Capítulo 68

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Dias se passaram e Alaric ainda permanece distante desde a morte trágica de Brian. Tentei convencê-lo de que a culpa não foi sua, Brian duelou com Thomas e infelizmente perdeu, foi isso que me disse.
Não posso dizer que não fiquei arrasada. Brian foi meu primeiro amor e certamente nunca será esquecido. Agora o que permanece são as lembranças boas vividas ao lado dele e, claro, nosso pequeno Charles.
Eu também estou triste, mas nem por isso ando me escondendo das pessoas. Eu queria estar ao lado dele, apoiando e dando todo o carinho possível. Mas ele me nega. Ainda não consigo entender toda essa angústia que ele sente, afinal, não eram amigos nem tampouco próximos, ao contrário. Mas de uma coisa eu sei, Alaric está arrasado. E não sei o motivo.

Por Dios, Thomas está agora sobre custódia da corte e seu julgamento já está marcado para os próximos dias. Pagará pelos seus crimes e será julgado conforme manda a lei.

Estou agora no jardim do palácio olhando meus pequenos brincar inocentemente. Nem passa na cabeça de Charles que seu pai está morto. E como poderia entender, só tem quatro anos. Ainda nem sei como explicar isso para ele. Até o momento não perguntou por Brian. Mas quando estiver crescido, saberá quem foi e eu não pouparei esforços para que Brian esteja sempre em seus pensamentos, mesmo não se lembrando dele.

—Onde está meu marido, James?

Perguntei assim que o avistei se aproximando.
James foi absolvido das acusações e finalmente pôde voltar a corte. Os rebeldes também foram perdoados e poderão se mostrar sem medo de ninguém.

—Majestade, ele está à beira do lago e deseja vê-la.

Meu coração se abre. Finalmente ele quer me ver, depois de dias...
Olho para os meus pequenos novamente. Charles está correndo de Henrique que persegue com uma vareta em suas mãos querendo alcançá-lo.

—Henrique. Não pode bater no seu irmão.

O repreendo. Ele me olha com os olhinhos escancarados. —Pode ficar de olho neles por favor James?

—Claro, majestade.

James adora meus pequenos e corre ao encontro deles com um sorriso bobo nos lábios.

Dou uma suspirada e arrumo meu chapéu na cabeça, uma serva me acompanha cobrindo meu corpo com uma sombrinha. O sol está muito forte.

Os passos que dou até o lago são bem largos e apressados. Alaric quer me ver e eu não posso deixá-lo esperando.

Atravesso todo o jardim e o avisto. Parado diante do lago olhando a natureza ao redor. Mas seu pensamento está longe. Me aproximo, ele sente minha presença, pois se vira rapidamente, seus cabelos estão desgrenhados, seu rosto vermelho e molhado. Ele está chorando?

—Quer me ver?

Contenho a vontade de lhe abraçar, mas no fundo eu queria fazer isso, lhe abraçar bem forte e dizer "calma, eu estou aqui."

—Ah, Alana. Eu queria ter feito algo.

Diz com a voz embargada e rouca.

—Eu sei.

—Brian e eu não éramos amigos, mas ainda não consigo entender por que diabos ele fez isso.

—Brian tinha um bom coração.

Deveria ter seus motivos. Ele não tinha nada a perder. Sua esposa e filho estão mortos. Talvez quisesse vê-los novamente.

Alaric se vira para o lago novamente e prontamente puxa algo do seu bolso.

—Ele pediu para que eu entregasse isso ao Charles.

Estendeu a mão para mim ainda sem me encarar. É o medalhão que ele havia me dado no dia em que eu partir no porto de Londres, há mais de dez anos.

Eu pego o medalhão sentindo uma pontada no coração.

—Eu sei que ainda está angustiado com tudo isso, mas sua família está aqui, Alaric. Eu estou aqui. Estou triste e angustiada também, já se perguntou se eu também não preciso de um apoio?

—Estou na falha com vocês. Mas eu só precisava de um tempo.

Se virou para mim e segurou minhas mãos delicadamente.
—Por favor, me perdoe.

É muito difícil vê-lo chorar. E confesso que corta o meu coração.

Eu ergo minha mão e levo em seu rosto para secar uma lágrima que caiu dos seus olhos.

—Deixe-me ajudá-lo, Alaric?

Ele me olha docemente. Segura minha mão dando um beijo na palma. Em seguida me puxa para um abraço demorado e confortável. Desaba em lágrimas.

Deus, o que houve afinal para deixá-lo tão perturbado?

—Não foi um duelo, Alana.

Disse por sobre meus ombros.

—O quê?

Ele me abraça mais apertado ainda.

—Ele fez para me salvar!

Franzi o cenho. Então ele se afasta e me olha nos olhos.

—Descobri que Thomas matou meu pai envenenado. Então eu parti para cima dele. Duelei com ele. Estava tão furioso que eu o teria matado. Mas não o fiz. Mas ele se levantou e veio para cima de mim, então Brian...

Cortou a conversa.
—Ele salvou minha vida, Alana.

Fico olhando para ele sem muito entender.

—Como assim?

Ele se vira e fica de frente para o lago.

—Eu lutei com Thomas, tive a chance de matá-lo e não fiz. Não tive coragem, e acovardei diante de todos que estavam ali. E quando eu me virei, ele veio em minha direção com a espada empunhada. Era para mim o golpe, mas...Brian...entrou na frente.

Levo minha mão a boca.

—Então ele morreu como um herói.

—Morreu porque fui um covarde e não fiz o que devia ter feito.

Se virou novamente para me encarar.

—Por que disse que ele duelou com Thomas?

—Já me basta a vergonha diante de todos que estavam ali, não quero ser a vergonha de todo o reino.

—Isso não é vergonha. Agiu certo. Trouxe Thomas para ser julgado conforme a lei. Não se considere um covarde por isso.

Ele me olha doce e meigo segurando minhas mãos.

—Sempre tentando me fazer se sentir bem. Mas para mim, é vergonhoso um homem inocente ter que morrer em meu lugar. Brian foi um herói. Isso é um ato digno de um rei.

—Fique bem, meu amor. Ninguém vai deixar de vê-lo como um grande rei. Ao contrário, você agiu com honra. Saiu de lá com a cabeça erguida. E fez o que era certo. É assim que eu vejo. E tenho certeza que todos também.

Ele sorri de canto.

—Eu te amo tanto, Alana. 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora