Capítulo 14

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Atitudes erradas,marcam para sempre...

Tio Rick passou o dia inteiro preocupado com que o rei podia fazer contra mim. Para ele, eu não deveria ter recusado pela segunda vez o convite e o presente do rei. Mas e eu? Ninguém me perguntou o que eu queria. Sempre a vontade do rei em primeiro lugar. Não tinha que ser daquele jeito.
Afinal, não entendia a cisma que o rei tinha por mie Ele podia ter quem quisesse. Pôr qual motivo?
Eu não cederia. Não importava quantas vezes tentasse.

Tio Rick estava se banhando enquanto eu preparava a mesa para o jantar. A noite estava fria e não se via a lua no céu, pois as nuvens carregadas a cobria. Logo a chuva não demoraria a cair. O que me deixou preocupada. A última chuva forte deixou estrago e muitas pessoas ficaram sem teto por causa da enchente.
Caminhei até a sala e percebi que a lareira precisava mais de lenha, o fogo estava baixo e não estava aquecendo.

—Tio, estou indo lá fora pegar mais lenhas.—esperei uma resposta, mas não obtive. Estava entredito no banho, eu não ia demorar.
Quando abri a porta, fui surpreendida por um clarão no céu, em seguida um estrondo ensurdecedor. Pensei se deveria ir até onde tio Rick guardava as lenhas, num estaleiro no fundo da nossa casa.
Olhei a minha frente, tudo estava escuro, mas ao longe se ouvia cavalgadas que se aproximavam cada vez mais depressa.
Assustada, entrei e bati a porta e olhei cuidadosamente pela janela. Por que eu estava assustada?Certamente era alguém indo para casa depois de um longo dia de trabalho.

—Disse alguma coisa, filha?
Tio Rick se aproximava ajeitando-se na roupa de dormir.

—Eu só ia buscar mais lenhas.
As cavalgadas silenciaram. Olhei novamente pela janela e meu coração gelou quando vi o brasão da família real estampada na carruagem luxuosa da realeza.

—O que foi?—tio Rick perguntou curioso. Eu não consegui dizer uma palavra. Os guardas desceram de seus cavalos e ficaram em escolta enfrente a carruagem enquanto alguém saía dela.
—Mas é o rei em pessoa!
Tio Rick exclamou olhando pela janela.
Como assim o rei?
Ele ficou uns instantes parado olhando tudo ao redor. Estava usando uma túnica longa que cobria toda a sua vestimenta. Os guardas iluminavam seu caminho enquanto se aproximava.
Dei uns passos para trás aflita. Tio Rick olhou para mim preocupado.

—Filha, você não devia recusar o convite do rei.

—Tio, o que será de mim?

—Pediremos clemência.
As batidas fortes na porta só me deixaram ainda mais nervosa. Ele não ia ter clemência.

—Calma.—tio Rick abriu a porta e o olhar do rei mostrava que estava furioso.
—Majestade? Sou apenas um humilde mercador e minha casa não tem o conforto que vossa alteza merece. Mas queira entrar, por favor. É uma honra recebê-lo.
Tio Rick abriu o caminho e o olhar do rei se direcionava a mim enquanto entrava lentamente.
—Essa é minha sobrinha Alana .Veio da Espanha algumas semanas.

—Eu sei muito bem quem ela é e de onde ela veio.—ele deu mais uns passos em minha direção.—e eu ainda tenho a marca da bofetada que me deu no rosto.

—Como?—Tio Rick perguntou incrédulo.

—Sua sobrinha me deu uma bofetada alguns dias atrás na cachoeira, senhor.

—Alana? Fez isso? Bateu no rei?

—Eu...não sabia tio. Ele me atacou e eu só...me defendi.

— Filha, que você fez?
Ele passou a mão no rosto sem acreditar no que acabara de ouvir.

—Faça logo o que tiver de fazer, mas não faça nada com meu tio.

—Fazer o que? O que seria o castigo adequado para uma agressão contra seu rei?

—Por favor, majestade. Castigue a mim, mas poupe minha sobrinha.

—Não! Tio eu sou a culpada. Deixa meu tio e irei para prisão e aceitarei minha condenação sem excitar.
Ele estreitou os olhos e se aproximou mais de mim, estava tão próximo que pude sentir seu hálito quente no meu rosto.

—Por que recusou meu convite e meu presente, senhorita?
Franzi o cenho. Então era só isso? Foi tirar satisfação só por que não aceitei seus caprichos?

—Sou uma simples camponesa,majestade.Não...me adaptarei a corte. Enquanto ao presente...sei muito bem o que pretende...majestade.

—E o que eu pretendo, senhorita?
Alisou delicadamente meu rosto, eu desviei.

—Conheço muito bem a fama que tens, majestade. E eu não sou esse tipo de mulheres.

—Pode especificar?—seu tom de voz não era mais o mesmo.
Olhei para tio Rick que me encarava tentando avisar para eu não falar o que estava pensando.

—Majestade, não sou como as mulheres que está acostumado. Não sou comprada por presentes e nem por um lugar na corte. Tenho minha dignidade e...não posso atender seus caprichos.
Pronto, falei.
Aquele homem tinha que saber que Alana não era comprada.
Seus olhos ficaram vermelhos de raiva, olhava para mim como se quisesse me enforcar com suas próprias mãos.

—Vim disposto a levá-la, senhorita.
Ele se virou e caminhou à saída.
—E virá comigo.
Franzi o cenho.
Mas que ousadia.

—A majestade não entendeu? Eu não irei a lugar nenhum.
Ele parou e deu uma olhada para um dos guardas que estavam ali. Parecia um sinal, pois o guarda assentiu e de imediato empunhou a espada ameaçando a cortar o pescoço do tio Rick.

—A senhorita não entendeu?—ele girou o corpo e me olhou friamente.
—Tens uma dívida comigo. Poupei sua vida quando me deu aquele tapa. Agora está na hora de pagar.

—Filha, vá.
Tio Rick implorou.

—Por favor, majestade.
Minha voz saiu em súplica.

—Não precisa levar nada.—ele estendeu a mão para mim com um sorriso diabólico.
Olhei para tio Rick, aquela espada o ameaçando, seu olhar aflito, não por ele, mas por mim. Era tudo minha culpa, eu não podia ter recusado o rei.
Um estrondo quebrou o silêncio entre nós.
—Rápido, senhorita. Pretendo chegar ao palácio antes que a chuva caia.
Mais uma vez olhei para tio Rick. Eu não queria deixá-lo sozinho. Ele precisava de mim.

—Por favor, majestade. Leve a mim. Castigue a mim! Por favor, majestade. Eu já vivi o que tinha que viver. Mas Alana ainda é jovem! Clemência, majestade!
Uma lágrima insistiu em cair e eu não pude impedir. Eu não podia deixar tio Rick pagar pelo o erro que eu cometi.
Olhei para o rei e meu ódio pairou de imediato.
Caminhei até a porta sem segurar sua mão estendida, nem olhei para trás. Apenas subi na carruagem com ajuda do cocheiro logo em seguida, o rei mimado subiu e se sentou de frente para mim.
Seguimos viagem em silêncio, eu não suportava olhar para ele.
O olhar desesperador do tio Rick ficou na minha cabeça durante todo o caminho.
Eu ia morrer, e ele ficaria sozinho para sempre...


A favorita do reiOnde histórias criam vida. Descubra agora