Capítulo 40

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Quatro meses haviam se passado e eu ainda não tinha notícias do Brian. Não fazia ideia do que estava acontecendo. Não respondeu minha carta até àquela altura e eu não sabia se estava em Gênova ou se estava na Irlanda com o lorde Leonel, já que foi ele quem encontrou o ouro do rei Luís. Na verdade, eu não acreditava nessa lenda, até ouvir os boatos de que fora encontrado, e pior, quem o encontrou. Será que chegara aos ouvidos de Brian e ele partiu para Irlanda?
O fato era que no Palácio não estava nada bom. Alaric e seu ódio eterno pelos Lionel só aumentava a cada dia. Mal o via pelo palácio, isso era bom, pois não tinha tempo para me torturar como gostava de fazer sempre que podia. Ficava o tempo inteiro trancado em seu gabinete preocupado com o que podia vir acontecer agora que o poder da Irlanda não estava mais em suas mãos. Nem se quer queria fazer uma aliança, pois o governante não era nada mais que o pai de Brian Leonel.

Enquanto eu caminhava pelo jardim, observava tio Rick com Charles no colo, jogando-o de um lado para o outro, para cima, para baixo. Se ouvia as gargalhadas de Charles ao longe. Eu sorri despercebida. Apesar de estarmos sendo forçados a permanecer em Londres, tio Rick parecia feliz.

—Bom dia, tio.
Cumprimentei assim que me aproximei. Ele me olhou e sorriu.

—Bom dia. Charles já estava acordado e você dormia. Então o peguei para tomar o sol da manhã.

—Não se preocupe.
Dei um beijo em Charles que me olhou sorrindo. Alisei seu rostinho, pensativa. Como seria o futuro do meu pequeno?

—Algo te aborrece, filha?
Tio Rick realmente me conhecia.

—Quatro meses, tio. E nenhumas notícias de Brian.

—Essas coisas são demoradas, filha. Logo que ele tiver um tempo mandará notícias.

—Não sei, tio. O palácio está de cabeça para baixo, o rei está soltando seu veneno para todo o canto. E agora, com o lorde Lionel governando Irlanda. Decretará guerra.

—Podendo fazer uma aliança com lorde Lionel.
Estalei os dentes, Charles choramingou e eu o peguei.

—Não conhece o ódio mortal que o rei tem pelo Brian. Só porque eu o amo e temos um filho juntos, Como prova do nosso amor.

—Mas ele tem te tratado mal ainda?

—Só pelo fato de nos manter aqui como garantia de que lorde Lionel não vai atacar Londres, já basta.

—Ele acredita que Brian esteja envolvido. E que esteja preparando um exército para atacar palácio.

—Mas Brian não está em Irlanda. Está em Gênova.

—Mas o rei nem imagina que Brian é o príncipe de Gênova.

—Pois é. Imagina. Lorde Lionel governando Irlanda e Brian o príncipe herdeiro do trono de Gênova. Como será que o rei vai reagir? Não quero nem pensar na confusão que será. Peço a Deus para zelar por nós. Principalmente pelo Charles.
Tio Rick suspirou e me deu um beijo a altura da cabeça.

—Deus zelará por nós!

—Alana!
Katrine se aproximava eufórica.
—O rei exige sua presença aos seus aposentos. Agora!
Díos. O que será dessa vez?

***

Alaric estava de pé ao lado da cama tomando um cálice de alguma coisa. Os últimos quatro meses foram turbulentos, pudera. Imaginei como estava aquela alma. Tudo parecia que estava fugindo do controle de suas mãos. E para completar, chegou aos seus ouvidos de que James Podolsky estava morto. Eu estava presente nesse dia, vi seu semblante mudar por completo, o que não entendi a tristeza em seu olhar. James já fora condenado à forca, escapou. Mas Alaric também não fez questão de ir ao longe para encontrá-lo, na semana seguinte recebeu a visita do cardeal, o que deixou ainda mais perturbado. Nunca ninguém havia escapado da prisão inglesa, só James. O cardeal veio justamente para argumentar sobre a "fuga "inusitada. Como?
E por qual motivo Alaric não se empenhou a procurá-lo até os confins da terra?
Alaric estava sendo observado. Caso as dúvidas se confirmassem, ele corria o risco de ser acusado de traição a própria coroa, e poderia ser condenado pela igreja católica. Podia até perder o trono...

—Estou aqui, majestade.
Ele deu mais um gole na bebida, e continuou virado de costas para mim.

—A rainha. Teve bebê.

—Não era para ser assim?
Ele ficou em silêncio por alguns instantes.

—É um menino!
Falou antes de tomar mais um gole. Girou o corpo para me olhar de frente. Dei uma olhada rápida para seu peito que estava exposto por sobre a camisa desamarrada. Mas logo me contive. Voltei meus olhos para os seus.
—Eu sempre quis ter um menino. Um herdeiro. O príncipe herdeiro.
Ele já estava bem alterado. Eu fiquei calada. Não sabia se dava os parabéns ou meus pêsames. Já que logo a rainha teria que cumprir sua pena.
O que eu não achava justo. No fundo, eu sentia que tanto James quanto a rainha eram inocentes.
—Não vai dizer nada?

—Não tenho o que dizer, majestade. Eu já disse o que penso sobre isso. Acredito na inocência dos dois. E que tudo não passou de um mal-entendido, ou de um...plano contra os dois.

—Ah Alana. És tão inocente. Há provas da traição!

—Se assim acredita...Agora não adianta mais. James está morto e logo a rainha será degolada. E vossa majestade estará vingado. Não é mesmo?
Ele me olhou atômico.

—Claro. James...fugiu da forca, mas não do destino.
Se contradize. Eu sabia que a fuga de James não foi acidental. E Alaric não olhou em meus olhos ao responder.

—Não é fácil fugir da coroa inglesa.
Eu que diga. Pensei várias vezes. Mas fora inútil. Tudo era bem vigiado e escoltado. Me aproximei de Alaric, ele permanecia em silêncio.
—Diga-me, majestade. Tens a ver com a fuga de sir James?
Me olhou desolado. Seus olhos não esconderam a verdade. Eu sabia. Alaric tinha James um irmão. Não aguentaria vê-lo pendurado numa corda até a morte. Mas, o que encabulava era que ele insistia em dizer que houve traição.

—Recebi um convite de Gênova.
Mudou de assunto ao se virar para se servir de mais um cálice.

—Gênova?
Perguntei ansiosa.

—Sim. O rei encontrou o neto perdido e vai apresentá-lo a toda realeza.
Respirei fundo com um sorriso bobo no rosto. Brian conseguiu. Está bem. Conseguiu.
—Por que o entusiasmo?
Ah se soubesse...

—Entusiasmo? Não. Só fico feliz pelo rei de Gênova.

—Feliz? Não o conhece. É um rei frio, cauteloso e impiedoso. Se me acha um monstro, milady. Porque ainda não conheceu o rei John. Estava torcendo para que morresse sem encontrar o neto bastardo. Assim, Gênova seria governado pela Inglaterra.
Deu um gole na bebida e caminhou até a sacada.
Droga.
Quando ele souber que o neto bastardo é Brian...

—Mandei fazer um vestido digno de uma rainha para você.
Voltou a ser o Alaric de sempre. Toda aquela nostalgia de minutos atrás já passou. Nem se importava mais com o nascimento do filho da rainha,nem tampouco com a morte de James.

—Para mim?

—Sim.
Girou o corpo e me encarou.
—Vais me acompanhar a Gênova, milady.
Um breve silêncio para tomar mais um gole.
—Como minha futura rainha!
Quase desfaleci.
O quê?
Como assim?
Fiquei imóvel sem reação, só encarando enquanto ele dava um sorriso meio de canto provocador... 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora