Sim. O rosto banhado em lágrimas. Seus olhos estavam vermelhos e inchados. Eu nunca tinha visto um homem chorar tanto como Alaric estava chorando naquele dia. Nem meu pai chorou tanto com a morte da minha mãe. Bom, embora não teve nem tempo de sentir saudades dela...
Depois de uns segundos me olhando, ele desviou os olhos, pareceu se envergonhar daquela cena. O que aconteceu para que ficasse daquele jeito?
Eu queria perguntar, saber do que se tratava, por qual motivo..., mas permaneci calada, imóvel sem me atrever a dar um passo a mais.—Alguns dias atrás, eu enviei uma carta para minha mãe.
Finalmente disse algo. Sua voz estava embargada e abafada.
—Eu escrevi pedindo perdão. E que pudesse voltar ao palácio. Porque eu sentia falta dela.
Jura?
Não parecia. Era tão seco e... bipolar?
—Eu me escondo atrás do rei da Inglaterra. Num homem rude e orgulhoso. Que só pensa nele. Mas eu sentia falta dela. Dos conselhos, das broncas. Tentando me auxiliar no que era certo. Mas eu, cabeça dura, achava que tinha que ser do meu jeito.Alaric olhava para o lago. De vez em quando baixava o olhar para o papel dourado que estava em suas mãos.
—Isso foi...ótimo. Ela deve estar bem contente.
—Ela sabia o quanto é difícil para mim, admitir quando estou errado.
Eu não estava entendendo onde ele queria chegar com aquela conversa.
—É difícil...para todo mundo, majestade.
—Como é difícil perdoar alguém também. Minha mãe não quis saber da minha carta, Alana. Rasgou na frente do mensageiro, sem ao menos abrir. Mandou me dizer que estava muito bem e que não queria voltar a viver no mesmo lugar que um rei imaturo e sem escrúpulos.
Claro que ela tinha razão.
—Sinto muito, majestade.
—Eu queria muito dizer o quanto eu a amo. E percebi que nunca havia dito isto a ela.
—Ela só está magoada, majestade. Dá um tempo a ela e vai ver que ela vai perdoá-lo.
—Não há mais tempo, Alana. Ela se foi. Se foi para sempre. E eu nem ao menos pude me despedir.
Arregalei os olhos incrédula.
Se foi?
Ela...morreu?
—Ela deixou essa carta para mim, mas ainda não tive coragem de ler.—Eu...sinto muito, majestade. Mas...não sei o que posso fazer para ajudá-lo. Não entendo por que me chamou aqui.
Ele me olhou arrasado.
—Eu também não sei. Quando recebi a notícia, a primeira pessoa que me veio à cabeça foi você.
Eu não soube o que responder.
Depois de uns segundos de silêncio, ele olhou para o lago novamente.
—Mas entendo você. Deve estar se deliciando me vendo desse jeito. Depois do que eu fiz, eu mereço.Claro que eu não estava me deliciando. Mas era impossível acreditar que estava sofrendo tanto.
Pedi perdão a Deus por esse pensamento, mas para mim, o que ele estava sentindo era puro remorsos...—Não estou me deliciando. Sei como dói perder quem amamos. Perdi meus pais para peste em menos de cinco dias, majestade.
Me olhou novamente.
—Sinto muito. Eu aqui te enchendo com meu pesar enquanto você tem o seu próprio. Eu nunca te perguntei sobre o que sentiu. Fiz tudo errado. Tudo errado.
—Não vamos falar sobre o que eu sinto, majestade. Eu não tenho palavras para expressar meus pêsames. Que Deus possa confortar o vosso coração. E vamos rezar para que a alma da rainha esteja em paz.
—Obrigado, Alana.
Não tinha mais o que falar para ele, nem ele para mim.
—Se me permite, gostaria de voltar para os meus aposentos.
—Claro.
—Com sua licença.
O reverenciei e me virei. Antes de dar o primeiro passo, sua voz embargada chamou meu nome. E virei novamente para ele.
—Sim.—Posso te pedir uma coisa?
Franzi o cenho.
—Se estiver ao meu alcance...
Ele deu uns passos para frente até estar bem próximo a mim. Segurou minhas mãos e as levou até seu peito firme e másculo.
Meu corpo arrepiou. Minha respiração acelerou, minhas pernas bambearam.
Por favor, não me beije...
Eu implorei em pensamento.
Pois se ele me beijasse, não sabia se resistiria...—Só quero um abraço.
Disse sorrindo, parecendo percebe meu nervosismo.
—Ah.
Saiu num sussurro.
Por que fiquei desapontada?
—Claro. Um...abraço.Eu não pude negar. Como não negaria um beijo.
Espera aí, o quê?
Ele me puxou delicadamente para um abraço longo e bem aconchegante.
Díos.
Me vi em chamas...
Meu íntimo pulsou...Ah no. No puede ser.
Procurei afastar de mim aquele pensamento...
Ele se afastou, segurou meu rosto com as mãos, encostou seu rosto no meu, nossas bocas estavam bem próximas...—Obrigado, Alana.
Se afastou por completo.
Era só?—Com licença, majestade.
Enquanto eu caminhava para longe dali, eu fiquei pensando no quanto eu queria ter sido beijada por ele.
Mas por quê?
O que foi aquela sensação maravilhosa?
O que foi aquele desejo absurdo?
Eu não estava raciocinando direito.
Eu não podia sentir aquilo novamente.
Não me permitiria sentir aquilo novamente...
Mas que eu queria ser beijada...isso não podia negar, como não pude esconder minha decepção por ele não ter me beijado.—Deus. Será que ele percebeu?
Rezei para que não.
****
Logo após a morte da rainha Mãe ter sido anunciada, não vi mais Alaric. Ele simplesmente havia evaporado do palácio. Ninguém sabia onde estava.
Mais uma vez me perguntei por que me importava.
Ele queria ficar sozinho.
Fato.
Estava se corroendo de remorsos, e não queria que ninguém o visse abalado do jeito que eu vi mais cedo.
Não seria bom para sua reputação.
Mais uma vez me perdoa, Deus.
Não podia pensar dessa forma.
E se ele realmente estivesse sofrendo?
Bom,de qualquer forma ele queria ficar sozinho...—Está tudo bem?
Katrine perguntou enquanto desfazia a trança do meu cabelo.
—Esta sim. Por quê?
—Está inquieta desde o anúncio. Percebi que não parava de olhar para o rei.
—Katrine. Todos estavam olhando para ele. Acabou de perder a mãe.
—Não. Você olhava de um jeito diferente. E não me contou o que houve na beira do lago quando foi falar com o rei.
—Porque não houve nada.
—Não houve nada e voltou perturbada daquele jeito.
Impossível esconder alguma coisa de Katrine.
—Katrine, o assunto agora é a morte da mãe do rei. Por favor, vamos respeitar esse momento.
Ela me olhou desconfiada, mas não disse mais nada...
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A favorita do rei
RomansCAPA FEITA POR: @Bihsoares3 Devido a uma epidemia de peste no ano de 1800,Alana Dewit perdera seus pais ainda quando criança.Por medo da peste atingir sua sobrinha, Rick,seu único parente vivo,se viu obrigado a afasta-la da pequena aldeia da onde el...