Capítulo 32

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O presente...

Foram os dias mais confortáveis e tranquilos que eu passei no palácio.
Brian havia sido nomeado Conde e o rei o convidou para fazer parte da corte inglesa. E todos os dias a gente se encontrava na beira do lago para falarmos da nossa vida, do nosso filho, do plano de fuga. Tudo estava indo bem.
Quero dizer, fora a parte em que tinha que ver Brian e sua esposa passeando pelo palácio e fingir que eram dois desconhecidos para mim..., mas no fim da tarde, sua atenção era toda para mim e para o nosso bebê que já estava pesando uma tonelada. Eu estava imensa, parecia que eu havia engolido uma melancia. A cada dia que passava, meu bebê ficava ainda mais eufórico, dava uns chutes tão fortes que em alguns momentos pensava que já ia nascer. Mas ainda não era o tempo, faltavam mais alguns meses.

Eu caminhava lentamente pelo corredor em direção ao meu quarto depois de ter me encontrado com Brian no fim daquela tarde. Tudo estava sendo muito bem calculado e com astúcia. Brian já havia arrumado um lugar para eu ficar, uma cabana bem escondida que havia na floresta, até ter nosso filho e até encontrar tio Rick, que não estava sendo fácil.
A cabana ficava bem no centro da floresta, mas ninguém sabia da existência dela, até porque, havia boatos de que um mal morava na floresta, porque muitos que entraram nela, nunca mais retornaram para casa, e quem se atreveria a ir até lá?
Só Brian. Forte e corajoso. Mas a verdade é que, a pessoa que morava naquela cabana era uma feiticeira a quem todos temiam. Por isso ninguém ia até lá. Brian era o único que a conhecia..., mas nunca me contou de onde a conheceu...também nunca perguntei...não importava. Logo eu estaria longe daquele palácio. Ficaria escondida até o rei desistir de me encontrar, só então, partiria para Espanha com meu tio, Brian e nosso filho...assim ele havia me prometido...resolvi confiar nele outra vez.

Ouvi passos além dos meus atrás de mim, me virei e deparei com Alaric vindo em minha direção. Meu coração gelou, desde quando ele vinha me seguindo?

—Te assustei?
Perguntou delicadamente.
Eu sorri simpática. Durante todo aquele tempo, eu tinha que suportar os galanteios do rei, fazê-lo acreditar que eu havia desistido de fugir dele, Brian me aconselhou ser simpática e não rejeitar seus presentes. E foram muitos.
Um certo dia a rainha havia me perguntado se o filho que eu esperava era do rei, pois paparicava mais a mim do que ela, que esperava o herdeiro.
Disse a verdade, nem toda a verdade, disse apenas que meu filho não era do rei e que não sabia o motivo pelo qual o rei me dava tantos presentes, não fazia sentido, pois eu não era sua parente, muito menos amante.

—Acalme-se, majestade! Entre o rei e eu não existe nada.
Finalizei nossa conversa. Ela se virou e se foi.
Acho que acreditou...

—Perdoe-me. Não foi minha intenção assustá-la.
Alaric segurou em minhas mãos levando-as até seus lábios.

—Está tudo bem.
Respondi forçando um sorriso.

—Me acompanha para um passeio até o lago?

É de lá que estou vindo...

—Bom, estou um pouco exausta. Estava costurando roupinhas para o meu...bebê com Katrine.

—É sobre o seu bebê que eu gostaria de falar. Por isso te peço um pouco de atenção.
Mais?
Era o que eu vinha fazendo todos aqueles meses.
Mas me despertou a curiosidade. O que ele queria falar sobre a criança?

—Está bem. Então vamos.

Estávamos na metade do caminho e não havíamos trocados uma palavra. Alaric segurava minha mão me conduzindo ao lago, eu estava ali a poucos minutos, com Brian e tudo era mais lindo. Com Alaric era só...o lago. Quanta diferença...

—Já estamos aqui e não me disse nada.
Ele permaneceu em silêncio. Estava tão misterioso.
Soltou minha mão e alargou os passos para frente. Parei curiosa. O que ele pretendia?
Da última vez que estava assim, me surpreendeu com um broche de ouro detalhado com um rubi. Que me fez usar no banquete que ofereceu para o Conde Crawford, junto com o vestido de cetim luxuoso. Naquela mesma noite, ele havia me roubado um beijo.
Ficamos uns instantes olhando um para o outro. Fiquei sem reação. Não sabia o que dizer.
Katrine havia me perguntado se eu sentir alguma coisa.

—Claro que não, Katrine. Tive vontade de vomitar.
Minha resposta para aquela pergunta absurda.

—Sabe que esse lago significa muito para mim.
Alaric olhava para o lago saudoso.

—Claro que sei.
E o que meu filho tinha a ver?
Ele girou o corpo para me encarar. Segurava algo na mão. Um papel.

—Alana, eu quero cuidar de você...
Toda vez ele dizia isso
—Eu quero cuidar do seu filho. Quero que ele cresça nesse palácio, quero que ele seja tratado como um príncipe...
Pobre Alaric. Mal sabia que em breve eu estaria longe com meu filho...
—Quero mantê-los perto de mim. Mesmo eu não podendo te abraçar, te beijar, tê-la em meus braços...só a sua presença me ajuda a me manter forte...
De novo a mesma história de que minha presença era importante para suprir a dor da perda do pai e blá blá blá...
—Esse lago é o presente de maior valor que darei a alguém.

—Majestade, não preciso de mais presentes. Já me deu tantos.

—Mas esse não é para você. É para seu filho!
Minha voz embargou. Ouvi bem?
Ele estendeu o papel para mim.
—Aqui está um testamento com minha assinatura e a assinatura do mestrado. É para o seu filho!
Eu não sabia o que falar. As palavras fugiram.
O que ele fez?
O lago foi um presente do seu pai, e naquele momento estava passando para o meu filho?

—Majestade, eu...não posso. Foi um presente do rei Henrique para vossa majestade. Não é justo!

—Por favor, aceite!
Olhei para o lago e em seguida para Alaric.
—Aceite, Alana.
Um lago só para o meu filho, presente do rei da Inglaterra...eu não podia aceitar.

"Não rejeite seus presentes. Aceite tudo que o rei vier a te oferecer..."

As palavras de Brian surgiram em meu pensamento. Lentamente estendi a mão e peguei o testamento, passei os olhos rápido, vi a assinatura do rei e do mestrado. Ainda não acreditava.

—Obrigada...majestade.
Foi o que saiu.
Ele segurou minha mão sem tirar seus olhos dos meus.

—Deixa eu cuidar de vocês, Alana.
Ficamos nos olhando por uns segundos. Até um oficial chegar e quebrar à tensão.

—Majestade, desculpe interromper, mas a corte francesa se aproxima.

—Rei Francis outra vez?
Também não gostei, rei Francis era um chato impertinente. Sempre me enchia com seus galanteios.
—Estou indo.
Respondeu para o oficial, em seguida voltou a me olhar.
—Pense nisso, Alana.
Beijou minha mão e saiu seguido pelo guarda.
Fiquei relendo o papel ainda sem acreditar. Alaric presenteou meu filho com um lago, que ganhou do seu pai...Por quê?

—Ele realmente te ama...
Foi o que Katrine respondeu mais tarde... 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora