Entre Mundos (Deuses Elementais)

Final

O tempo passava de forma estranha em Ravania.

Cristal ainda estava se acostumando à sua nova realidade, tentando entender o que significava ser uma deusa. No começo, foi difícil. O peso da responsabilidade, o dever de dar vida às almas que chegavam ao mundo mortal... Era um trabalho ininterrupto, mas de alguma forma, ela se sentia preenchida ao fazer aquilo.

Raven a treinava todos os dias, rigoroso e meticuloso. Ele a ensinava a controlar sua energia vital, a sentir o fluxo da criação e a compreender a delicada teia que ligava todas as almas ao ciclo da vida.

No entanto, sua frieza e olhar calculista faziam com que Cristal nunca soubesse exatamente o que ele pensava.

A única certeza que ela tinha era que os outros deuses estavam fascinados por sua presença.

Desde que começou a interagir mais em Ravania, Cristal conheceu diversos deuses, cada um com uma personalidade distinta e um interesse particular por ela. Talvez fosse o fato de ser a recém-chegada, ou talvez a natureza da Deusa da Vida naturalmente atraísse os outros.

O Deus do Conhecimento, Arkan, sempre a chamava para conversar, curioso sobre sua mente ainda tão humana. Ele fazia perguntas intermináveis sobre como era sentir emoções tão intensas e passageiras, como se tentasse desvendar um mistério.

O Deus da Guerra, Kael, a admirava por sua força de vontade. Embora Cristal não fosse uma guerreira, ele respeitava seu espírito e insistia para que treinassem juntos. Ele gostava de provocá-la, testando seus reflexos e brincando sobre como uma deusa deveria saber se defender.

Cristal tinha que se fingir de burra e frágil em todos os momentos, mas sua personalidade e sentimentos faziam os Deuses notarem que ela é diferente.

Até mesmo a Deusa da Beleza, Selene, se aproximou, encantada pela forma como Cristal parecia irradiar uma energia única, diferente dos outros deuses.

Raven observava tudo.

Ele via como os deuses se aproximavam dela, como seus olhares demoravam demais, como seus toques eram sutis, mas carregados de interesse. E aquilo o incomodava.

— Parece que você está popular — Raven comentou, com a voz seca, enquanto caminhavam pelo jardim celestial.

Cristal sorriu de canto, percebendo o tom.

— Algum problema com isso?

— Você é a Deusa da Vida. Não deveria se distrair com essas interações desnecessárias.

Ela riu.

— Então é isso? Você está com ciúmes?

Ele parou abruptamente, olhando para ela com sua expressão séria de sempre.

— Deuses não sentem ciúmes.

Cristal arqueou uma sobrancelha.

— Não? Porque sua expressão diz o contrário.

Raven ficou em silêncio por um momento antes de desviar o olhar.

— Apenas não gosto de desperdício de tempo.

Ela cruzou os braços, se divertindo com a situação.

— Eu entendo meu trabalho, Raven. Mas isso não significa que eu precise viver isolada. Você mesmo me disse que deuses demoram para sentir algo. E se for assim, por que você se importa tanto?

Ele permaneceu em silêncio.

Cristal suspirou, encarando-o com sinceridade.

— Você quer saber a verdade, Raven? Desde que te vi pela primeira vez, eu te desejei.