Capítulo 72

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Thayane narrando...

Demorou muito, custou muito. Houve momentos em que a dor foi tão intensa que a única vontade que eu tinha era de pôr fim a tudo, de deixar que o sofrimento me consumisse por completo. Não queria mais viver. Parecia que não havia mais razão para sorrir, mas, apesar de tudo, eu consegui dar a volta por cima.

Não vou negar, foi difícil. Passei por decisões que, muitas vezes, pareceram impossíveis. Precisei pensar no meu futuro e no do meu filho. Não podia mais agir por impulso, sem refletir. Chorei, me vi tomada pelo medo e pela tristeza, e em alguns momentos, me fechei para o mundo. Quis ficar distante de todos, e isso, de certa forma, me fortaleceu.

Minha vida mudou de diversas maneiras. A começar pelo meu caráter, que foi lapidado nas dificuldades. Me tornei uma pessoa mais responsável, mais centrada. Deixei para trás os homens e as baladas, passei a focar no que realmente importava. Comecei a lutar, a trabalhar para me sustentar, para garantir o essencial. E, aos poucos, minha vida foi se ajustando, como se, de alguma forma, o próprio destino estivesse me guiando.

Cada cicatriz que carregamos é a evidência de que a ferida cicatrizou. As cicatrizes são marcas de superação, sinais de que fomos capazes de suportar a dor e seguir em frente, sem perder a coragem.

Meu filho, razão de minha luta, completa hoje quatro semanas de vida. Lembro-me claramente da primeira vez que o segurei nos braços. Era tão pequeno, tão frágil, mas já possuía em seus olhos a força do pai. Lorenzo, apesar de tão jovem, já tem sua personalidade forte. Quando tento afastá-lo de mim, ele começa a se agitar, a gritar e a procurar o peito.

É impressionante como ele se parece com Kevin. O nariz, a boca, os olhos, até o cabelo, moreno e liso, tudo nele me lembra o pai. Às vezes, isso me dói. Olhar para o meu filho é como olhar para o passado, para um tempo em que Kevin ainda estava ao meu lado.

Nos últimos dias, dediquei cada momento ao meu filho. Aluguei uma casa distante das áreas movimentadas, um local tranquilo e isolado. Precisava respirar novos ares, sentir o cheiro da paz. A chegada de Lorenzo mudou tudo. Eu precisava mudar por ele, para ele.

As pessoas falaram, me julgaram, espalharam rumores e fofocas nas redes sociais, dizendo que eu estava sendo ingênua, que deveria ter ficado onde estava. Mas nada disso me atingiu. Minha decisão estava tomada. O que importava era o que estava por vir, e eu não voltaria atrás.

Que falassem o que quisessem, não me importava. O povo fala sem saber a verdade, sem conhecer o todo. E eu já não estava mais disposta a me importar com isso.

Não voltei para ver Kevin por um impulso. A verdade é que ele foi minha maior decepção. Fez coisas que jamais imaginei que ele seria capaz de fazer. Mas, apesar de tudo, não o desejava mal. Nunca desejei. Sempre quis ver sua felicidade, mesmo que tivéssemos tomado caminhos diferentes. Ele foi o meu primeiro amor, e isso nunca será apagado.

Não o perdoei, e nem disse que voltaria com ele. Mas quando quase perdi o meu filho, percebi o erro que estava cometendo ao esconder a paternidade. Kevin pode ser rude, imaturo e impulsivo, mas ele ama as crianças. E, embora eu tenha crescido sem a presença de um pai, não queria para o meu filho o mesmo sofrimento.

Estava reclinada na cabeceira da cama, amamentando meu príncipe pela milésima vez. O cansaço era imenso, meus olhos estavam pesados, o cabelo embaraçado. Sentia como se não tivesse dormido nos últimos dias, mas, mesmo assim, eu não me cansava. Cada gesto de Lorenzo, cada olhar seu, era um novo motivo para continuar.

Lorenzo tem o hábito de dormir durante o dia e de ficar acordado à noite. Quando está acordado, adora mexer no meu nariz ou nos meus cabelos. E, se tento fazer com que ele pare, ele começa a chorar. Quando finalmente ele adormeceu, com os olhos delicadamente fechados, coloquei-o com muito cuidado sobre a cama. Ajustei as almofadas ao redor e fui até a cozinha preparar um café forte, algo que me desse o ânimo necessário.

Meu Novo RecomeçarOnde histórias criam vida. Descubra agora