Capítulo 38

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—Alana! Alana!
Eu ouvia a voz de Katrine próxima ao meu ouvido, mas eu não conseguia abrir os olhos. Eu sentia uma dor insuportável.

—Ela precisa fazer força!
Uma voz masculina surgiu um pouco mais distante.
Como fazer forças? Eu me contorcia de dor e não tinha forças para nada.
Fui abrindo os olhos devagar, e vi a figura embaçada de Katrine, ela me olhava e pedia para que eu fizesse força. Eu tentei, uma, duas, três vezes. Mas a dor era grande demais.

—Não desista, milady! Forças!
Olhei em direção a voz masculina. Era um senhor de cabelos brancos, eu já o vi antes. Era o médico do palácio, o que havia cuidado do meu tio Rick. Ele estava segurando minhas pernas que estavam em posição. Como assim? Ainda faltavam semanas. Não estava na hora.

—Aah! Meu Deus!

—Vai, Alana. Você consegue.
Katrine segurava minha mão. Tentei mais uma vez, e outra, e outra, até que...A dor aliviou...
Mas meu filho não chorava. Por que não chorava?
Eu respirava ofegante, totalmente sem forças.

—É um menino.
O doutor disse entregando meu bebê a uma serva que eu nem sabia que estava ali. Eu tonteava, senti que perderia os sentidos. Mas vi quando a serva caminhou até a saída do quarto. E meu filho não chorava, o que estava acontecendo?
Alaric surgiu na entrada. Ficou ali parado, me olhando com um olhar de arrepiar.
Eu quis me levantar e ir atrás da serva que levou meu filho, mas eu não tinha forças nem para manter a cabeça erguida.
Vi Alaric girar o corpo e ir embora.
Tudo escureceu...

***

Já acordei pensando que fosse apenas um sonho, mas não era. Meu filho não estava perto de mim. E assim que meus olhos estavam abertos por completo, vi Alaric em pé diante de mim. Parecia sereno. Seus braços estavam cruzados e me olhava intenso.

—Bom dia!
Me cumprimentou na mais perfeita suavidade.

—Onde está meu filho?
Fui logo perguntando tentando ficar sentada.
Ele desfrutou os braços e se aproximou um pouco mais.

—Seu filho nasceu com dificuldade para respirar.
Agora eu que não conseguia respirar. Olhei com os olhos arregalados e assustados para ele. Ele me olhava ainda muito sereno.
Fiquei imóvel, esperando pelo pior. A notícia de que meu filho morreu.
—Já pensou em como vai chamá-lo?
Eu fiquei sem entender.
—Está tudo bem com o seu filho.
Respirei aliviada.

—Onde ele está?
Perguntei meio rouca, pois ainda estava um tanto fraca.

—Uma serva de ama está com ele.
Franzi o cenho. Como assim uma serva de ama?
Eu era a mãe dele, eu tinha que alimentar meu bebê.

—Estou um pouco fraca, mas tenho certeza de que consigo alimentar meu filho. Preciso vê-lo. Por favor!
Ele deu uns passos para trás girando o corpo. Foi em direção a poltrona que estava bem no canto da parede.

—Em breve...depende de você!

—Como...depende de mim? depende...de mim?
Ele sorriu meio de canto. E quando fazia isso, sabia que não vinha coisa boa. Ficou uns instantes calado me olhando de um jeito que me causava arrepios. Ele pretendia algo.

—Eu dei minha palavra que poderia partir com seu tio. E palavra do rei não pode voltar atrás. Seu tio chegará em dois dias no máximo. Poderão partir assim que se recuperar...
Um borbulho de vozes se ouvia no pátio do palácio. Muitas vozes ao mesmo tempo que não consegui entender o que estavam gritando. Só então lembrei, era o dia da forca de James Podolsky. Alaric deu uma olhada rápida para a janela e depois voltou sua atenção para mim.
Se levantou num impulso ainda me olhando.
—Poderá ir, Alana. Mas seu filho ficará
Como segurança...
Soltou um sorriso diabólico e foi se retirando sem dizer mais nenhuma palavra.
Fiquei sem reação.
Como assim meu filho ficaria como segurança?
Como segurança de que?
Tantas perguntas que certamente ficariam sem respostas.
Tentei me levantar, mas ainda não tinha forças. E aquele barulho lá embaixo infernal...
Onde estava Katrine?
E meu bebê?
Busquei forças e me levantei devagar, aflita. Cambaleei até a porta
Droga.O maldito insistia em me deixar trancada. Caminhei até a janela. As pessoas se aglomeravam no pátio, enfrente a forca que já estava sendo preparada pelo carrasco. Pobre James. Que triste fim. Mas eu estava mesmo preocupada com o meu filho.
Alaric agia por impulso, podia fazer alguma coisa contra o meu bebê. Fui até a cama e me sentei. Estava com as mãos atadas. Como eu partiria sem meu filho?
Brian tinha que saber o que estava acontecendo. Mas ele ainda estava a caminho de Gênova àquela altura. Mas eu precisava escrever uma carta lhe informando do acontecido. Era isso que eu tinha que fazer...

****

A manhã passara e nada da sentença ser cumprida. O povo já estava ficando revoltado com a demora. E o meu filho que até àquela altura ninguém o havia levado para mim. Era horrível ficar sem informação. Quanta crueldade.
Era de se esperar. A única coisa que eu não entendia era o motivo pelo qual Alaric queria ficar com meu bebê. Eu escrevi uma carta para Brian e só estava aguardando por Katrine, que também não tinha visto durante toda a manhã, para entregar ao mensageiro. Certamente Brian não permitiria tamanha ousadia. Alaric não tinha o direito de tirar meu filho de mim. Brian seria rei de Gênova, exigiria que nos entregasse a ele. Alaric não poderia hesitar, seus dias de poder sobre mim estavam acabando...
Por fim Katrine entrou no meu quarto trazendo a bandeja com a comida. Estranhei. Era para ser meu filho, não uma bandeja. Quem sentiria fome no momento de aflição?

—Onde está meu filho, Katrine?
Ela passou por mim e deixou a bandeja em cima do criado mudo. Mal olhou para mim.
—Katrine. Meu filho!

—Seu filho está bem, Alana. Logo estará com você.

—Quando? Estou aflita aqui. Preciso vê-lo.
Nesse momento, houve uma gritaria no pátio. Nós duas olhamos em direção a janela.

—Soube que o lorde James fugiu?
Claro que eu não sabia. Estava trancada sem nenhuma notícia de nada.

—Não sabia, Katrine. Como não sei nada do meu filho.

—Não quer saber sobre lorde Crawford?
Meu coração gelou. Pronto. Tudo havia se perdido novamente. Encontraram Brian e o prenderam.

—O... que houve?

—Harry o encontrou a caminho de Gênova. E o avisou sobre o perigo que corre.

—Como Harry sabia?

—O Conde contou a verdade para ele antes de partir. Pediu para cuidar de você até que tudo se resolva. E ele dará um jeito de tirar vocês dois daqui.
Foi um momento de alegria.

—Ah Katrine. Não será nada fácil.

—Eu sei que não. O rei acha que o Conde está indo para Irlanda tomar posse do ouro do rei Luís. E que está planejando dominar Londres também.
Ela parou um pouco e olhou para a porta.
—Ele quer seu filho como garantia.
Eu imaginei que era isso.

—Maldito. Ele quer que eu escolha. Se eu for embora, não poderei levar meu filho. Ele quer que eu fique. Terá duas garantias contra Brian.

—Exatamente.
A gritaria no pátio foi diminuindo.

—Parece que o povo está indo embora.
Katrine foi até a janela.

—Sim. Estão indo.
Respondeu ainda olhando pela janela. —Como pode um prisioneiro conseguir fugir do exército inglês?

—Estou feliz por ele. Quem dera eu pudesse fugir também.

—É muito estranho...nunca nenhum prisioneiro conseguiu escapar. Tentaram, mas sempre eram pegos. E lorde James deve estar longe a essa altura. O rei nem se quer mediu esforços para que o encontrassem.

—Claro. Ele está mais preocupado em encontrar Brian. Inclusive escrevi uma carta, está dentro da gaveta do móvel. Pega para mim por favor.
Katrine caminhou até o móvel e pegou a carta no lugar indicado.
—Katrine, entrega essa carta ao mensageiro. Com urgência.

—É para o Conde?

—Sim. Avisando de tudo que está acontecendo aqui. Se o rei quer guerra, ele terá guerra... 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora