Prólogo

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5 anos atrás...

Assim que avisto o último cliente da lanchonete agradeço a deus e dou um suspiro de alívio, o que mais quero é chegar em casa e dormir até as aulas terminarem, mas infelizmente como dizem querer não é poder! Como venho fazendo à uma semana, assim que chegar em casa vou pegar nos livros e passar mais uma madrugada acordada!

Isabella: Boa noite senhora, o que deseja — dou um sorriso profissional —

Cliente: Boa noite, vou querer um Milk Shake de morango por favor — retiro o pequeno bloco de notas do avental, uma caneta e anoto seu pedido —

Isabella: É tudo? — ele assente — Cartão ou dinheiro? — pergunto —

Ele retira vinte reais do bolso e me entrega.

Isabella: Obrigada, minha colega irá trazer o vosso pedido e o troco também. — caminho até o caixa e entrego o pedido à Márcia —

Márcia: Louvado seja o senhor, minhas canelas estão festejando porque é o último cliente não tô podendo mais não, tenho a impressão que vou desmaiar de tanto cansaço — reclama —

Isabella: Nem me fale, vou me trocar e depois a gente vai — ela assente —

Márcia é minha amiga quase irmã, é a única que me ajuda quando preciso, conhece a minha situação e me apóia em qualquer decisão, pra falar verdade nunca tive muitos amigos nem amigas sempre gostei de ficar no meu canto às vezes dizem que eu é que não me dou bem com as pessoas, que sou muito tímida ou então não ligo pra minhas amizades, de um lado é verdade odeio me apegar as pessoas e no final me dar mal, prefiro ter 1 amiga que esteja ao meu lado quando mais preciso, nos momentos ruins e bons do que ter 256 amigas que só lembram se mim quando elas precisam.

Retiro meus sapatos pretos, a sensação é como se meus pés tivessem respirando, já faz dois anos que utilizo os mesmos sapatos, o dinheiro que eu ganho não é suficiente pra comprar outro, nem pra me ostentar.

Tenho que pagar meus estudos, as dívidas dos meus pais e comida se sobrar algum dinheirinho guardo para o lanche na escola, as vezes em casa não têm nada pra comer passo um dia até dois dias sem botar um pedacinho de pão, minha mãe nem se importa mais se eu como ou não, meu pai finge que não me conhece, já apanhei várias vezes por motivo nenhum, minha mãe quando não têm dinheiro para beber desconta em mim, meu pai a mesma coisa quando têm falta de droga me espanca sem piedade.

Muita vezes cheguei a me refugiar na casa da Márcia mas sua mãe também não é flor que se cheire.

Foram tanta das vezes que cheguei na escola com hematomas no rosto e tive que mentir dizendo que eu tropecei em algo e me machuquei, no verão tenho vergonha de mostrar meu corpo algumas cicatrizes são visíveis dói em pensar que essas marcas nunca vão sair do meu corpo ficaram marcadas na minha pele e na minha alma.

Fico pensando se não gostam de mim ao ponto de me tratar como um lixo, porquê que não me abandonaram ou doaram a um orfanato? No momento onde ela descobriu a gravidez porque não fez aborto? Não pedi pra nascer nem sofrer.

Márcia: Já ta pronta vadia? — pergunta batendo na minha bunda —

Isabella: Já, vai pegar o ônibus?  — seguro meu cabelo num coque firme e pego minha bolsa —

Márcia: Não desculpa miga, mas o Felipe vêm me buscar — dá um sorriso amoroso —

Reviro os olhos em protesto, já avisei a Márcia que ela deve parar de pegar monte de homens por semana e depois se iludir com o amor, dinheiro e promessas, porque depois sou eu que tenho que passar o dia inteiro consolando a mesma!

Isabella: De boa só não esquece de usar o preservativo viu — ela mostra a língua —

Saímos juntas da lanchonete, um Peugeot 3008 estava estacionado em frente do estabelecimento, Márcia me deu um beijo na bochecha e saiu correndo em direção do carro.

Às vezes tenho medo que ela se magoe com todos esses homens na vida dela, com 14 anos já não é virgem e faz o que quiser da vida tento lhe indicar os bons caminhos mas essa daí nasceu torta e não vai se endireitar cedo não, seus país mal se importam com a vida dá filha!

***

Depois de comer os restos de ontem que já estavam um pouco azedo por conta do calor, decidi ir revisar minhas notas na escola estão cada vez mais baixas e tenho medo de reprovar em algumas matérias. Pego meus cadernos dentro da bolsa e me sento naquele velho e sujo colchão que eu chamo de cama.

Minha casa é bem pequena, só tem 1 quarto, a sala e a cozinha são no mesmo cômodo. Eu durmo no chão da sala e os meus pais no quarto, a gente mal se fala ou melhor eles só falam comigo para perguntar quando é que recebo meu salário.

A porta de casa é aberta com a garrafa na mão, corpo acabado e bêbada minha mãe entra com dificuldade cambaleando pros lados, ela escorrega na urina que estava na porta e caí.

Imediatamente me levanto e caminho até a ela, sim mesmo sendo maltratada pela própria eu lhe amo mais que tudo nessa vida, me agacho no chão e tento ajuda-la a se levantar mas Lúcia me surpreende.

Lúcia: Sua vadia a culpa é sua, não te mandei limpar esse chiqueiro — desfere um tapa no meu rosto — Tira essas mãos imundas do meu corpo — diz com dificuldade —

Uma lágrima desce do meu rosto, faço de tudo para não desabar alí, na sua frente. Sem dizer nada levanto a deixando ainda sentada no chão e volto pró meu cantinho estudar.

Lúcia: Tá surda caralho larga essas merdas e vai pegar o pano, quero ver essa casa brilhando,nem sei porquê você ensiste nessas besteiras de estudar, você nunca vai ser alguém nessa vida, nunca, a partir de hoje é trabalho casa, casa trabalho se eu saber que tu tava na escola eu te mato!

É incrível a facilidade dela falar essas coisas para sua filha, me proibir de estudar e seguir meus sonhos? Que tipo de mãe é essa, que quer ver a destruição da própria filha?

Meu Novo RecomeçarOnde histórias criam vida. Descubra agora