Capítulo 58

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Mais de um ano se passou desde quando França tomou o domínio da Inglaterra. Rei Francis comandava tudo, só não pôde tirar o trono e o reinado de Alaric, pois era um legítimo da realeza, mas nada e nenhuma decisão deveria ser tomada sem o consentimento do rei Francis.
Nenhum gado, rebanho, sacos de arroz, trigos, nada poderia ser vendido se Francis não permitisse, nada e nem ninguém saía ou entrava em Londres sem que Francis autorizasse.
Impostos eram cobrados dez vezes mais, tudo que era investido era para o benefício da França.
Os ceifeiros dos campos trabalhavam dia e noite sem descanso para cultivar suas terras, mas as colheitas eram para Francis, todos os ouros encontrados pelos mineiros tinham que ir direto para as mãos de Francis...Francis...Francis...tudo para Francis.
Alaric só tinha que assistir a tudo calado, vendo seu povo trabalhar como escravos por um pedaço de pão e um punhado de arroz. Londres já não era mais a mesma.
O povo suplicava por ajuda, aqueles que tentassem fugir com suas famílias eram enforcados em praça pública para servirem de aviso. Não podiam fugir aos olhos de Francis.

Eu não acreditei quando vi pessoas brigando para matarem sua sede, empurrando uns aos outros para beberem água que de vez em quando caía de uma calha no meio da praça, gados, porcos, galinhas morriam de sede e fome por não terem nada para comer, já que até os farelos dos animais eram contados.
Vi crianças pedindo esmolas nas ruas a quem passasse. E quem tinha para ajudar?
Meu coração pesava vendo todo aquele sofrimento. Isso aconteceu em um dia quando resolvi dar uma volta pela cidade, para me certificar o que de fato haviam me contado. Claro, disfarçadamente. Já que o povo se revoltou contra o rei por ter se casado comigo...
Sim.A culpa foi minha.
Se eu soubesse que meu casamento com Alaric fosse causar todo aquele sofrimento, eu jamais teria dito "SIM"...
Mas vim saber disso mais tarde.
Alaric perdeu seus aliados por ter ido contra a lei. Passou por cima de todos por mim...Eu me sentia mais culpada ainda...
Ele estava sozinho e frágil. Um prato cheio para Francis que se aproveitou da situação e de sua fraqueza, dando a ele duas opções:
Que se rendesse a França entregando todo o seu poder ou então fugir como um covarde sem honra alguma.
Claro que Alaric não queria ser um covarde...
Agora Londres estava sob o domínio da França e Alaric não tinha o que fazer a não ser aceitar ser dominado, fazendo com que seu orgulho se calasse diante do seu inimigo...

Eu observava pela janela do meu quarto o pátio do palácio. Lembrando dos grandes banquetes que ali eram servidos para o povo de Londres, certamente para uma grande celebração. Como no dia do nosso casamento, dos aniversários de Charles, do nascimento e do primeiro aniversário do nosso pequeno Henrique. Foram uns dos últimos banquetes que houve naquele pátio.
Haviam poucos meses que Henrique completou dois anos de vida e Alaric não pôde esconder sua frustação quando viu uma pequena festa e um bolo simples no salão imenso do palácio, que em outra ocasião, estaria cheio de gente e uma grande celebração como foi no primeiro ano do seu primogênito. Não tivemos convidados a não ser os servos do palácio. Mal ficou conosco, dando apenas um beijo em Henrique e se retirou sem olhar para trás.
Depois disso, não o vi mais. Não me chamava para seus aposentos, não perguntava por mim nem pelo filho. Estaria ele com ódio de nós por ter feito a escolha errada?

—Majestade!

A voz eufórica de Katrine interrompeu meus pensamentos. Me virei para encará-la, segurava um envelope que parecia ser uma carta.
—Acredito que seja a resposta que estava esperando.

—Queira Deus!

Respondi pegando a carta que estava estendida para mim.
De fato.
O envelope estava com o selo da Espanha e pelo papel dourado e selado com o brasão do rei Juan Martín Cuervo.

—É do rei, Katrine!

Afirmei esperançosa segurando firme o envelope.

—O que espera para abrir?

—Tenho medo da resposta. Se for não? E se negou a ajudar?

—Só tem um jeito de saber.

Hesitei por uns instantes. Tomei coragem e rompi o selo. Passei os olhos nos rabiscos que o próprio rei havia escrito. Eu reconheceria aquela letra de longe.

—E então?

Abri um sorriso ainda lendo a carta.

—Preciso falar com o rei imediatamente.

***

Meu coração gelou quando me vi diante as portas da sala do trono onde o rei estava em reunião. Ninguém podia entrar sem ser convidado, muito menos interromper quando estava em reunião, menos ainda invadir a sala, tal atrevimento causaria a forca, mesmo sendo eu, a rainha. Já que Alaric não se importava mais comigo, não hesitaria me mandar para a forca. Mas eu precisava arriscar...

—Preciso falar com o rei.

Disse com a voz firme para os soldados que vigiavam a porta.

—Desculpe, majestade. Temos ordens para não permitir a entrada de ninguém.

—Como se atrevem? Por acaso eu sou ninguém? Sou sua rainha e exijo que abram a porta.

Ordenei. Um olhou para o outro hesitando minha ordem.

—Perdão, majestade. Mas não podemos.

—Abram a porta ou ainda hoje servirei vossas cabeças numa bandeja de prata para os cães.

Sem mais hesitações, finalmente abriram as portas cautelosos.
Dei uns passos à frente e adentrei a sala. Ouvi o barulho das portas se fechando atrás de mim.
Olhei ao redor, todos os olhares estavam apontados para mim.
Ignorei direcionando meus olhos para o homem que estava mais à frente. Alaric me olhava fixo e sério com seu rosto pálido e a barba por fazer sentado em seu trono. Foram noites sem dormir articulando uma maneira de se livrar do domínio francês.
Respirei fundo e comecei a caminhar em sua direção. Os homens que ali estavam abriram o caminho para eu passar me reverenciando com os olhos arregalados.
Parei diante de Alaric que continuava imóvel.

—Meu senhor.

Curvei a cabeça em respeito.
Alaric se levantou as pressas e ficou me encarando não acreditando no quão atrevida eu estava sendo.
Meu coração faltou saltar pela boca.

"É agora que me condenará à forca."

Pensei assombrosa, mas não recuei um passo se quer... 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora