob seus próprios lábios para ele fazer silêncio, mesmo na sombra ele a reconhece, Cássia que estava acompanhada dos outros líderes e de mais alguns homens um pouco atrás. Ele se prostra diante dela.

Elan - Mil perdões, senhora, não percebi quem era e ainda lhe apontei uma arma. Cássia - Mesmo perdido em pensamentos ágil rápido, perspicaz como sempre, mas essa sua humildade me constrange. Elan - Peço que me perdoe novamente então. - Ele ergue seu olhar, ela estava sorrindo para ele - . Elan - Como conseguiram vir até aqui com tantos homens? Balor - Graças a arrogância desses humanos por acharem que venceram e deste tempo para cobrirem nossos rastros, não tivemos dificuldade. Cássia - levante-se e me conte tudo o que sabe. Gro - Tolos, acham que vamos esquecer o que fizeram e deixar por isso mesmo, nem guardas descendentes eles colocaram para cuidar desse lugar. Andrazia - Eu que não me importo com o descuido desses vermes. Cássia - Agora, levante-se e me conte tudo o que sabe sobre esse lugar velho amigo. Elan - Sim senhora, imediatamente.

Elan conta tudo o que sabe e viu, conta que muitas vezes teve de se arriscar chegando perto para entender tudo e que muitas vezes quis agir por impulso, mas se conteve a fim de obedecer às ordens que lhe foram dadas. A verdade é que ao fato de Elan está neste lugar foi devido a sua obstinação, quando as terras de Cássia foram invadidas, ele um dos homens mais fiéis não pensou duas vezes em seguir os homens que invadiram seu lar, ele não tinha um propósito claro, apenas os seguiu mesmo após lutar e ser ferido, até que em uma bifurcação teve de decidir quais carroças seguir e optou pelas que estavam repletas de crianças até que chegou neste lugar horrível, uma mina de magicitas, ferido, sozinho e cansado não pode fazer nada além de observar por uns dias, até que recebeu a visita de um pássaro trovão, um dos muitos pertencentes a sua senhora que lhe reconheceu, ele não sabe como a criatura o encontrou, mas usando barro para escrever e um retalho de sua roupa avisou onde estava o que havia encontrado. Cássia se abaixa e tocando seus ombros lhe encara sorrindo.

Cássia - Graças a você meu amigo, não perdi as esperanças, muito obrigada. - Os olhos de Elan se enchem de lágrimas que fazem um rastro visível em seu rosto sujo pela poeira de terra, até Balor tem seus olhos marejados ao ver o amigo naquele estado, Ferbos enxuga seus olhos e é consolado por Andrazia, pois também não havia se contido, alguns homens atrás estavam no mesmo estado - . Cássia - Você aguentou bem, agora vamos resgatar os nossos e depois iremos comemorar.

Depois de um tempo todos estavam agachados formando um círculo, escondidos pelos arbustos e árvores densas, a chuva começava a cair, formavam suas estratégias de como iriam invadir, alguns dos homens se dispersam entre as árvores se perdendo das visitas dos que ficam para trás, um tempo depois cada um deles se juntam a grupos de homens maiores que estavam escondidos mais fundos na floresta, repassando as ordens e detalhes do plano, as equipes começam a se mover em diferentes direções cercando a mina, um pequeno grupo vai até o depósito de madeira atrás das minas usado para guardar as magicitas, eles começam a pegar as mesmas e colocam óleo no depósito e ao redor da mina, alguns estão agachados diante dos rastros de óleo entoando algum encanto enquanto seguram algumas das magicitas vermelhas tomadas dos malfeitores, a alguns atrás deles segurando arcos e flechas, outros estão escondidos nas partes mais altas do terreno segurando magicitas brancas e azuis, no lugar onde Cássia se encontrava estavam alguns pássaros trovão empoleirados na árvore que estava atrás dela, alguns pássaros a mais chegam com recados em suas patas.

Ferbos - Todos os grupos estão prontos. Cássia - Ótimo, vamos começar.

Cássia ergue seus braços e os pássaros trovão saem em revoada sob a copa das árvores, esse era o sinal para se dar início ao plano. Os que estavam nas partes mais altas começam entoando um cântico e surge uma névoa branca que parece uma neblina fraca que vai ficando cada vez mais densa. Um dos capatazes olha para o que está mais próximo que parece ser o líder no comando do lugar.

Capataz - Devemos mandar que entrem? Vai ficar difícil trabalhar dessa forma. Líder - Eles que deem um jeito, se não conseguirem trabalhar irão sofrer as consequências. 

A Vilã Quer Salvar A Santa (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora