Capítulo 32

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Em meio a floresta em uma pequena clareira um pouco mais distante da mina, cavaleiros feéricos chegavam com prisioneiros, alguns vinham lentamente caminhando por entre as árvores, e outros saltavam sobre os galhos com crianças em seus braços até esse acampamento improvisado para cuidar dos feridos, havia uma tenda grande o suficiente para abrigar praticamente todos, e muitos estavam bastante machucados, desnutridos, mas acima de tudo traumatizados, olhares perdidos, rostos cheios de um vazio angustiante, os mais velhos e idosos ainda esboçaram algumas poucas reações, sem relutância alguma faziam o que lhes era pedido durante sua avaliação feita por outros feéricos que não eram cavaleiros, eles perceberam que suas armas deixavam os prisioneiros mais nervosos, ainda que sentissem estarem sendo libertos, seus corpos regiam tremulamente a qualquer tipo de arma, Ferbos estava mais preocupado com a garota que havia trazido, desde que chegaram ela estava isola sobre um tronco em meio a chuva, ele tentou a levar para debaixo da tenda, mas ela preferia ficar na chuva, senti-la parecia fazer a garota se acalmar de alguma forma, ela ainda estava pensando em Cássia e em como queria ser como ela, ou que alguém como ela não seria derrotada, esses pensamentos povoavam a sua mente cada vez mais e Ferbos não poderia imaginar, ele decidiu apenas não insistir e permitir que ela ficasse onde queria, e apenas a observava, Andrazia resolveu chegar mais perto e a garota apenas a ignorava, ela então perguntou se poderia ver se ela estava bem e não obteve resposta, mesmo preferindo o consentimento claro da menina, a preocupação lhe compeliu a agir e erguendo seu cetro, proferindo palavras sibiladas, após passados alguns segundos diante da garota, Andrazia se levanta e vai até Ferbos, se sentando ao seu lado que até então estava de pé, mas em respeito a ela também se senta, ele espera escutar com hesitação péssimas noticias sobre o estado da garota, mas Andrazia sorri olhando para a direção onde se encontrava a menina.

Andrazia - Apesar de sua condição não ser a ideal, comparada aos outros não é tão grave, o que é surpreendente, mas independente disso, levará muito tempo para que ela e os outros consigam viver normalmente. Ferbos - Eu imaginei que o que encontraríamos não seria fácil de encarar, mas não esperava algo dessa magnitude. - Seu rosto sereno vai ficando carrancudo - . Ferbos - Deveríamos ter agido mais rapidamente como Gro queria. - Ela se mantém sorridente, o que o desarma novamente - .Andrazia - Não estávamos preparados, teríamos morrido e não teríamos salvo ninguém, você está encarando isso da maneira errada, olhe para eles, estão vivos, vamos nos ater a isso. Ferbos - Não participei de muitas batalhas na vida, na verdade, apenas essa, eu almejava isso e quando por fim o faço, eu fraquejei. - Sua mente traz as lembranças da invasão, quando ele estava apenas ajudando a recolher frutas das árvores segurando um cesto os fundos da casa de Cássia, quando por fim ouviu gritos e som de batalha, ele entrega o cesto para uma garota que o ajudava e quando foi até a direção de onde vinha o barulho, viu os corpos que o deixaram paralisado por alguns segundos, até que um amigo o defendeu de ser atingido pelas costas o que o fez voltar a si ao escutar o golpe pesado e seu amigo caindo ao seu lado - . Ferbos - Muitos amigos morreram pela minha inabilidade, seu eu não fosse da família de Cássia, duvido que teria essa posição, ela provavelmente não quer minha ajuda, por isso sempre me dispensa quando tem a oportunidade. Andrazia - Não queira ter esse tipo de experiência, você não é mais fraco por ter vivido até agora de forma mais tranquila que o resto de nós, a maioria só viveu essa violência e não conhece muita coisa além dela, são mãos como as suas que não estão manchadas que servirão para construir coisas boas, por isso ela o mantém por perto, você a lembrar de que haverá um depois.

Ferbos tem uma lembrança de sua infância, quando ainda era uma criança e havia acabado de se mudar do interior de Argos para viver mais próximo de sua prima Cássia que era muito mais alta que ele, já tendo participado de muitas lutas, ela trajava sua armadura, até então ele só se lembrava de ter visto ela usando aquela coisa nas poucas vezes que pode visita-la ou foi visitado, o olhar de Cássia estava perdido enquanto os dois caminhavam por uma estrada de terra, havia várias ruínas ao redor deles, ela caminhava com o punho apoiado no cabo da espada na cintura olhando para os escombros, enquanto ele pulava alegremente o que para ela não fazia muito sentido.

Ferbos - O que aconteceu aqui? Cássia - Uma fera descontrolada surgiu e esse foi o resultado.

Ferbos para ao lado de uma mureta a beira da estrada, em ruínas com pedras espalhadas, Cássia nem havia percebido até olhar para o lado e não vê-lo mais, quando se volta para trás ele está recolocando as pedras sorridente e obstinado, Cássia se aproxima.

Cássia - O que está fazendo Ferbos? Ferbos - Consertando. Cássia - Mas por quê? Ferbos - Porque você parecia triste e não conseguia ver como ainda é bonito, quero mostrar a você como vai ficar. - Cássia sorri de canto encarando a lógica simples de uma criança - . Ferbos - Não é porque estão quebradas que não servem mais, é só consertar os cantos e encaixar, não precisamos desistir de nada, não importa quantas vezes caia é só refazer.

Cássia por fim sorriu, sua mão cedeu do punho da espada, aquelas palavras simples de uma criança a fizeram relaxar um pouco. A partir daquele momento, a fim de realizar o sonho de Ferbos, ela juntou os moradores e cavaleiros disponíveis e aos poucos o vilarejo destruído foi ressurgindo, Cássia não usava sua típica armadura durante esses momentos, não quando estava com ele, não naquele lugar. Voltando para o agora.

Andrazia - Vamos ajudar essas pessoas, não iremos desistir, ainda que leve muito tempo. Febos - Você tem razão. Andrazia - Geralmente eu tenho.

Várias crianças enfim estão comendo, há um garotinho menor que segura um pedaço de trapo velho contra o corpo afastado dos outros no canto da tenda, não parecendo querer se aproximar dos outros, principalmente dos adultos para pegar comida, a garota que ainda estava na chuva percebe seu medo e excitação. Ela parece hesitar por alguns segundos, até que se levanta e vai até onde está a comida, pega alguns pedaços de pão e se senta ao lado do menino que se afasta um pouco, ela deixa os pedaços de pão no chão e volta para onde estava antes com alguns pães em sua mão, leva um tempo, mas a fome fala mais alto e o garoto pega.

Andrazia - Vê, eles não se renderam, por que nós o faríamos? - Ferbos abre um sorriso largo com lágrimas escorrendo de seus olhos marejados - . Ferbos - Você realmente tem razão. - Sentada ao seu lado, ela passa um de seus braços em volta de sua cintura e apoia sua cabeça em seu ombro - . Andrazia - Bem... Geralmente...

A Vilã Quer Salvar A Santa (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora