Capítulo 35

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Eu não me contive de tanta ansiedade. Alaric havia me prometido que traria tio Rick para perto de mim, não estava acreditando que finalmente eu estava livre. Livre para seguir o meu caminho sem ter que fugir e me esconder numa floresta sombria com uma "feiticeira".
Ter meu filho e criá-lo longe do palácio. Já estava pensando em escrever uma carta para a Espanha avisando que em breve eu estaria de volta, com meu filho e com tio Rick. Como eu estava feliz...

No fim da tarde daquele mesmo dia eu estava olhando pela janela do meu quarto quando avistei Brian chegando em seu cavalo. Finalmente. Eu já estava ficando preocupada Havia semanas desde quando partiu em busca da verdade. Como fora a conversa com o pai?
Ele desceu do cavalo e ergueu seus olhos para a janela do meu quarto. Seu semblante não era muito agradável. Caminhava até o hall da entrada sem tirar os olhos de mim. Eu havia entendido. Queria me encontrar, com urgência.

***

Não vi mais Brian desde quando havia chegado algumas horas atrás. Certamente estava com o rei. Já estava quase desistindo de tanto esperar por ele naquele mesmo lugar...Já havia passado uma hora desde quando Katrine me deu o bilhete que ele mandou dizendo para eu esperar por ele no lugar de sempre, pois o que tinha para me contar era de extrema importância.
Ouvi passos se aproximando e quando me virei meus olhos se encontraram com os olhos dele...

—O que faz aqui, senhorita?
Minha respiração acelerou. Faltou ar nos pulmões, achei que fosse desfalecer.

—Eu...eu precisava de...ar fresco.
Os olhos de Alaric se estreitaram.

—É exatamente isso que vim fazer.
Ele se virou e ficou a olhar o lago a sua frente.
—Às vezes ser rei é tão sufocante.
Olhei ao redor para ver se não via Brian.
Díos. Que no vengas!
Como explicaria?
—Amanhã é o julgamento de James.

—Já? Tão rápido.

—Não imagina como estou, Alana.

—Ainda há tempo, majestade.

—Não posso fazer mais nada.
Alaric estava desolado. E eu estava aflita. A qualquer momento Brian ia surgir.
Ele se virou para mim e segurou minhas mãos.

—Amanhã mesmo mandarei buscar seu tio, Alana.
Meu coração se alegrou novamente. Ele estava certo em fazer o que havia prometido. E finalmente eu poderia partir...

***

Eu já estava pronta para me deitar. Dei uma olhada pela janela, a noite estava fria e nevoeiro. Mal se via o pátio do palácio. Tudo estava calmo e silencioso.
Não vi Brian naquela tarde. O que foi um alívio. Alaric ocupou todo o meu tempo desabafando suas dores, suas aflições e blá blá blá. Já não aguentava mais ouvir tantas lamentações. Eu não tinha nada a ver com seus problemas. Eu só queria encontrar meu tio e ir embora o mais depressa possível para longe do palácio, do rei, de Londres...
Mas eu precisava falar com Brian. Saber o que descobriu.
Caminhei até a cama e me sentei pronta para me deitar.
Katrine entrou às pressas no meu quarto seguido por Brian que fechou a porta assim que entrou.

—Brian?
Perguntei assustada me levantando da cama.

—Preciso falar com você.
Disse vindo em minha direção.

—Não pode estar aqui. É inapropriado para um homem casado. E sua esposa está nos aposentos próximos. Não pode estar aqui.

—Katrine tomou os devidos cuidados. Não se preocupe.
Olhei para Katrine incrédula. Com ela resolveria depois.

—Saia, Brian. Por favor.

—Fui ao seu encontro hoje. Mas vi que o rei estava contigo. Então voltei sem ser percebido.
Imaginei isso.
—Tenho que falar com você.
Fiquei tensa. Não podia permitir. Mas eu precisava saber.
—Tudo indica que sou o neto do rei de Gênova e o próximo sucessor ao trono.
Ele disse com firmeza.

—Mas...como?
Katrine foi até a porta ficar de sobreaviso, atenta a qualquer movimento no corredor.

—Meu pai hesitou me contar a verdade. Mas eu insisti. E ele me disse...
Seu olhar caiu, desolado.
—Ele se casou com minha mãe quando ela tinha 14 anos. Obrigada pelos pais. Presa num casamento forçado, até que um dia resolveu fugir. Meses depois ela voltou, comigo recém-nascido, afirmando ser filho do meu pai. No começo até ficou contente. Mas os comentários eram absurdos colocando em dúvida as palavras da minha mãe. E meu pai nos abandonou. E só retornou anos depois, quando recebeu uma carta do padre contando que minha mãe morreu e que eu precisava dele.
Brian girou o corpo e apoiou as mãos no móvel.
—Ele veio. Mesmo não tendo certeza da paternidade. Mas ele veio. Não porque me amava ou tinha uma consideração por mim. Ele veio porque o padre praticamente obrigou.
Pobre Brian.

—Eu...não sei o que dizer, Brian.

—Agora entendo. Uma vez ele me disse que eu devia ele. E que eu tinha que pagar casando-se com Lady Beckham.

—Você disse a ele que você pode ser o neto do rei de Gênova?
Ele virou de imediato para mim.

—Claro que não! Meu pai...é ambicioso. Não saberá até eu descobrir a verdade.

—Mas a verdade só pode ser essa. Você é o neto do rei de Gênova.

—Alana.
Segurou em meus braços.
—Partirei para Gênova. Esclarecer essa história. Mas não percebe? Pode ser o destino a nosso favor.
Franzi o cenho.
—Como o único herdeiro ao trono de Gênova, não precisaremos fugir. Poderemos ficar juntos, cuidar do nosso filho. Imagina só, nosso filho, um príncipe. Serei rei e você, minha rainha.
Brian já não estava mais raciocinando.
Me soltei de suas mãos, não deixando de encará-lo.

—Esquece que és casado, Brian? Com uma nobre. Ela será sua rainha.

—Posso mudar isso. Pedindo a anulação do casamento.

—E qual será o motivo?
Ele hesitou um pouco.

—Falta de amor não é o suficiente?
Dei um sorriso falso.

—Não é o bastante, Brian. A igreja católica não aceitará que desfaça um casamento com uma nobre para se casar com uma simples camponesa.

—Farei de tudo, Alana. Enquanto isso você é nosso filho viverão comigo.

—E levar a fama da amante do rei? Meu filho será considerado um bastardo, Brian. Não vão respeitá-lo. Eu não quero isso.
Respirei fundo enquanto ele permanecia em silêncio me olhando.
—O rei vai trazer tio Rick de volta.
Ele sorriu.

—Isso é maravilhoso!

—Ele disse que eu poderei partir.

—Está vendo? É o destino, meu amor! Vamos ficar juntos!
Ele tentou me abraçar, mas desviei.

—Eu vou voltar para Espanha, Brian.
Ele franziu o cenho chocado.

—O que? Alana, e eu? Agora poderemos ficar juntos sem medo, sem nos esconder, sem fugir de ninguém.

—Não viverei como sua amante, Brian.

—Eu não quero que seja minha amante. Quero que seja minha esposa.

—Não será possível e você sabe muito bem disso.

—Não é impossível, Alana.

—Eu sinto muito, Brian. Mas já decidi. Nada mais me impede de ficar em Londres.

—E meu filho, Alana? Não pode ir embora carregando um filho meu. Não tem o direito de levar meu filho para crescer longe de mim.
Ficamos nos olhando em silêncio por alguns segundos.

—Gente, estou ouvindo passos.
Katrine sussurrou. Havia esquecido que ela estava bem ali.
O silêncio pairou total. Os passos foram ficando cada vez mais longe, só então quebramos o silêncio.

—É melhor você ir, Brian. Conversaremos depois.

—Amanhã irei partir para Gênova. Por favor, não faça nada antes de eu voltar. Prometa, Alana?
Baixei o olhar sem nada a dizer.
—Prometa que vai me esperar, Alana?

—Tudo bem, Brian. Não...farei nada antes de você voltar.
Confortei seu coração.
—Agora vá, por favor.
Ele segurou minha mão levando-a à boca para um beijo delicado.

—Eu te amo. Tudo irá se resolver, meu amor.
Em seguida se virou e caminhou até a porta.
Katrine abriu cautelosa e deu uma olhada rápida para ver se estava tudo bem. Deu sinal ao Brian e ele saiu sem olhar para trás... 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora