Capítulo 35

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Rassvet está retraída sentada ao lado de Cássia que come uma fruta, ela está nervosa imaginando o que virá a seguir.

Rassvet - Não está irritada? Cássia - Estranhamente me sinto aliviada. Rassvet - Por quê? Cássia - Com você aqui eu vou ser obrigada a não ser impulsiva. Rassvet - Não vai me obrigar a voltar? Cássia - Já se passou metade de um dia, seria uma perda de tempo, além do mais não estou indo para lutar, pelo menos, não é o que pretendo, agora tire esse capuz e essa máscara, qual era a sua ideia? Rassvet - Eu estava tentando parecer com a senhorita Andrazia. Cássia - Ela consegue ser discreta, você parecia estar clamando por atenção, então por que veio? Rassvet - Não poderia permitir que a senhora se colocasse em perigo sozinha, resgatando nosso povo. Cássia - E como descobriu? Rassvet - Eu vi aquele cavaleiro estranho conversando com a senhora, depois escutei parte de sua conversa com o senhor Ferbos. Cássia - Eu ando distraída demais se uma criança conseguiu se esgueirar perto de mim duas vezes. - Quando Rassvet tira o capuz Cássia olha para o rosto dela e principalmente para o seu cabelo, agora curto - .Cássia - Usou uma faca? Rassvet - Ele estava grande demais, foi uma boa oportunidade para fazer isso. - '' Cássia - O meu cabelo também é curto, não tanto quanto o dela... será quê? Não, estou pensando demais. '' - . Cássia - Eu gostei, combinou com você. Rassvet - E então, para onde exatamente estamos indo? Cássia - Achei que tivesse escutado a minha conversa. Rassvet - Eu falei que escutei uma parte. - Cássia ri e Rassvet já não está mais nervosa - . Cássia - Estamos indo para Tussen Rivieren, fica a oito dias de cavalo, depois de um largo desfiladeiro, é praticamente um assentamento em um pasto aberto, ou era. Rassvet - Era? Cássia - Soube que muitas árvores e plantas cresceram por lá nos últimos cento e vinte anos. Rassvet - Qual foi a última vez que foi até lá? Cássia - Há muito tempo. - Um velho halfling que estava sentado na frente delas, escuta a conversa de canto de ouvido, por fim se intromete - . Snelle - Eu não iria para Tussen se fosse vocês. Cássia - E por que não meu velho? - O velho olha sério para Cássia que já não mais ria, o olhar do homem se enche de tristeza, Cássia teme pelo pior - .

Os dias se passam e Cássia e Rassvet chegam ao desfiladeiro no final de um entardecer, elas atravessam para o outro lado quando já está escuro, sendo iluminadas apenas pelas estrelas que brilhavam intensamente e pela luz da lua, ao chegarem do outro lado, sobem em uma árvore alta, ficam escondidas entre as folhagens observando a uns cem metros de distância, a uma muralha de pedra e no topo há pequenos agrupamentos humanos, o que deixa Cássia desconfiada, ao redor delas a muitas árvores ainda mais altas de folhagens densas o que as ajuda a se esconderem, enquanto se aproximam com cautela.

Cássia - Não precisamos nos preocupar em sermos vistas, são poucos, mas isso também me preocupa, eles não construíram uma muralha tão grande e colocariam tão poucos humanos para vigiar, seria descuidado. - Com voz trêmula, Rassvet fala - .Rassvet - Aquele velho tinha razão, Tussen foi tomada por humanos, eles avançaram ainda mais no nosso território. O que faremos agora? Cássia - Vamos invadir, eu preferia que você não fosse, mas acho que você é ainda mais inconsequente do que eu. - Cássia fala isso sorrindo, mas ao olhar para trás nota Rassvet incomodada e meio retraída - . Cássia - Pensando bem, talvez você deva ficar, assim apenas uma de nós seria capturada caso as coisas não saírem como planejado, e a outra poderia pedir ajuda. - Rassvet tenta se recompor, nem que seja um pouco e firmando a sua voz - . Rassvet - Eu estou bem, vamos de uma vez. Cássia - Não é fraqueza sentir medo, se forçar a algo que você acha que não está preparada é imprudência. Rassvet - Não precisa se preocupar comigo, já disse que estou bem. Cássia - Talvez eu devesse voltar. Rassvet - Por quê? Por minha causa? Eu não sou fraca! Cássia - Não é isso, além de sermos poucas, não estamos lá muito bem trajadas ou armadas para uma invasão, não sabemos o que encontraremos do outro lado, o que é minha maior preocupação. Rassvet - Não vamos voltar, você deve estar ainda mais preocupada agora do que antes, sabendo que os humanos tomaram esse lugar, como você disse, não sabemos o que está acontecendo do outro lado, se estão vivos ou mortos, você mesma disse que não viemos para lutar.

Rassvet tinha razão, agora que Cássia se deparou com aquela enorme e extensa muralha, seu coração passou a bater mais rápido, mas ela precisava se controlar, não estava sozinha e não queria arrastar Rassvet para uma armadilha, a incerteza a deixava inquieta quanto a atitude certa a tomar, voltar seria o correto, pois sua parceira estava claramente com medo de enfrentar humanos devido aos seus traumas, e deixar aqueles que estavam do outro lado daqueles muros para trás seria errado, ela estava dividida.

Rassvet - Você é uma das guerreiras mais capazes que conheço, com certeza consegue pensar em uma forma de invadirmos sem sermos notadas, principalmente com tão poucos humanos sob a muralha. Você tem razão, eu não quero lutar, não contra eles, não ainda, por tanto eu apreciaria a descrição, vamos invadir, checar a situação e então voltar. - Cássia volta seus olhos para aqueles paredões, respira fundo, pensa em todas as suas noites mal dormidas nos últimos anos, pensando nos que ela não conseguiu resgatar que podem estar do outro lado daquela muralha - . Cássia - Tudo bem, vamos fazer isso, me dê alguns minutos.

Elas decidiram atravessar o muro ao crepúsculo quando a neblina toma conta do lugar, chegam a árvore mais próxima à muralha que ainda está a mais de quinze metros de distância e não é alta o suficiente, pulam para a muralha e se fincam com facas negras de obsidiana infundida em magia, escalando o resto do trajeto, encobertas pela névoa densa são imperceptíveis, elas chegam ao topo que está vazio, não querendo abusar da sorte passam para o outro lado e pulam se ficando novamente na parede e descendo com cautela, ao chegarem à terra firme avistam a uns duzentos metros várias cabanas, usadas muito provavelmente pelos guardas, a cavalos em baias, alguns selados amarrados a postes e outros mais perto das muralhas, a um celeiro enorme, muito provavelmente para guardar armas, elas param e pensam no que fazer a seguir, para chegar a esse lugar terão de passar pelo descampado ou dar a volta encobertas pela sombra da muralha, o terreno é desnivelado em vários pontos, possuindo pequenos morros de terra o que as ajudaria a se esconder enquanto se aproximam, Cássia avista um punhado de árvores não tão altas quantos as de fora, mas devem ser o suficiente para se esconderem por hora, elas vão agachadas até elas e depois de alguns minutos chegam e decidem ficar por lá e observar de longe ate intender a rotina dos guardas, para Cássia eles parecem bem despreocupados, andando em pequenos grupos, não olhando muito em volta e rindo, brincando uns com os outros.

'' Cássia - Que estranho, Leichit não me contou sobre a muralha, não acredito que ele me atrairia para uma armadilha, ele jamais ficaria ao lado dos humanos, ainda assim me contou sobre esse lugar e eu vim sem titubear, bem talvez tenha acontecido o mesmo com ele, ele deve ter escutado sobre o nosso povo por alguém, então veio me contar sem checar a informação. ''

Rassvet estava um pouco mais atrás que Cássia recostada em uma árvore, estando mais atenta, olhando ao redor com olhos bem abertos, sua expressão é séria e quieta, suas pernas estão tremendo assim como as mãos segurando o cajado com força. Der repente um farfalhar nos arbustos surpreende ambas que se viram rapidamente, Cássia já pega uma faca escondida ficando em posição, enquanto Rassvet se retrai ainda mais ao ver a figura misteriosa, surgindo das sombras um cavaleiro humano bem trajado, com sua espada na bainha acompanhado de vários outros de armadura, atrás delas surgem ainda mais, elas estão cercadas, Rassvet larga o cajado, e ao ver aqueles rostos seus olhos se enchem de lágrimas e sua mente a leva de volta às minas, Cássia fica na frente dela erguendo sua arma sem demonstrar medo, mas em sua mente sua preocupação apenas cresce, como ela lidará com tantos e protegerá sua parceira que está presa em seus medos internos sem conseguir agir? O Cavaleiro bem trajado pigarra antes de falar.

Cavaleiro - Por favor, venham sem resistir, não queremos ninguém ferido, não é mesmo?

A Vilã Quer Salvar A Santa (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora