Capítulo 34

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Três anos haviam se passado, os vilarejos se tornaram mais desenvolvidos, haviam muralhas, os moradores passaram a receber treinamento, não apenas de combate, mas treinavam rotas de fuga, como preparar armadilhas elaboradas, como identificar rastros e possuíam um sistema de alarme conhecido apenas por eles utilizando pássaros de penugens azuis, inspirados pelos pássaros de Cássia, o semblante da maioria era mais sério, mas eles não perderam seu amor pela vida, na verdade, a amavam ainda mais, porém alguns ainda carregavam os traumas do que haviam vivido, sempre olhando para os cantos, com medo da própria sombra, nos casos mais extremos eles mal saiam de casa, ou se sentiam uma angústia sufocante e aperto no peito, uma sensação de morte sempre que se aproximavam de lugares escuros e desconhecidos, principalmente grutas e cavernas, alguns tinham pesadelos com relação ao que viveram. Sempre que estranhos chegavam  aos vilarejos onde alguns dos que vivenciaram os horrores viviam, esses se escondiam, ou se afastavam observando de longe com desconfiança, principalmente se eram humanos. 

Cássia treinou um grupo especial e colocou cada um como líder em cada vilarejo com tropas menores que faziam a guarda diariamente, apesar dos dias pacíficos, eles estavam sempre atentos, ela tomou como aprendizes algumas das crianças recuperadas por insistência de Ferbos, Andrazia e as próprias crianças, ela havia permitido, com tanto que fossem avaliadas por Balor a quem ela confiava e sabia que seria sincero, por mais duro que isso fosse, a decisão tomada por ele, teria de ser respeitada, muitas das crianças foram dispensadas, restando algumas poucas, entre elas, a garota de olhos âmbar que não conseguia se lembrar de seu próprio nome, passaram a se referir a ela como Rassvet, que tinha seus olhos voltando para Cássia sempre com admiração, a mente de Cássia ainda era tomada por pensamentos relacionados ao homem responsável por tudo isso, um marquês humano chamado Elijah Kretin e pelo fato de que muitos dos moradores raptados não foram encontrados, as pistas conseguidas por ela só a levaram a recuperar alguns, mas muitos ainda continuavam desaparecidos, ela não sabia se estavam mortos, às vezes se convencia que sim, ou que deveria esquecer, mas suas noites mal dormidas revelavam que ela não conseguia superar.

Rassvet treinava com diligência, sempre acordava ainda no crepúsculo e era a última das crianças a dormir, ela falava descontraidamente com Ferbos e Gro, mas era cordial com Balor e Andrazia, das poucas vezes que conseguia falar com Cássia era como se ela estivesse fazendo um relatório, sempre mantinha uma distância respeitosa colocando-a num pedestal, Cássia a evitava ao máximo, temendo alimentar alguma coisa, ela sentia em seu íntimo que se desse alguma atenção a garota estaria cometendo algum erro, ela não entendia o porque, mas era como se a cada interação mínima ela nutrisse Rassvet negativamente, pois cada vez mais que ela recebia atenção, o número de machucados devido ao treinamento aumentava, ela sempre estava falando com qualquer um sobre Cássia, como a admirava e como ela era incrível. 

Em uma tarde Rassvet voltava do seu treinamento e ao longe viu um cavaleiro desconhecido conversado com Cássia, sua curiosidade falou mais alto e ela se escondeu, ficando surpresa por Cássia não percebê-la se perguntando se havia se tornado tão boa quanto ela ou se Cássia estava distraída demais para perceber ou se importar, Rassvet ficou paralisada ao ver a expressão de Cássia, pera ela Cássia parecia surpresa e pensativa encarando o cavaleiro a sua frente, seu corpo não se moveu por alguns segundos que pareceram uma eternidade, por fim Cássia falou.

Cássia - Eu vou sozinha, não conte aos outros. Cavaleiro - Mas senhora, isso é muito perigoso. Cássia - É uma ordem!. Cavaleiro - Entendido, por favor senhora, tome cuidado. Cássia - Se eu não voltar em um ano, fale para os outros. Cavaleiro - Eles irão estranhar sua ausência por tanto tempo. Cássia - Falarei com Ferbos sobre isso, ele e você são os únicos que saberão. - Cássia despensa o cavaleiro e depois se retira com passos firmes em direção a sua casa, Rassvet está com as mãos pressionadas sobre sua boca para evitar fazer algum barulho, ela está muito assustada - . Rassvet - Sozinha? Perigoso? Ela pode sumir por um ano? Para onde ela vai? O que ela vai fazer? E se ela não voltar? E se acontecer algo? Eu não posso permitir isso! Ela não pode ir, pelo menos não sozinha, não sem mim.

Rassvet vai até o seu alojamento e prepara uma mochila simples com poucas coisas e a deixa embaixo de sua cama, ela planejava sair ainda mais cedo para treinar e assim que avistasse Cássia daria um jeito de segui-la. No seu escritório Cássia havia chamado apenas Ferbos para conversar.

Ferbos - Você tem certeza do que ele está falando? Cássia - Ele não é descuidado, você sabe, além do mais, ainda que fosse eu iria do mesmo jeito, é o nosso povo, se eles estiverem lá, eu preciso confirmar. Ferbos - Mas então, por que não recebemos nenhuma notícia há três anos? Isso esta muito estranho. Cássia - Nada do que você me falar irá me convencer, até eu voltar, se é que vou voltar, você estará no comando, se precisar de ajuda, pode pedir para Andrazia. - Cássia dá um sorriso malicioso - . Ferbos - Não sei o que está insinuando, mas somos apenas amigos. Cássia - Se isso não for uma desculpa e você estiver falando sério, eu sinto muita pena dela. Febos - Eu não entendo por que você não pode simplesmente deixar isso pra lá? Eu sei que parece algo horrível de se dizer, mas eu não quero que você se coloque em risco, você poderia simplesmente parar de lutar e tentar ser feliz. Cássia - Eu perdi a minha chance de felicidade a muito tempo, seu pai deve ter te contado. Ferbos - Você ainda pensa nele? Se ele pode estar vivo? Cássia - Já perdi essa esperança, já fazem décadas que ele saiu em missão, eu não pode impedi-lo, ou salvá-lo, mas posso salvar nosso povo, ou pelo menos saber o porquê de nunca termos recebido notícias. Ferbos - Mas é realmente estranho, se eles foram libertos, por que nunca entraram em contato? Cássia - E isso que vou descobrir, aliás, eu preciso ir disfarçada, já que estou entrando no território de outra pessoa, por tanto, não posso levar minha armadura, ou espada, é claro que não irei desprotegida, vou colocar uma cota de malha por baixo da roupa e levar algumas facas e uma lança pequena, disfarçada de cetro. Ferbos - Mas isso não faz sentido, ainda é o território de Argos, por que você precisa se disfarçar? Cássia - Eu não sei, só sinto que não posso dar as caras assim, algo me diz que será melhor assim. Ferbos - Assim que subir em alguma carruagem vão saber quem você é. Cássia - Por isso eu vou andando até o próximo povoado nas terras do Hoflich, de lá eu pego uma carruagem simples, talvez até uma carona com alguém de passagem. - Os dois se despedem, graças ao nervosismo de ambos e a situação, Rassvet não é percebida, ela estava escondida escutando do lado de fora abaixo do parapeito da janela - . '' As terras do marquês Hoflich? Eu nunca fui até lá, parece ser um lugar pacífico segundo Andrazia. ''

No dia seguinte, Cássia usando um vestido simples e uma bolsa de couro usando um cetro como bengala, sai no crepúsculo, de longe ela é observada por Rassvet que estava escondida entre arbustos, usando uma máscara de pano que cobria a boca, uma capa azulada e um cetro decorado tentando parecer uma maga, sabendo sobre as rotas de fuga escondidas no bosque, ela imagina para qual estrada Cássia está indo, ela então dar a volta e toma outro caminho. Horas depois Rassvet está chegando na estrada de terra principal, em passos rápidos e constantes sem demonstrar cansaço, por entre as gramas altas ela avista saindo de uma bifurcação do lado contrário um senhor em uma carroça grande com uma lona de tecido, usada para levar viajantes ou suprimentos, dois javalis enormes de pelagem vermelha estão atrelados aos arreios, ela para e observa por um tempo, o senhor para a beira da estrada e ao longe um pequeno grupo de pessoas se aproxima, ao fundo ela reconhece Cássia, Rassvet se ergue e corre para a carroça, antes que Cássia chegue perto o suficiente ela para ao lado do senhor e pergunta se a espaço para ela também, o senhor assente com a cabeça, ela não sobe de imediato e para ao lado da carroça, decide esperar os outros que estão com bagagens embarcarem primeiro, Cássia para ao lado dela indicando fazer o mesmo, serena como sempre, Rassvet fica nervosa e abaixa a cabeça torcendo para o capuz esconder bem o seu rosto não confiando apenas na máscara sobre a boca, por fim todos embarcam rezando elas duas, o senhor pode que antes de subirem que elas paguem a taxa, Cássia pega a sua bolsinha e Rassvet não tendo se preparado para isso se baixa apressadamente vasculhando sua valise de couro, alguns minutos se passam e o senhor diz que se ela não tiver o pagamento não ira leva-la e que ele precisar sair de imediato, Cássia então olhando para o desespero da garota procurando em sua bolsa, diz que ira pagar a passagem dela e que a garota pode procurar com calma dentro da bolsa enquanto viajam para que ela quite sua divida, às duas então sobem e Rassvet se senta no fim da carroça de costas para Cássia que está recostada na lona olhando para ela enquanto a mesma ainda procura o dinheiro na valise, Cássia calmamente olhando para ela pergunta de forma calma e sorridente.

Cássia - Então Rassvet, não está quente usando toda essa roupa? Rassvet - Na verdade, não.... - Rassvet percebe seu erro, e assustada se vira para trás apressadamente encarando Cássia que ainda está serena - . 

A Vilã Quer Salvar A Santa (Volume 1)Onde histórias criam vida. Descubra agora