capítulo 47

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Durante todo o período de luto, Alaric se manteve afastado de todo mundo. Ninguém o viu pelo palácio. Dispensou todos que o rodeavam, até mesmo o cardeal. Preferiu ficar sozinho num lugar onde só Deus sabia. Se reservou para não mostrar para todos o sentimento de culpa que carregava em suas costas.
Poderia ter ficado ao lado da mãe nos seus últimos momentos de vida, mas seu orgulho e arrogância não permitiu.
Eu sabia como ele estava se sentindo, foi o que eu senti quando perdi minha mãe, e em seguida meu pai...Não. Ele não estava sentindo o mesmo que eu senti. Meu sofrimento foi maior, mais angustiante..., mas enfim, sempre há dor ao perder alguém que amamos. Embora Alaric não demonstrava seu amor pela mãe, mas ele a amava, do jeito dele, mas a amava...

Eu observava os oficiais estendendo as bandeiras que estavam ao meio mastro pela janela do meu quarto. O luto terminou, mas o ar de tristeza ainda pairava sobre o palácio durante um bom tempo. A rainha Mãe era muito querida por todos e muito respeitada. Era atenciosa, carinhosa e ajudava em tudo que podia para o bem dos seus súditos.

—Bom dia, Alana.

Olhei em direção a Katrine que se aproximava segurando Charles no colo. Ele sorriu ao me ver. Caminhei alguns passos e o peguei em meus braços sorrindo.

—Bom dia, meu amorzinho!

Ele respondeu com outro sorriso.
—Bom dia, Katrine.

A cumprimentei. Percebi seu olhar cabisbaixo. Seria ainda sobre a morte da rainha?
Ela me olhou, pareceu não querer falar, também não perguntei.

—O rei quer te ver.

Arregalei os olhos.

—Mas...

Eu fiquei sem o que dizer. Mal acabara o luto pela mãe e já queria voltar a me atormentar.
Certamente.Voltaria a ser o mesmo Alaric de sempre.

—Harry vai levá-la até ele.

Ela pegou Charles do meu colo. Ela não estava bem. Sempre chegava no meu quarto falando pelos cotovelos, naquela manhã ela estava inquieta, como se algo tivesse a incomodando.

—Aconteceu alguma coisa, Katrine?

—Oh, Alana. Recebi a notícia de que a vila vizinha a minha está contaminada pela peste. Estou preocupada com meus avós. São bem velhinhos e se pegarem a peste não vão resistir.

Katrine havia me falado sobre seus avós. Assim como eu, ela também perdeu os pais. Sua mãe morreu ao dar à luz ao seu irmão caçula, que não resistiu e faleceu dias depois por ter nascido meses antes, seu pai morreu anos depois ao pegar uma doença causada pela chuva, o que é estranho alguém morrer por pegar uma chuva... Katrine tinha quatorze anos quando isso aconteceu. Seus avós venderam a casa deles, que ficava um pouco mais distante do vilarejo onde Katrine e seus pais moravam, para cuidar da neta que acabara de ficar órfã. Aos dezoito anos, Katrine veio trabalhar no palácio, deixando seus avós aos cuidados de uma cuidadora do vilarejo. Sempre mandava moedas para as despesas...

—A peste?

Perguntei também assustada. Só de pensar...A peste levou meus pais, e naquele momento pensei no meu filho e no meu tio, os únicos que eu tinha...

—Está se estendendo pelas vilas. Muita gente já morreu. Estou apavorada, Alana.

Alguém bateu à porta.

—Senhorita Alana.

Harry me cumprimentou assim que Katrine abriu a porta.
—Vim buscá-la a mando do rei Alaric.

—Claro, Harry. Só vou levar uns minutos até me aprontar.

Não podia me encontrar com o rei só de camisola.

***

O que será dessa vez, Dios!

Eu só pensava nisso.
A cada passo que eu dava atravessando o imenso salão meu coração acelerava. O que mais poderia fazer comigo? Ele sempre tinha uma ideia...

—Majestade!

Alaric estava de costas para a porta da entrada, alisava seu cavalo olhando ao redor do pátio, tudo estava voltando ao normal depois do luto. Algo estava diferente nele...Ao ouvir a voz do Harry, se virou. Seus olhos apontaram direto para mim. Ele estava diferente, seus cabelos claros e enrolados não haviam mais, estavam bem baixos, seu rosto estava ainda mais encantado, sua beleza era exuberante. Não pude deixar de admitir o quão lindo ele era...
Pisquei os olhos para voltar do transe. Mas não conseguia parar de olhar para ele.

—Bom dia, Alana.

Me cumprimentou estendendo a mão para mim, sorriu meio de canto, me fazendo arrepiar...

O que há comigo?

Eu o reverenciei acenando com a cabeça bem delicadamente. Estendi a mão para ele, ainda bem que eu estava de luva, certamente não sentiu o suor da minha mão quando encostou na dele.

—Pode me acompanhar para um passeio?

Olhei para Harry desconfiada. Mas logo me recompus.

—Claro.

Para minha surpresa, o cavalariço trazia donzela pelas rédeas e já com cela. Eu sorri de canto a canto, não acreditava no que estava vendo. Dei uns passos para frente indo ao seu encontro sem tirar o sorriso do rosto.

—Donzela! Oi, garota!

Acariciei, beijei, abracei. E quase chorei.
Desde quando fui para o palácio eu não a vi, nem ao menos tive notícias. Eu não sabia que ela estava ali, tão perto de mim. Uma vez havia perguntado a Alaric sobre minha égua, ele apenas disse que estava bem e que não precisava me preocupar.
Me senti um tanto culpada, pois eu nem se quer pensava muito nela...

—Achei que gostaria de cavalgar com ela.

Olhei para Alaric, ele sorria segurando as rédeas de donzela. Estava tão próximo a mim que senti um calor por baixo do meu vestido e subia até meus lábios que estavam ardentes e secos. Passei a língua de leve para umedecê-los. Os olhos de Alaric estavam atenciosamente para os meus lábios.

—Obrigada, Majestade.

Quebrei o silêncio. Ele me olhou nos olhos.

—Vamos?

—Aonde vamos?

—Confia em mim?

Claro que eu não confiava..., mas eu tinha escolha?
Nitidamente assenti com a cabeça num gesto positivo. Ele achou graça, mostrou isso num sorriso.
—Então vamos.

Disse estendendo a mão oferecendo ajuda para montar em donzela.

—Você é a única mulher que eu conheço que monta como homem.

Segurei as rédeas e sorri.

—Monto desde menina. Meu pai me ensinou. É bem mais seguro.

—Está certa. Então acho que não preciso me preocupar.

—Não mesmo.

Ele sorriu. Depois caminhou até seu cavalo montando em seguida.

—Harry, não preciso que me sigam.

—Mas majestade...

—Isso é uma ordem, Harry.

Harry apenas assentiu. Como assim o rei da Inglaterra não queria seus guardas?
Embora a ideia fosse arriscada, eu não questionei.
Então partimos...para onde afinal...? 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora