Capítulo 65

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Lorna sai dos aposentos da senhorita apressadamente desesperada conseguindo com dificuldade alcançar Mia segurando seu pulso, elas param abruptamente. - Lorna - Pare! Você precisa- Mia - Me solte! Lorna - Eu não vou, você precisa voltar! Vocês duas... Mia - VOLTAR? Porque preciso voltar? Lorna - Vocês são amigas, nós somos... Mia - Amigas? - Mia ri nervosamente enquanto lágrimas vertem de seus olhos, já vermelhos - . Mia - Não escutou, devo apenas obedecer sem questionar, e nós duas? Nós não somos amigas... Lorna - É claro que somos. Mia - Lorna, você é apenas um problema que eu tenho de aturar. Lorna - Não está falando sério... só está nervosa, triste. Mia - Me solte imediatamente! Lorna - Eu não vou... - Mia aperta o pulso de Lorna com força usando sua outra mão, cravando suas unhas nele, Lorna solta pela dor e Mia corre novamente, Lorna segura seu pulso e seus olhos lacrimejam - . Lorna - Ela, ela só precisa de um tempo, ela não falou sério... - Ela balança a cabeça, tentando mandar a negatividade para longe, em um tom decidido -. Lorna - É claro que foi tudo da boca para fora, nós somos amigas e nada do que ela diga ira mudar isso - Um tempo depois Lorna está a passos rápidos, ofegante pelos corredores entrando e saindo de salas, segurando a barra de seu uniforme, tentando encontrar Mia em algum lugar, interrompendo e assustando outros criados, perguntando se alguém poderia ter avistado a criada pessoal da senhorita, ela sente o seu peito apertar mais e mais. - Lorna - Onde... diabos... você se meteu, sua idiota chorona?

Enquanto isso, Mia que se encontrava em alguma sala escura, se encontrava sentada contra uma parede, com a cabeça entre as pernas, lágrimas escorriam copiosamente de seus olhos sem conseguir detê-las. - Mia - Mas que inferno! Porque eu corri? - Colocando as mãos em seu rosto para enxugá-las - . Mia - Porque eu disse aquilo? Eu a machuquei! Parem! PAREM IMEDIATAMENTE! Por quê? Porque não consigo para-las? O que tem de errado comigo? A senhorita, não disse nada de errado...

Suas mãos apertam contra o seu peito, ela volta a fungar. Diante da sala no corredor Abigail passava timidamente, sua expressão corporal demonstrava o seu cansaço. - '' Abigail - Espero não mais encontrá-la hoje, a Rosália além de assustadora e preguiçosa e vive me mandando fazer suas obrigações. '' - . Ao passar pela porta ela se apoia para descansar momentaneamente, até escutar um lamento vindo de dentro da sala, inicialmente pensa em sair e deixar quem quer que seja a sós, não seria a primeira vez que ela escuta algo parecido, pela pouca criadagem e o tamanho da propriedade era comum alguns usarem salas vazias para se lamentar por suas dores, remorsos, saudades e frustrações, mas sua curiosidade fala mais alto naquele instante, ela encosta o seu ouvido na porta.

Mia - Mas está doendo... tanto! Eu, eu não quero ficar sozinha... - Sua mente é tomada pela face de Rosália - Mia - Ela, eu quero vê-la. - Abigail fica atordoada por alguns segundos sem saber o que fazer, ela certamente reconheceu a voz, por um momento ela cogita dar meia volta, ela dá um, dois passos, mas seu corpo para, suas mãos estão com os dedos se movimentando nervosamente entrelaçados a frente do peito, seus olhos se fecham com força, segundos depois, Mia escuta o ranger da porta que se abre vagarosamente, ela escuta passos cautelosos e então a porta se fecha, sentindo-se constrangida, ela fala sem pensar - . Mia - Quem quer que seja! Eu já estou cuidando deste lugar, vá embora! - Respirando fundo com a voz trêmula - . Abigail - E-e-eu não, não poderia fazer isso - sussurrando para si mesma - Ela certamente não me perdoaria se o fizesse... Mia - Essa voz... - Mia dá um leve sobressalto ao reconhecê-la - . Mia - Abigail? É assim que se chama, certo? Abigail - Si-sim! Você está correta! - Ela respira fundo mais uma vez, e vai até às lamparinas da sala e as acende uma por uma, enquanto Mia se levanta tentando se recompor, limpando o seu uniforme e limpando o seu rosto, com um tom mais calmo e cuidadoso, ela se aproxima de Mia - . Abigail - Você está bem? Mia - Sim, não se aflija. - Abigail vai até uma mesa, puxa duas cadeiras e se senta em uma delas fazendo sinal para Mia se aproximar, seu rosto é sereno apesar do seu nervosismo, Mia adoraria ficar sozinha agora, odiaria ser visto por qualquer um, porém, mesmo sem conhecer muito bem Abigail, pelo pouco que viu dela, sabe que é uma menina tímida, mas de bom coração, se fosse qualquer outro, a maioria pelo menos, ela seria mais agressiva - . Abigail - Não é o que sua voz e o seu rosto me dizem. - Mia se vira usando a barra de seu avental para limpar um vaso qualquer - . Mia - Está enganada, meus olhos estão irritados pela poeira. Abigail - Espero que esta poeira se resolva. Mia - É só irritação mesmo, eu juro, vou ficar bem, agora me deixe, só preciso de um momento. Abigail - Eu não quero que tenha uma imagem errada sobre mim, não sou de bisbilhotar, mas eu escutei o seu lamento, então se precisar... - Entre lágrimas e um sorriso forçado, Mia responde - . Mia - Eu devo aparentar ser muito patética agora... Abigail - Não tem nada de patético em se estar triste, é algo comum, praticamente choro todas as noites lembrando da minha família. - Aquela revelação repentina pega Mia de surpresa, elas nunca se falaram muito, ainda assim Abigail acabara de se abrir, tentado demonstrar solidariedade a colega, Mia pergunta - . Mia - Sente falta deles? Abigail - Não é por isso que choro, não vou entrar em detalhes, mas deixando isso de lado, como comentei anteriormente, escutei que não queria ficar sozinha? Não tem nenhuma amiga para se abrir? Mia - Amiga? - Ela ri forçadamente novamente, entretanto desta vez foi involuntário, Abigail percebe - . Mia - Não, eu não tenho, tenho apenas a senhorita, e um pequeno problema irritante amarrado a mim, chamado Lorna - Abigail ri desta afirmação, Mia também o faz ao perceber o que disse, pensar em Lorna nesse momento traz uma certa comodidade, mas, ao mesmo tempo, uma angústia - . Abigail - Não tem ninguém que consiga pensar que gostaria de ver agora? - Mia se lembra novamente do rosto de Rosália, ela fica mais calma, até um pouco animada, ao ponto de parar de fingir limpar o vaso, sem que perceba, ela está andando na direção de Abigail, quando percebe já está sentada ao seu lado com a boca entreaberta, como se um nome quisesse saltar de sua boca - . Mia - Até tem, mas não quero aborrecê-la. - Ela é tomada por uma vergonha involuntária, e ruboriza - . Abigail - Quem seria? Mia - Esqueça isso, eu só preciso de um tempo. - Ela sente uma necessidade de mandar para longe de seus pensamentos, o rosto, a voz e até o nome Rosália, mas ao tentar isso, só a deixa mais presente em sua mente - . Abigail - Eu não quero parecer intrometida, mas se tem alguém que quer ver neste momento, não deveria dar ouvidos ao seu coração? Mia - QUEM DISSE QUE FOI O MEU CORAÇÃO QUE ME ACONSELHOU? - Mia fala mais alto do que pretendia, Abigail ri e isso, apenas deixa Mia ainda mais constrangida e mais ruborizada, ela fica praticamente encolhida apertando as mãos contra as pernas - . Abigail - É apenas um palpite. Mia - Talvez o seu palpite esteja certo... - Mia afirma com uma coragem que nem ela esperava que tivesse, deixando ambas surpresas, como se uma verdade escondida, até dela própria saltasse para fora de seu peito, mas ela não para de falar mesmo assim, sente que deve por algum motivo - . Mia - ... Eu não sei, mas tem essa pessoa que apesar de que não nos conhecemos há tanto tempo, ou sequer tenhamos conversado muito, me passa uma sensação de segurança, conforto, até fico mais feliz, só de conversar com ela. - Mia fica surpresa com as próprias afirmações, como se essas verdades sobre si que ela desconhecia, fizessem seu peito arder, agora com as mãos contra o rosto sentindo-se envergonhada - . Mia - Minha deusa... mas o que acabo de dizer? - Abigail coloca a mão em seu ombro em um gesto amigável para tentar acalmá-la - . Abigail - Acho que já sabe o que deve fazer, ela certamente é de quem precisa neste momento, quem é ela? Talvez eu possa ajudar a encontrar, não a muitos criados por aqui de qualquer jeito. - Antes que a coragem lhe seja tirada, Mia respira - . Mia - Eu, eu preciso encontrar a chefe Rosália. Abigail - A Rosália? Eu posso ajudar. Mia - Rosália? Você a chama de forma tão casual. - Mia fica impressionada com a garota claramente tão tímida quanto ela a sua frente - . Abigail - Ela não gosta de ser chamada de chefe. - Afirma Abigail em um sussurro que ainda é audível - .Mia - Eu percebi, mas é difícil ser casual com alguém que mal conheço e nem tenho tanta intimidade. Abigail - Não é íntima? - '' Abigail - Isso seria como cravar uma espada diretamente no peito dela '' - . Mia - Algum problema? Abigail - Não, nenhum, eu vou te dizer onde ela costuma ficar por essa hora do dia, mas por favor, não diga que fui eu. Mia - Eu não entendo o motivo, mas tudo bem... temos um acordo.

Nos aposentos de Lavínia, ela se encontrava deitada na cama, com a conversa que teve com Mia repassando pela sua cabeça inúmeras vezes. - Lavínia - Eu sou tão idiota - O rosto de Amanda vem em sua mente - . Lavínia - Você com toda certeza se irritaria comigo agora, me pegaria pelo pulso e me faria consertar essa merda que eu fiz. - Ela se vira para o lado - . Lavínia - Mas é impossível agora, eu estou sozinha - Seus olhos lacrimejam - . Lavínia - Achei que tinha superado? Mas acho que nunca vou.

Lorna estava no refeitório dos empregados, um pouco ofegante, enchendo uma caneca com água de uma jarra grande de barro que fica no chão, ela praticamente estava com o corpo apoiado sobre o objeto.

Lorna - Já não consigo pensar em nenhum outro lugar para procurar, existem tantas salas e quartos, mas sempre que vou em um imagino se ela não poderia estar em outro, ou no último em que olhei, fazer isso sozinha não está sendo fácil... acho que poderia pedir ajuda a Persia e a chefinha, ela parece estar gostando da senhorita pelo que a Salomé comentou. - Lorna se ergue, arruma a postura, puxa o ar com os braços erguidos buscando motivação, exala tudo e a pleno pulmões - . Lorna - VAMOS LÁ! É por uma amiga! Uma que com toda certeza nesse momento precisa de você! - Ela pensa em muitas das situações com Mia até aquele momento, sua imagem sobre sua amiga é de uma pessoa que não sabe relaxar, está sempre séria, Lorna tem certeza que sem ela, Mia já teria surtado, pois seu jeito espalhafatoso permite Mia se distrair de suas preocupações, mas Lorna não tem muita segurança sobre isso, ela tem certeza que nada do que faz é um problema de fato, talvez até cause algumas rugas de preocupação e nervosismo, mas não é isso que deixa a relação delas duas tão cômoda e divertida? Com passinhos animados e tendo recuperado sua motivação - . Lorna - Onde a Persia costuma ficar, em uma hora dessas?

Ela pensa, e pensa, porém, não consegue imaginar, já que Persia é tão proativa que pode estar trabalhando em qualquer lugar, entretanto isso lhe dá uma ideia, é um fato que ela não sabe onde encontrar Persia, todavia Rosália é outra história, pois ao contrário de suas colegas comprometidas com suas funções, Rosália é uma folgada sem esperanças, costuma ficar nos mesmos lugares sempre, uma verdadeira inspiração, por isso Lorna a chama tão carinhosamente de chefinha, não para ridicularizá-la, mas para demonstrar seu apreço. Lorna se lembra de esbarrar com ela, várias vezes enquanto também tentava fugir do trabalho, graças a isso, descobriu vários dos locais favoritos de descanso da chefinha, com um plano traçado dando saltinhos de felicidade ela se encaminha pelo corredor tentando ter uma ideia em como convencer aquela mulher atípica a ajudá-la. Quando vira para entrar no corredor que sai do refeitório para os aposentos das empregadas, ela se depara com uma imagem que a faz paralisar por alguns segundos, Mia está com os braços ao redor do corpo de Rosália que não a abraça de volta, pois aparenta tanta surpresa quanto ela, enquanto Mia chorava copiosamente, na mente de Lorna uma frase ecoa nos não somos amigas - . Lorna - Ela não precisa de mim... - Lorna dá meia volta retornando para o refeitório dos empregados, ela se senta com os cotovelos na mesa e cobrindo o rosto com as mãos, o apoiando enquanto aperta a ponta dos dedos sobre a pele, repetindo a frase em sua mente, várias e várias vezes, Persia acaba entrando na cozinha um momento depois, ficando atrás dela, ela expressa certa irritação - . Persia - É aqui que você estava? Que conversa estranha é essa de você sair atrapalhando o trabalho de todo mundo? Acho bom isso ter alguma boa explicação! - Lorna funga, aquilo pega Persia de surpresa - . Persia - Lorna? Você está bem? - Ela se aproxima com passos calmos, da mesa e ergue o braço na direção do ombro de Lorna, mas é surpreendida com Lorna se virando repentinamente e a abraçando com força - . Lorna - As coisas estão mudando... Persia - O quê? Do que está... Lorna - Eu não gosto disso... eu não quero isso - . Lágrimas vertem de seus olhos. - Sem saber o que fazer diante daquela situação, Persia apenas passa os braços em volta de Lorna - . Persia - Eu não sei o que está acontecendo, mas tenho certeza que vai ficar tudo bem... - O rosto de Lorna que estava afundado em seus seios antes, se vira para cima, revelando seus olhos vermelhos e catarro em seu nariz que havia grudado no uniforme de Persia, porém Persia não parece se importar e seu rosto antes irritado, estava calmo, sereno e convidativo - . Lorna - Você promete? Persia - Sim... eu prometo.

A Vilã Quer Salvar A Santa (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora