Capítulo 50

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Alguns dias já haviam se passado desde quando a gente deixou palácio. Tio Rick estava supercontente por ter voltado. Tivemos um trabalho para tirar toda a poeira da casa que havia ficado trancada por muito tempo, reabastecemos o estoque no armazém e logo tudo estava voltando ao normal, a vida do tio Rick estava indo muito bem e isso me deixou contente. Apesar de Katrine ir nos visitar sempre que podia, eu sentia a falta dela. Foi a única que me tratou bem desde quando cheguei ao palácio. Claro, o Harry também foi muito bem cauteloso e sigiloso quando se tratava de mim e Brian. Arriscou muito marcando nossos encontros...
Brian.
Deveria estar muito arrasado. Não era para menos, perdeu seu avô e mal o havia enterrado, soube do assassinato do pai. O boato se espalhou por toda a extensão do Reino e países vizinhos. Francis era o novo rei da Irlanda, com a ajuda do sir Thomas Podolsky.
Eu sempre soube que ele estava armando alguma. A cara não negava. E eu estava certa...

A situação não estava muito boa pela redondeza, em três semanas a peste já havia se espalhado rápido matando mais de trinta pessoas, incluindo crianças. Durante o tempo que estive na Espanha eu havia aprendido preparar um chá com uma erva especial para combater a peste. Com a pasta das folhas a gente passa nas feridas e bebendo o chá impede de contrair a peste. Ainda bem que eu trouxe comigo as sementes e plantei logo nos fundos da casa. E durante o tempo que estive sob o domínio do rei, foi crescendo. E quando a peste estava se expandindo rapidamente, eu colhi as folhas e preparei o chá e a pasta com as folhas. E foi assim que salvamos os avós de Katrine e algumas pessoas. Infelizmente, não tinha ervas o suficiente para todos...

—Alana!

A visita do dia havia chegado ao armazém. Eu estava fazendo as contagens das mercadorias.

—Katrine.

Respondi sorridente. Mas logo desfiz o sorriso quando percebi que seu semblante não era nada bom.
—Aconteceu alguma coisa?

Ela me olhou aflita.

—É o rei Alaric!

****

—É perigoso ter contato com alguém que contraiu a peste, filha.

Tio Rick disse preocupado enquanto eu preparava o cesto com o chá e a pasta que havia sobrado, era pouco, mas era o suficiente.

—Não se preocupe, tio. Estou protegida. A erva demora semanas para sair do sangue, enquanto isso estou imune. A cidade toda praticamente está empesteada e não contraímos até agora.

—Sim, mas...não precisa ir até o palácio. Pede para Katrine cuidar disso.

Respirei fundo. De fato. Não havia necessidade alguma de eu ir até lá. Mas, eu queria vê-lo. Eu precisava vê-lo.

—Não se preocupe, tio. Só vai levar uns três dias até que ele fique curado. Logo estarei de volta.

Charles choramingou em seu cestinho.

—E o menino? Não pode levá-lo!

—Charles também está imune, tio. Não se preocupe. Manterei longe de tudo.

—Eu cuidarei dele, Sr. Dewit. Existe um lugar seguro no palácio.

—Ainda não acho certo você ir.

Eu olhei para ele e segurei em seus ombros.

—Tio, não posso deixá-lo morrer sabendo que eu posso salvá-lo.

—Mesmo depois de tudo que ele te fez?

Eram coisas que eu não queria lembrar.

—Mesmo depois de tudo que ele me fez. Eu quero fazer isso, tio.

****

Desci de donzela e retirei o capuz que cobria minha cabeça. Fiquei uns instantes olhando para o palácio. E cá estava eu novamente...
Tudo estava tão inquieto, os guardas que antes se viam espalhados pelo pátio, agora se contava a dedos. E foi piorando conforme fui adentrando palácio a fora.

—Onde estão os servos?

—A metade morta. E os doentes estão em um casebre que fica aqui mesmo, mas distante do palácio.

Infelizmente eu não tinha o suficiente para todos. Apenas para Alaric.
Katrine levou meu pequeno para um lugar seguro e eu continuei minhas passadas.
Meu coração acelerava a cada passo que eu dava ao longo do corredor. Eu finalmente o veria de novo. Em uma situação complicada, mas eu o veria de novo.

Alaric estava em sua cama, tremia e se contorcia enquanto uma serva molhava um pano e em seguida o colocava acima do rosto. Me aproximei e fiquei parada uns instantes olhando o quão frágil ele estava. Pedi para que a serva se retirasse, eu estava no controle. Ele estava soando e ardendo em febre, suas feridas estavam bem expostas e vermelhas, certamente não duraria mais uma noite. Então, comecei a agir rapidamente. Retirei o lençol que lhe cobria e comecei a despi-lo, respiração estava acelerada, seu peitoral firme e forte subia e descia depressa, tentando encontrar ar.
Com o pano da sua cabeça, esfreguei a pasta sobre as feridas. Assim o feito, peguei o frasco com o chá e ergui de leve sua cabeça o obrigando a beber. Ele abriu os olhos e os apontou para mim.

—Alana?

Sussurrou.

—Shiiii. Não fala nada
Precisa beber, por favor beba.

Ele obedeceu. Fez uma careta, pois o gosto não era de bom agrado.

—Está mesmo aqui?

—Sim. Estou. Eu vim cuidar de vossa majestade.

—É perigoso. Vá...embora.

—Não se preocupe comigo. Descansa.

—Eu...eu mereço morrer.

—Vossa majestade não vai morrer. Eu não vou deixar.

—Ah Alana. Como...eu te amo. Te amo. Te...amo.

Foi fechando os olhos enquanto dizia que me amava. Alisei seu rosto, era tão bom ouvir aquilo.
Peguei o pano, mergulhei na água e o coloquei sobre a cabeça.

—Não vou deixá-lo morrer.

****

Já era noite. Alaric ainda não havia acordado. Era o efeito do chá, agia pelo corpo enquanto dormia. Logo a febre baixaria e Alaric despertaria. Eu estava sentada na poltrona próxima a cama lendo um livro que eu havia encontrado em seus aposentos. Eu tinha que fazer alguma coisa para distrair. Mas antes de me sentar para ler o livro, eu o observei por longos minutos. Ali dormindo tranquilamente, sua respiração aos poucos foi normalizando. Estava mais calmo, parecia um anjo.
Katrine chegou trazendo minha janta. Conversamos um pouco e depois se retirou. Peguei o livro e comecei a ler...

—Água. Água...

Ouvi um sussurro lá no fundo. Abri os olhos e percebi que eu estava sobre a poltrona e o livro que estava lendo caído no chão.
Díos.Peguei no sono.
—Água.

Levantei-me rapidamente e corri até o jarro, enchi a taça e levei até os lábios do rei. Satisfeito, deitou a cabeça no travesseiro e voltou a dormir.
Ele não viu que era eu que estava ali, pois não disse nada. Apenas bebeu a água, sem ao menos abrir os olhos.
A boa notícia era que a febre já havia baixado. E Alaric já estaria se sentindo um pouco melhor pela manhã... 

A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora