Capítulo 17

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Foram longos dias naquele inferno, somente água e pão todas as manhãs. Alaric fazia questão de ir me humilhar. Dia após dia esperando a morte chegar...

Eu já estava sem forças. Aquele lugar era frio, úmido, tinha como companhia os ratos. Só havia uma pequena janela por onde o sol entrava e dissipava escuridão. Só recebia pão e água por dia. A madame Elizabeth levava uma refeição decente, mas só por três dias, fui saber depois que Alaric havia descoberto o que sua mãe fazia e a mandou para longe de Londres.
Quanta crueldade. Não poupava nem a mãe.

Não fazia ideia de quantos dias eu já estava ali, eu estava deitada numa esteira velha e úmida que havia ali no canto da parede. Sentia uma dor forte no peito e uma tosse que estava dias me incomodando.
Ouvi passos e logo a cela daquele inferno se abriu. Eu sabia de quem se tratava. Alaric ia todos os dias me atormentar. Já não bastava me deixar secar ali, ele tinha que ir certificar que eu estava péssima. Eu estava sabendo lhe dá com pão e água, mas a presença dele me azucrinava.

—Bom dia, milady! Como estás passando?
Eu permaneci em silêncio. Pelo canto do olho vi quando se abaixou diante de mim. —Não está aguentando mais, não é? —continuei em silêncio. —Seu tempo está acabando, Alana. Vai morrer. Depende de você. Posso tirar você daqui colocá-la num quarto confortável, te oferecer um banquete. Só precisa se entregar a mim. Se entregue a mim, Alana.
Esperei por uns segundos e fui me levantando devagar, quase sem forças, mas eu precisava olhar em seus olhos para falar o que eu queria naquele momento. Eu e ele nos olhamos fixamente.

—Eu...prefiro morrer...a me entregar a você!
Seus olhos fumegaram de raiva, por um momento achei que avançaria em meu pescoço e me mataria sufocada pelas suas próprias mãos. Para mim seria ótimo. Acabaria logo com todo aquele inferno.
Mas sua reação foi inusitada. Ele simplesmente se levantou sem tirar os olhos de mim.

—Como quiser. Adeus, senhorita.
E saiu sem olhar para trás.
Então é isso?
Ia mesmo me deixar morrer ali?
Vi quando a cela se fechou e ouvi seus passos se distanciando cada vez mais.
Por um momento, me bateu um arrependimento.
Não era nada demais se deitar com o rei. Só uma noite. Logo eu estaria livre. Voltaria para a aldeia, pegava meu tio e me mandar para Espanha com ele. Pronto. Nunca mais voltaria a Londres, nunca mais veria o rei outra vez...

Mas como um choque, voltei ao normal. E minha dignidade? Meu caráter como mulher? Não era só isso, eu não era mais pura. E no fundo eu estava apavorada, com que o rei poderia fazer comigo, ja que não contei a verdade.
Raciocinei.Eu estava ali por dias a pão e água só porque não aceitei me deitar com ele...imagina o que ele faria quando descobrisse que eu o enganei...?
Madre mia .Ayudame!
Minha respiração foi acelerando, meu coração palpitava querendo saltar pela boca, a tosse insistia incontrolável, e aquela dor aguda no peito estava me sufocando, minha visão foi escurecendo e...

***

—Ela ainda não acordou?
A voz era muito familiar. Impossível não saber de quem se tratava. Mas o que foi que houve? E por que não conseguia abrir os olhos?

—Ainda não, majestade.
Katrine tinha uma voz meiga e fina.

—Onde está o tio dela?
O que? Tio Rick está aqui?

—Eu pedi para ir descansar um pouco, majestade. Ele não saiu do lado dela nesses dois dias.
Dois dias? Eu estou desacordada há dois dias?
Mas o que houve?
Eu tentava abrir os olhos, mas não conseguia...droga. As vozes foram sumindo...sumindo...sumindo...

***

—... para gente ir para Espanha, filha.
Tio Rick?
Impossível não reconhecer aquela voz mirrada. Ele estava ali, eu estava ouvindo. E por mais que eu tentasse, não conseguia acordar.
—Eu te amo, Alana.
Eu sei meu tio querido.
— Você precisa acordar.
Eu estou tentando...
E foi sumindo...sumindo...

***

Abri os olhos lentamente. Graças a Deus. Eu estava viva. Olhei ao redor e não vi ninguém.
Como assim?
Estavam ali nesse instante. Ouvi a voz deles. Levantei meio corpo da cama procurando pelo tio Rick. Ele estava falando comigo, para onde ele foi?
Minha cabeça girava um pouco, mas consegui ficar sentada na cama com os pés no chão. Estava pronta para levantar quando Katrine chegou e se espantou quando me viu ali.

—Graças a Deus! Você acordou!
Veio em minha direção e me impediu de levantar-se.

—O que houve? Onde está meu tio? Ele estava falando comigo e quando acordei não o vi.
Ela me olhou franzindo o cenho.
—Falando contigo? Como assim?

—Eu estava ouvindo tudo. Ele pediu para eu acordar e acordei. Mas não o vejo. Onde ele está?
Onde eu estava? Pelo que me lembrava, no dia anterior eu estava trancada na masmorra do palácio. Acordei no dia seguinte no quarto preparado para mim, no conforto daquela cama e tudo mais.

—Alana, seu tio não está mais aqui há três dias.
Olhei para ela confusa. Implorando por uma explicação.
—Seu tio ficou aqui com você durante esses dias que esteve desacordada...

—Esses dias?

—Sim. Uma semana sob cuidados médicos. A suspeita era que a doença era contagiosa, mas não sabia dizer o que era de fato. Você queimava de febre, gemia de dor, tossia tanto que...botava sangue pela boca.
Dias?Para mim foi como se fosse de ontem para hoje.
—Mas está melhor. Graças a um chá de ervas que o médico te dava todos os dias.
Cocei a cabeça confusa.

—Onde está meu tio?
Ela me olhou desanimada.

—Ele esteve aqui o tempo todo. Mas...

—Mas o que, Katrine?

—Ele foi exigir do rei para que o deixasse levar você daqui. O acusou de ser o culpado de tudo isso.
Levei a mão a boca incrédula. Por que diabos tio Rick fez aquilo? Assinou sua sentença de morte.

—Katrine...
Ela viu meu olhar desesperador.

—Não. O rei apenas o expulsou do palácio, e disse que nunca mais ele vai te ver novamente só pelo atrevimento de confrontar o rei.
Respirei de alívio, porém não fiquei tranquila.
—Seu tio teve sorte por rei não mandar que o matasse, Alana.
Olhei para ela angustiada.
Agradecendo a Deus pelo rei ter tido misericórdia pela vida do tio Rick... 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora