Palácio Graham 1810
Já se passaram dois dias desde quando meu filho nasceu e eu nem se quer sentir o cheiro dele. Só tinha notícias quando Katrine me visitava uma vez por dia. E mal trocava uma palavra, certamente fora proibida pelo rei.
E àquela altura Brian já deveria estar próximo a Gênova e logo a carta que eu enviara chegaria em suas mãos, mas o que poderia fazer? Alaric manteria meu filho preso como uma certa garantia, para que Brian não faça nada contra Inglaterra.
Mas isso era o que Alaric pensava. Brian não lutar contra ele, não tentaria tomar Inglaterra, na verdade, Alaric só queria me manter por perto, e essa era uma boa desculpa.Naquela tarde eu estava sentada de frente para a janela olhando o dia passar, já que eu ainda estava trancada no meu quarto por dias e mais dias, eu não tinha muito o que fazer, sem Katrine para conversar, sem meu filho para eu abraçar...Será que minha aflição nunca teria um fim...?
—Está pálida, milady.
Não havia visto ele chegar, quando percebi já estava diante de mim, sendo sarcástico. Não respondi nada, continuei olhando para o céu azul.
—Não gostaria de sair um pouco? Ver o jardim, o lago do seu pequeno?
Suspirei. Que chato. O que ele pretendia?
Continuei calada e olhando fixo para a janela. Ele deu uns passos à frente e parei diante de mim.
—Só depende de você, Alana. Vim para saber da sua resposta.—Sabe que não partirei sem meu filho.
—Então você fica?
—Eu não te entendo. Como pode ser duas pessoas ao mesmo tempo?
Ele estreitou os olhos.
—Às vezes me trata com carinho, é gentil...outra me trata como uma escrava, sequestra meu filho, é indiferente...Até proibiu a Katrine de me fazer companhia.—Eu dei a minha palavra que te deixaria ir com seu tio. E estou disposto a cumprir.
—Sim, mas quer que eu parta sem meu filho. O que pretende com isso?
—Seu filho será útil para mim. É uma garantia de que Brian não tente tomar meu reino.
—Brian não vai fazer isso, majestade.
—Alana, o desgraçado conseguiu escapar. Já deve estar na Irlanda para tomar posse do ouro do rei Luís. Com a falta de um rei, quem domina aquele país é a Inglaterra.
—Mas do que tem medo?
Ele hesitou. Caminhou até a janela e ficou olhando por alguns instantes.—Se eu te contar, aí você nunca mais poderá sair viva daqui.
Dei alguns passos até ele. O fazendo me encarar.—Teria coragem mesmo de me matar?
Me olhava meigo, seus olhos estavam serenos. Alaric não podia ser tão frio e monstruoso quanto aparentava. Ali diante de mim, toda sua arrogância e maldade sumiram.—Teria coragem de matar todos que conspirarem contra mim.
Saiu da sua boca e me enganei. Ele era frio e monstruoso.
Cielo.
Se teve coragem de condenar o próprio primo sangue do seu sangue, o que me fez pensar que me pouparia...?—Nem Brian nem eu estou conspirando contra a vossa excelência.
—Chega dessa conversa. Brian pode ter escapado agora, mas eu não vou desistir de pegá-lo, Alana.
—Não quer pegá-lo por isso. A verdade é que você sabe que nos amamos. Que temos um filho fruto do nosso amor. Que meus beijos, meus abraços, meu corpo é dele. E só ele pode tocar e me fazer delirar...
—Cala a boca!
—Confessa! É exatamente isso. Não é?
Eu provoquei sua ira. Ele veio para cima de mim com os punhos fechados me obrigando a dar uns passos para trás.
—Bate! Pode bater! Faça o que quiser. Me joga naquela cama, me violenta como tentou fazer uma vez, faça o que quiser. Isso só vai servir para meu ódio aumentar por você! Saiba, Alaric, que a única coisa que eu vou sentir por você é asco!
Falei sem pensar.
Ele me olhava furioso, mas imóvel.—Eu nunca...bateria em você, Alana. Quanto te jogar naquela cama e violentar você...te dou a minha palavra que isso...nunca vai acontecer, Alana...
Ficamos uns instantes olhando um para o outro, até ele girar o corpo e caminhar até a porta.
—Mas você ainda vai me pedir, não à força, mas vai me implorar para fazer amor contigo.
Era só o que me faltava.—Nunca!
Respondi assim que ele fechou a porta. Só podia ter batido a cabeça é lógico. Peguei um travesseiro que estava sobre a cama e lancei com tanta raiva na porta que já estava fechada. Eu só sabia chorar, chorar de ódio...***
No dia seguinte acordei com um choro de criança, quando abri os olhos vi Alaric ao meu lado segurando meu pequeno. Chorei outra vez, mas de emoção. Finalmente conheci meu bebê, vi seu rostinho pela primeira vez. Me levantei em ligeiro erguendo os braços para pegá-lo. Eu precisava sentir nos meus braços, olhar em seus olhinhos e me apresentar como sua mãe. Mas Alaric se esquivou e se afastou o mais longe possível de mim.
—Por favor!
Implorei ainda com os braços erguidos.
—Deixa eu segurar o meu filho. Por favor.—Tem uma resposta para me dar?
Subi meus olhos para Alaric. Eu não tinha tempo para pensar. Nem tinha o que pensar.—Não vou partir sem meu filho majestade.
Ele sorriu de canto.—Mas se partir, terá que ir sem ele.
Covarde.Se aproveitava da minha fragilidade.—Eu fico. Mas tenha certeza de que não será por muito tempo. Porque Brian dará um jeito de nos tirar daqui, e iremos com ele para bem longe, onde vive nunca irá tocar seus pés. E vamos viver. Felizes para sempre. Porque nos amamos, majestade. E nada do que fizer irá mudar o que eu sinto por ele...Amor. Amor, majestade. Sabe o que é isso?
Ele já não olhava em meus olhos. Apenas ouvia cabisbaixo e calado. Agiu assim por alguns segundos até caminhar em passos lentos em minha direção, meu filho ainda chorava. Quando se aproximou, entregou meu bebê e me olhou nos olhos novamente. Meu corpo gelou. Ele ia me matar com certeza. Minha respiração estava ofegante, meu pequeno se calou ao sentir meu cheiro. Alaric estendeu a mão e vagarosamente colocou uma mecha do meu cabelo para trás da orelha, segurou meu rosto com as mãos e aproximava seu rosto junto ao meu. Cielo. Ele ia me beijar. E beijou, não nos lábios como pensei, mas acima dos olhos.—É o que veremos, minha doce Alana.
Girou e saiu tão depressa que nem tive tempo de reagir. Não entendi, foi uma ameaça carinhosa...?
Ele me encabulava. Bipolar?
Alguns minutos depois, tio Rick entrou no quarto e veio logo me abraçando.—Alana!
—Ah tio! Gracia Dios!
Nos abraçamos com tanta saudade que levou alguns segundos para a gente se soltar.
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A favorita do rei
RomanceCAPA FEITA POR: @Bihsoares3 Devido a uma epidemia de peste no ano de 1800,Alana Dewit perdera seus pais ainda quando criança.Por medo da peste atingir sua sobrinha, Rick,seu único parente vivo,se viu obrigado a afasta-la da pequena aldeia da onde el...