Capítulo 37

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—Calmo demais.
Sussurrei olhando o céu estrelado pela janela do quarto. Alisando minha barriga dura e enorme, conversando com o meu bebê.
Aquela tranquilidade não era normal, não havia nem servido o jantar e o pátio do palácio estava deserto, nem os soldados que circulavam por ali de costume, não vi nenhum. Até Katrine sumiu, não a vi durante a tarde e até aquele momento, ela também não apareceu para trazer meu jantar.
Tudo estava estranho...

Caminhei até a penteadeira e cuidadosamente me sentei frente ao espelho. Eu mal aguentava carregar tanto peso, parecia que eu ia explodir a qualquer momento. Senti uma pontada aguda, gemi alisando minha barriga, para acalmar meu bebê. Dei um sorriso de nervoso e de dor.

—Calma, meu amor. Ainda não é a hora.
As agitações foram se acalmando e a dor aliviando.
Sorri outra vez, respirando fundo.
Parei um instante, pensei no futuro do meu filho.
Eu não sabia o que esperava por nós.
O rei me devolveu a liberdade, eu estava livre para partir com tio Rick, voltar a Espanha era o que eu mais queria..., mas, se por um lado eu ganhei minha liberdade, por outro me sentia presa novamente...
Brian estava a caminho de Gênova, se apresentar como o neto do rei, o herdeiro próximo ao trono, e não me permitiria partir levando nosso filho para longe. Não era justo com ele...
Como não era justo?
Ele havia ido embora para se casar com outra, e enganou, dizia que iria embora comigo quando na verdade estava atrás de um tesouro maldito que eu não acreditava que existia. Foi embora, nem ao menos se despediu...sem dizer para onde ia, se ia me encontrar novamente...foi embora, e...
Espera aí...
A carta.
Sim claro, a carta que ele havia deixado para mim.
Quando nos encontramos no palácio, ele havia me perguntado se eu não li a carta. E não li...

Abri a gaveta, tirei um livro que estava por cima e lá no fundo retirei a carta ainda selada e intacta.
Guardei por meses, sem coragem de abrir, na verdade, eu estava com raiva. Raiva porque me sentia enganada por ele, depois de tudo que passamos, ele me deixou apenas aquela maldita carta...
Cautelosamente rompi o selo e fui abrindo a carta devagar. Finalmente...

...como fui injusta.
Pensei comigo mesmo ao terminar de ler. Ele estava disposto a lutar pelo nosso amor, casaria para pagar a dívida do pai, mas logo voltaria para mim. Seria difícil, óbvio, mas íamos tentar juntos. Então a lenda do tesouro do rei Luís era verdade, e ele estava perto de conseguir. Só precisava encontrar a terceira peça e tudo ia ficar bem...
Ele tentou me explicar, naquela noite, a última vez que nós vimos, mas eu estava magoada demais para ouvir.
Senti mais uma pontada, um pouco mais forte que a anterior. Respirei fundo, tentando segurar a dor. Deixei a carta sobre a penteadeira e cautelosamente me levantei respirando fundo.

—O que está acontecendo?
Perguntei alisando minha barriga.
Caminhei até a cama e me repousei. Foi aliviando...aliviando...

As portas do meu quarto se abriram num salto, direcionei meu olhar e vi Alaric já entrando e fechando as portas em seguida. Estranhei muito a sua presença, ele não era de me fazer visitas. Foi girando seu corpo até ficar de frente para mim. Aquele olhar...

—Majestade.
Falei num sussurro. Mal ouvi minha voz. Ele me fitava. E eu arrepiada.
—Procura algo?
Ele deu uns passos à frente, até estar aos pés da cama.

—Eu que faço as perguntas aqui.
Seu tom de voz saiu seco, porém calmo. Mesmo assim, não me tranquilizava.

—Se eu puder responder...
Nesse momento senti mais uma pontada. Mas que droga. O bebê nunca ficou tão agitado como naquela noite.
Alaric olhou para minha barriga por alguns instantes. Em seguida voltou a me encarar.

—Conde Crawford...
Gelei.Eu sabia que não era coisa boa. —É ele, não é?
Eu não conseguia mais olhar em seus olhos. Como responder a essa pergunta?

—Não sei a que se refere.

—Claro que sabe. Seus encontros com ele todos os dias no fim da tarde na beira do lago. Andou te visitando na noite anterior.
Respirei fundo. Como ele sabia de tudo aquilo? Seria Harry o traidor? Ele e Katrine eram os únicos que sabiam... ou será Katrine...?

—Eu...não sei o que responder, senhor.

—A verdade.
Nossos olhares se cruzaram novamente. Não tinha mais que esconder.
Ele me olhava ansioso, aguardando por uma resposta.

—Eu o amo, Majestade. Só o que posso dizer.
Alaric suspirou. Deu uns passos para o lado e viu a carta que eu havia deixado sobre a penteadeira. Ousadamente a pegou e começou a ler. Mas que atrevimento.

—Desgraçado! Então foi ele que roubou a terceira peça do meu palácio? Ele quer encontrar o ouro!

—O que?
Do que ele estava falando?

—Algumas semanas foi roubada uma das pistas que estavam em meu poder. Foi esse maldito! Ele veio a mim hoje pela manhã, disse que precisava viajar para resolver alguma coisa pessoal. Ele está a caminho da Irlanda!
Eu só olhava em silêncio e assustada. Alaric estava equivocado. Brian estava a caminho de Gênova.

—Ele teria me contado, majestade.
Ele rasgou a carta num ato de fúria. E se aproximou de mim com um semblante assustador.

—Malditos! Estavam armando contra mim? Planejavam me destruir?
Arregalei os olhos sem entender o que queria dizer.

—Não entendo!

—Estranhei. Desde quando esse maldito chegou aqui, seu comportamento comigo mudou. Para quem não me suportava, me odiava, de repente passou a ser gentil. Estavam armando! Quando conseguir o ouro, perderei todo o domínio sobre as minas da Irlanda. Deixarei de governar aquele país, perderei aliados, meu exército perderá forças...Quem sabe não pretendem roubar meu trono também...
Ele estava louco. Que imaginação.

—Majestade...
Ele se jogou sobre mim me levantando da cama segurando meus braços violentamente.

—Quieta! Cala a boca! Não fala nada!
Perante isso, permaneci calada. Os olhos de Alaric pareciam em chamas.
—E eu que pensei que pudesse sentir algo por mim...ah sua maldita eu te amo tanto. Tanto que estava disposto a deixá-la partir, mesmo sabendo que te perderia para sempre...

—O rei deu a sua palavra. Não pode voltar atrás. Tem que me deixar partir.

—Para os braços do Brian? Se sujeitará a ser amante dele? Ser conhecida como a mãe do filho bastardo dele?
Mal sabia que Brian em breve seria rei. Ele poderia anular seu casamento qualquer momento.

—Ele vai anular seu casamento.
Alaric riu diabólico.

—Se engana, milady. O casamento dele é assunto do estado. Só poderá ser anulado por um caso muito sério. E mesmo se conseguisse isso, teria que romper com a igreja católica. Perderia muito mais do que ganhar você.

—Como assim?

—Nunca entenderá. Porque nunca irá partir daqui...é minha prisioneira!
Ele me soltou girando seu corpo.

—Qual crime cometi?

—Se aliou ao inimigo. Escondeu o ladrão que roubou a coroa inglesa.

—Não é verdade. Não foi Brian. Não pode acusá-lo sem provas.
Ele se virou para me fitar com um sorriso nos lábios.

—Quem disse que o levarei a julgamento?
Franzi o cenho.

—Então...

—Reze para que eu não o encontre, senhorita. Mas não se preocupe, mandarei a cabeça dele para que possa se despedir.
Meu Deus. Levei as mãos à boca incrédula. Ele saiu.
Mas Alaric achava que Brian estava indo para Irlanda. Então era para lá que ele iria procurar. Mesmo assim. Meu coração estava em aflição...
Senti uma dor insuportável, me joguei na cama e senti um líquido quente entre as minhas coxas. Uma mancha vermelha surgiu na altura da minha intimidade. Era sangue. Algo não estava correndo bem.
Levantei nervosa e caminhei até a porta. Ela estava trancada. Droga. Alaric havia me trancada dentro do meu próprio quarto.

—Socorro!
Comecei a bater na porta desesperadamente.
—Alguém me ajuda! Estou perdendo meu filho! Socorro.
Em vão. Bati e gritei até perder as forças.
Alguém.
Saiu fraco e sem esperança. Tudo escureceu... 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora