Capítulo 34

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Palácio Graham
Londres

O palácio andava muito agitado com o passar dos dias. Mal via Alaric, o que me aliviava um pouco. Não aguentava mais sorri forçada para ele, fingir que adorava seus presentes, e mostrar interessada em seus galanteios...
Enfim.
Só estava ganhando tempo o suficiente até ele se convencer de que eu havia desistido de ir embora.
Me informava sobre meu tio, dizia que estava bem e que estava sendo bem cuidado. Mas só palavras não me confortavam, eu queria perto de mim, abraçá-lo, beijá-lo e me certificar de que realmente estava tudo bem.
Manter tio Rick longe de mim, num lugar onde só ele sabia, era uma estratégia para me manter presa no palácio. Como poderia fugir sem tio Rick?
Brian tentava de todas as formas descobrir onde estava tio Rick.
Mas era como se a terra o tivesse engolido...
Mas o plano de fugir para a floresta não havia sido descartável. Até que um dia...

Já fazia semanas desde Brian partiu para Oxford em disparada para falar com seu pai. Queria explicações. Como o medalhão que seu pai o havia dado quando criança podia ser o mesmo que o rei de Gênova havia entregado a mulher para cuidar do seu neto bastardo?
Não fazia sentido, ou fazia?
Mas então, se fosse verdade, Brian seria o próximo rei de Gênova.
No entanto, não deu nenhum alarde. Boatos surgiram de que o rei Alaric pretendia encontrar o herdeiro e matá-lo, para que sua esposa tivesse o poder daquelas minas poderosas. Sendo ele o rei, dominaria tudo.
Mas seu plano não deu certo, pois foi descoberto uma traição da rainha com seu conselheiro e amigo James.
As vezes encontrava Alaric perdido em pensamentos na beira do lago, e pedindo conselhos, desabafando...

—Não consigo acreditar que o homem que eu considerava um irmão, e traiu dessa maneira.

—Desculpe, majestade. Acho essa história muito confusa ainda.

—Eu vi as cartas dele para ela. Era a letra dele. E os brincos de rubi que eu havia dado avelã no seu aniversário, estavam no quarto dele, Alana.

—Pelo pouco que sei. Ele não negou que a letra era dele. Mas afirma que não as escreveu. E os brincos, tudo tem uma explicação. A rainha o adora, majestade. E ela jamais colocaria em risco sua índole para envergonhar o rei. E Sair James muito menos
Alaric deu uns passos para frente se aproximando de mim.

—Não imagina o quanto eu queria que não fosse verdade. James é como um irmão. Não queria condená-lo a morte.

—Então não condene. Vossa majestade é o rei!

—Não está mais em minhas mãos. E sim da igreja católica e da corte. Eles farão o julgamento.

—Sabe que eles vão os condenar a morte.
Ele se virou e ficou admirando o lago que pertencia ao meu bebê.

—Já não posso fazer nada.

—E o filho que a rainha espera? É um inocente.

—A lei não permite que os inocentes morram por causa da traição das mães. A rainha ficará presa até a criança nascer.

—E se for condenada à morte, cumprirá a pena assim que a criança nascer.
Houve um breve silêncio.
—O que será dessa criança, majestade? É seu filho!
Alaric se virou novamente para me encarar.

—Será levada para ser cuidada longe desse palácio.

—Mas...é seu filho!

—Como pode não ser, Alana. Como poderei viver com essa dúvida? Olhar para essa criança, sabendo que pode ser do homem que um dia foi meu irmão e que me traiu. Não dá, Alana. Não posso! Não deixarei desamparada. Mas não posso permitir que cresça aqui.
Alaric estava desolado.
—Não posso parecer um rei fraco e derrotado, traído pela rainha com seu próprio primo a quem considerava irmão.
Suas palavras foram duras. Mas eu entendia o momento ruim. Por um segundo, deixei meu ódio de lado e me sensibilizei diante de um rosto tão deprimido e decepcionado.
Ele se aproximou mais de mim, ergueu sua mão e alisou meu rosto, seu toque foi meigo e suave.

—Agora só tenho você, Alana. Embora não consiga fazer com que me ame, mas eu te tenho tão perto. Sempre ouvindo meus desabafos, me aconselhando. Você é um anjo, milady. É o que me dá forças para suportar tudo isso.
Eu sorri meio de canto.
—Abra seu coração para mim, Alana.

—Como pode me pedir isso, majestade? Eu teria mais apreço, se não tivesse que me manter como prisioneira. Mantendo meu tio longe de mim, só para ter um domínio sobre mim. Sabes que não poderei fugir sem meu tio.
Menti.
Minha fuga já teria acontecido...se não fossem os acontecimentos...
Alaric baixou seu olhar pensativo.

—O que acontecerá se eu trouxer seu tio de volta, para ficar perto de você. Irá embora?
Era o que eu mais queria.

—Se trouxer meu tio para perto de mim, verei que existe, lá no fundo, um homem de bom coração.
Alaric ficou uns instantes me olhando.

—Pois bem, milady. Vejo a aflição em seus olhos. E me corta o coração. Eu não sou um monstro, Alana. Eu só queria que me amasse. Mas, por mais que eu tente agradá-la, você não consegue me amar. Eu invejo...o pai dessa criança que espera. Pois é dele o seu amor.
Não estava ouvindo isso. A voz do Alaric estava embargada, seus olhos encheram de lágrimas, mas rapidamente ele se recompôs.
—Mandarei buscar seu tio hoje mesmo.
Meu coração palpitou de emoção.
—Em três dias ele estará aqui. E então...podem partir. Não mais impedirei.
Soltei um sorriso sem perceber.

—Majestade!
Ele alisou meu rosto e ficou me fitando com seus olhos azuis.

—Vejo um sorriso sincero, ela primeira vez.

—Estou muito emocionada.

—Podereis partir. Vá para Espanha ou...vá procurar o pai do seu filho. Vá ser feliz. Não posso te usar como escape para os meus problemas. São meus problemas, tenho que encará-los de frente.

—Vossa majestade é forte. Mais forte do que imagina. E eu fico muito grata por esse gesto de bondade.

—Será que consegui provar que sou um homem bom?

—Eu sempre soube.
Alaric deu uns passos para trás sem tirar os olhos de mim.

—Eu te amo, Alana. E é por te amar que devo deixá-la partir.
Foi saindo sem olhar para trás.
Uma lágrima rolou no meu rosto, mas era uma lágrima de felicidade. Eu poderia partir com tio Rick.
Finalmente.
Não me tornaria uma fugitiva.
Eu poderia viver livre, fazer minhas próprias escolhas.
Sim.
Alaric me amava.
Havia me provado.

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora