Capítulo 55

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É noite, Mia e Lorna estão andando lado a lado através de um corredor, um pouco mais simples que os outros, ele é reto sem bifurcações com apenas uma saída para a esquerda no final dando para outro corredor mais curto, a algumas portas em ambos os lados e no final tanto uma saída para esquerda quanto para a direita, porém com portas em ambos os corredores do mesmo lado da parede enquanto na outra que fica de frente para os que estão vindo, existem apenas janelas, cada uma dessas portas leva a quartos, cada quarto possui algumas camas simples com baús no pé de cada uma, apenas do no final do último corredor a direita a mais uma porta que abre para os dois lados, nesta sala maior que os quartos a uma cozinha simples, com algumas mesas para os empregados se alimentarem, quando Mia e Lorna chegam a esse lugar alguns dos servos que estão se alimentando olham para elas, outros ignoram, Lorna olha para trás antes de entrar na sala de janta dos empregados por alguns segundos, Mia anda mais timidamente até uma mesa próxima à entrada a pratos de barro simples, ela pega um, juntamente com uma caneca do mesmo material e Lorna se junta a ela.

Lorna - Porque você é sempre tão receosa quando comemos aqui? Mia - Eu só havia me acostumado a comer junto da senhorita... Lorna - Achei que gostasse de manter uma distância respeitosa? Mas gosta de aproveitar quando o assunto é comida? Bem, eu não culpo você. Mia - Não é isso, eu apenas não gosto desta atmosfera, eles olham como se estivéssemos fazendo algo de errado. Lorna - Olham? Você acha? Eu não percebi nada disso? Acho que deve ser coisa da sua cabeça. Mia - Tem certeza? - Ao olhar mais atentamente Mia ainda percebe alguns olhares, mas eles não parecem tão intimidadores quanto ela pensava, a única pessoa que tem uma expressão de poucos amigos é Rosália, mas ela não está nem olhando para elas, apenas encara uma parede, ela está comendo sozinha - . Mia - Talvez devêssemos ir até lá. Lorna - Não é como se tivesse mais algum lugar vazio de qualquer jeito. Mia - Então vamos... Lorna - Vai na frente, vou falar com algumas pessoas... Mia - Que pessoas? Você tem amigos aqui? Lorna - Não é porque você não se enturma, que eu faço o mesmo, a maioria é chato, mas alguns se salvam. Mia - Eu vou sozinha? Eu não quero! Ela me dá medo! Lorna - Você precisa aprender a relaxar...

Lorna pega Mia pelo braço enquanto segura com maestria a sua bandeja com o prato com algum caldo dentro e a caneca com água, na outra mão, Mia foi pega de surpresa e acaba usando às duas mãos para segurar a sua, ela não consegue relutar ou se quer pensar, Lorna a coloca sentada na mesa e Rosália as ignora, Lorna coloca a sua bandeja, cumprimenta Rosália rapidamente a chamando de chefinha irritada que não responde e sai deixando Mia sozinha, Mia está muito nervosa, ela tenta cumprimentar Rosália, mas as palavras não saem, então ela se foca em seu prato dando algumas colheradas para acalmar seu espírito.

Rosália - Como consegue comer isso com tanta vontade? - Mia fica muito surpresa com Rosália tendo puxado assunto primeiro - . Mia - Oi? Rosália - A sopa! Pelo menos é o que eu acho que é? Parece mais um caldo branco sem gosto. - Mia percebe uma calma na voz de Rosália, algo que ela não esperava vindo daquela mulher que sempre estava com uma carranca, bem Mia nunca conversou com ela por muito tempo, na verdade, apenas uma vez quando foi contratada, Rosália a encarou confusa, e Mia percebe que está olhando para o rosto dela por tempo demais, então tenta sorrir desajeitadamente e responde em fim - . Mia - Talvez seja por isso mesmo, não chega nem a ser ruim... - Rosália rir com o comentário, Mia fica surpresa e sorri de volta com uma sensação de alívio repentina e um conforto estranho, Rosália fica a olhando por uns segundos com olhos gentis e curiosos - . Rosália - Mia, não é? Mia - Isso, chefe Rosália. Rosália - Não me chame assim, eu não gosto deste título. Mia - Mas foi dado pela governanta... Rosália - Ela só precisava jogar isso para as costas de alguém, não importa muito quem fosse... Mia - Mas no fim das contas foi você, então ainda devo algum respeito. Rosália - Eu não mereço essa consideração toda de você, acredite. Estranha - Com certeza não merece! Ela tem razão! - Uma pessoa se senta ao lado delas repentinamente surpreendendo Mia, enquanto o sorriso de Rosália some.

Em um dos quartos, Natali está sentada em sua cama acalmando seu coração, pensando em tudo o que aconteceu durante o dia, se perguntando se foi real e se deveria estar fazendo mesmo aquilo? Talvez desse tempo de desistir, talvez ela apenas não fosse quando a chamasse, mas e se ela for demitida? Se não puder pagar sua dívida? Ela nem sabe o quanto falta para pagar, a governanta nunca fala sobre isso, aliás, ela nem se lembra de a ter encontrado novamente desde que foi contratada. Mas aquilo tudo pode ser apenas um capricho da senhorita Gilbert e se ela desistir de tudo no dia seguinte? As mãos de Natali começam a tremer.

Persia - Como você suporta ficar nervosa o tempo todo? - Natali é surpreendida por Persia que surge na porta, Persia fecha a porta e se senta na lateral da cama ao lado da de Natali ficando de frente para ela - . Persia - Você está agindo estranho, tem algo a preocupando? Natali - Não! Nada! Eu estou bem! Persia - Claramente não está, mas eu não vou te forçar... É um assunto seu no fim das contas. - Natali se lembra das palavras de Lavínia, talvez Persa não pudesse ajudar em nada, era quase certeza de que não ajudaria, afinal ela sempre parece tão segura, mas talvez falar sobre possa ajudar a aliviar seu coração, essa possibilidade passa pela mente de Natali enquanto Persia havia se levantado e se encaminhava para a porta - . Persia - Eu estou indo comer, melhor se apressar, talvez não sobre muito seja lá qual for a deliciosa iguaria de hoje. Natali - Espera! - Persia se assusta, momentos depois, já diante de Natali, sentada novamente enquanto Natali tenta se acalmar mais uma vez - . Persia - Não sabia que a sua voz conseguia ser assim tão alta! Natali - Perdão... Eu não queria gritar. Persia - Não peça perdão por isso, eu não me ofendi, nem se quer achei ruim. Natali - Entendi, então me desculpe por me exceder. Persia - Seus pedidos de desculpas terão fim? Natali - Você deve estar ocupada... Estou tomando seu tempo, eu falo depois. Persia - Não é por isso, é só que não comemos nada a tarde toda, mas isso pode esperar, prometo que vou te escutar, parece ser importante. Natali - Obrigado, tentarei ser o mais breve possível! Persia - Não tenha pressa, damos um jeito com o nosso jantar depois.

Natali então começa falando de sua infância, explica como ficava quando criança sempre que presenciava o seu pai ser agressivo principalmente com sua mãe, a sensação que sentia, como parecia que poderia morrer, que perdia o ar, que seu coração batia mais rápido, como perdia o controle sobre seus pensamentos e que tudo piorava, que sua visão ficava estranha, conta como sua mãe a acalmava, como as coisas pioraram quando sua mãe morreu e ela se tornou o alvo de seu pai, falou que fugiu e o porquê, sobre seu trabalho, como se encontrou na arte de cozinhar, sobre seu amigo Gustav, sobre o chef Alberto e como as coisas pareciam se encaminhar, até o chef sai e entra um outro e como foi o seu encontro com ele, como ela se sentiu, a sensação, como era pior que antes.

Natali não entende o porque, mas quando ela começou a falar, as palavras saíram com tanta facilidade que ela até ficou assustada ao terminar de contar, mas, ao mesmo tempo sentiu que fez a coisa certa, que deveria contar, principalmente para Persia a sua frente, ela se sentiu verdadeiramente segura diante dela pela primeira vez, que poderia confiar nela, naquele momento, era uma sensação diferente, apesar de se conhecerem a um bom tempo, de que dentro todos os servos, era apenas com Persia que ela falava sem necessidade de se sentir obrigada a isso, um nó na garganta sempre segurava as palavras que queria dizer, sentia também um peso enorme que a segurava no lugar, mesmo quando queria se aproximar, mas diante da visão que teve durante o dia, entre Lavínia e suas servas, entre essas mesmas servas, mesmo que não admitisse em voz alta, ela queria uma relação assim, e Persia era a escolha certa para isso, ela sempre se sentiu segura diante dela, mas o seu nervosismo, a desconfiança que era gerada por esse medo, a sensação horrível que sempre sentia, tudo isso a fazia agir ao contrário do que de fato queria.

Persia prestou atenção sem interromper, mesmo quando parecia difícil para Natali, ela escutou atentamente, Natali não a estava mais encarando nos olhos, estava esperando para ouvir o que Persia iria dizer, a forma que reagiria, ela olhava para o chão, diretamente para os pés de Persia, enquanto ela segurava os próprios dedos com as mãos apoiadas sobre o colo, os apertando sem controle, esperando que por alguma razão ela se levantaria, e iria embora e os seus temores se mostrariam corretos, mas não foi isso o que aconteceu, em vez disso, duas mãos surgiram e seguraram as suas, ela ergueu o rosto novamente, Persia sorria gentilmente e de forma decidida.

A Vilã Quer Salvar A Santa (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora