Capítulo 48

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Eu senti falta de cavalgar pelos campos floridos, sentindo o vento bater no rosto, assanhando meus cabelos. E eu estava aproveitando cada segundo com donzela, e transportei para minha infância, quando ganhei de presente...
Foi uma emoção, era o que eu sempre pedia ao meu pai, até que um dia, me surpreendeu.
Lembrei dos dias que me ensinou a montar, não tive dificuldade para aprender, em alguns dias já estava montando sozinha.
Saudosa lembrança...bons tempos quando cavalgava com meu pai pelos campos floridos...

Eu estava tão contente e empolgada que nem sabia por onde eu estava passando, até reparar no lugar reconhecido em instantes. Alaric desceu do seu cavalo mais à frente o prendendo em uma árvore. Ele me olhou e caminhou até a mim alisando donzela.

—Cavalga bem, para uma...

Silenciou olhando para mim.

—Para uma dama?

Completei sorrindo. Ele sorriu encantado.
—Graças ao meu pai.

—Posso ajudá-la a descer?

Perguntou estendendo a mão para mim.
Hesitei.Não precisava da ajuda dele, de ninguém. Oras, se sei montar sozinha, também sei descer sozinha...
Mas um fogo me consumia por dentro, olhei para sua mão estendida, eu queria tocá-la...
Estendi minha mão segurando a dele, atravessei a perna e praticamente me joguei.
Ele segurou na minha cintura com firmeza, e descendo lentamente, esbarrando seu corpo ao meu, nossos olhares fixos um no outro.

Dios, que se passa?

Eu estava em chamas, um fogo que se avistava ao longe.

—Está nervosa?

Perguntou certamente ao perceber minha respiração profunda e acelerada.
Não consegui responder. Só acenei com a cabeça num leve gesto negativo.
Menti.
Ele sorriu sabendo que eu estava mentindo.
Houve um breve silêncio entre nós. Só se ouvia som de pássaros cantando, do vento batendo nas folhas, das águas da catarata do rio encontrando com a cachoeira.

—Esse lugar é encantador, não acha?

Olhei ao redor.
Eu adorava aquele lugar. Desde criança. Sempre ia nadar com... Brian.

—É meu lugar favorito!

Respondi lembrando o tempo de criança.

—Meu também. Foi aqui que te vi pela primeira vez.

Olhei para ele recordando daquele dia. O maldito dia. Foi por causa daquela bofetada que me tornei sua prisioneira.

—Nem me lembre. Sinto....vergonha pela bofetada que lhe dei.

—Você não teve culpa. Só se defendeu de um, até então, desconhecido mulherengo. Fui estupidamente grosseiro com você lhe dando aquele beijo forçado.

Franzi o cenho. Era estranho demais quando reconhecia seu erro.
—Mas, não foi naquele dia que te vi pela primeira vez. Semanas antes, eu estava passando por aqui com James quando vi você saindo da trilha, montando em sua égua e saiu num galope. Nem pude acompanhar. Depois daquele dia, todos os dias, na mesma hora eu passava por aqui na esperança de vê-la novamente. Mas você não apareceu. Depois de alguns dias, finalmente vi sua égua amarrada. Desci do meu cavalo e segui a trilha. Vi você parada observando a paisagem.

—Foi nesse dia que se escondeu atrás do arbusto?

—Não. Eu estava escondido atrás de uma árvore. E achei muita graça quando você pegou um pedaço de galho para se defender.

—Aquele lagarto me assustou.

Sorrimos juntos.
Mais um breve silêncio.

—Perdão, Alana. Por tudo que eu a fiz passar. Fui orgulhoso achando que pudesse te conquistar do meu jeito. Mas minha mãe estava certa. Não devemos forçar a ninguém nos amar. Ela queria que eu aprendesse isso. Hoje eu aprendi. Infelizmente eu tive que perdê-la para descobrir que estava certa.

Ele se virou para observar tudo ao redor.

—Todos cometem erros, majestade.

Girou o corpo para me encarar.

—Nunca é tarde para se redimir. E eu quero me redimir com você, Alana.

Se aproximou um pouco mais para segurar minhas mãos. Olhou fundo nos meus olhos e respirou fundo.
—Estás livre, Alana.

Disse bem claro e em bom som.
—Vá para sua casa no vilarejo, vá para Espanha ou...vá para Gênova. Para onde forte dou minha palavra que ninguém vai impedir.

—Majestade, eu...

—Não se preocupe com a dívida do seu tio. Ele não deve nada. Poderá partir com você sem problemas. Hoje, antes de te encontrar, devolvi as escrituras da casa e do armazém para seu tio. E mesmo o lago do palácio sendo de Charles, eu não vou impedir que o leve também.

Eu não estava acreditando no que estava ouvindo. Não conseguia dizer nada, só olhava para ele sem reação.
—Eu não sou sempre assim. Fui levado pela raiva. Raiva de ter, finalmente, me apaixonado por uma mulher e não era correspondido. Eu não aceitava ser rejeitado. Sei que fazendo isso te perderei para sempre, mas eu te amo tanto que não posso e nem devo fazer você sofrer mais ainda. Não posso obrigá-la me amar. Por isso, te deixo livre desse pesar.

E foi assim, ao som dos pássaros cantando, do vento batendo nas folhas, das águas da cachoeira e olhando fixo para aquele par de olhos azuis como o mar, segurando em suas mãos quentes, que me apaixonei pelo rei da Inglaterra.
Sim,me apaixonei naquele instante, talvez já tivesse apaixonada, só que suas atitudes rudes para comigo me afastavam dele. Mas naquele momento, ele estava provando que realmente me amava, e estava sendo sincero, seus olhos comprovaram.
Eu queria beijá-lo, mas não tinha certeza se ele queria o mesmo. Umedeci meus lábios o convidando, mas ele apenas olhou para minha boca.

O que deu em mim?

Parecia que eu estava desesperada para ele me beijar.
A quem quero enganar, claro que eu estava desesperada para ele me beijar.

—Por mais que eu sinta uma vontade imensa de beijá-la, não vou fazer isso.

O que?

Mas era o que eu desejava, ansiava, esperava...

—Por quê?

—Porque não quero seu ódio, quero seu amor.

Dios, estava tendo no momento.
Será que ele não sentiu meu desejo ou estava fazendo de propósito?
Estava nítida minha vontade, eu praticamente estava me jogando em seus braços. Era de propósito, com certeza.

—Posso não o odiar mais.

Ele estreitou os olhos se fazendo de desentendido.

—Hoje. Mas amanhã irá, com certeza.

Não era possível.
—Vamos dar um mergulho?

Mergulho?
Eu estava em chamas e ele querendo apagar meu fogo.
Deu um beijo nas costas da minha mão e girou o corpo se afastando indo em direção a trilha que vai para cachoeira.

—Mas...
Não.Não estava acreditando que ele ia mesmo fazer aquilo.
Fiquei ali parada olhando-o sumir pela trilha.
Olhei ao redor tentando recuperar o fôlego e me acalmar.

O que deu em mim?

Eu queria sair correndo atrás dele, me jogar em seus braços, beijar sua boca com vontade, e derreter com seu toque, suas carícias, com seu corpo e...

—Senhorita!

Olhei assustada para ver quem me chamava. Era Harry e alguns soldados montados em seus cavalos.
—Onde está vossa majestade?

—Na...cachoeira. Dando um mergulho...

Ainda bem que Harry interrompeu meus pensamentos que iam cada vez mais profundo... 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora