Capítulo 23

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Mariana

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Mariana

Acordei atrasada.Quando olhei o horário no meu celular, percebi que já tinha perdido a primeira aula de qualquer jeito, mas me arrumei o mais rápido possível pra conseguir chegar na segunda.

Desci as escadas voando enquanto rezava para que o Gustavo ainda não tivesse saído, pra me dar uma carona.Depois da briga de ontem, Bruno com toda a certeza ficaria de cara fechada pra mim e não cederia nem um banquinho de carro.Pra minha infelicidade, nenhum dos dois estavam em casa.Qual era a dificuldade de me acordar, Jesus?

Numa hora dessas com certeza o Bruno tava trabalhando na loja, o Gustavo comandando a boca e o ponto de ônibus lotado.Depois de muito pensar numa solução, minha maior cara de pau, disquei o número de Zé na esperança de que ele pudesse me dar uma caroninha básica pro outro lado da cidade.

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Zé:Fala tu!

Mari:Oi, Zé!Cê tá ocupado? —perguntei, ainda envergonhada pela minha futura atitude inconveniente.

Zé:Pra tu tô livre — riu, e eu acompanhei — Manda aí, qual é a boa?

Mari:É que eu acordei atrasada, sabe? E os meninos nem tiveram a decência de me lembrar do horário.

Zé:Iaí?

Mari:É que eu queria uma carona pra zona sul... pra ir pra escola — mordi o lábio — Mas se estiver ocupado, esquece, tá? — me apressei em dizer —Qualquer coisa eu me viro aqui.

Zé:Quer me quebrar, né Marizinha... —ouvi ele ficar quieto um tempo — Mas tranquilo, vou falar com GN aqui, ver se me libera da boca e aí eu aviso tu, beleza?

Mari:Tá bom — sorri — Muito obrigada Zé, sério!

Zé:Certo.Falou, Mari!

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Depois de um tempinho, recebi uma mensagem do Zé, confirmando a carona.Peguei minha mochila e saí de casa, enquanto esperava do lado de fora sentada ele chegar.Ouvi uma buzina aguda e quando olhei pra frente, tava o Zé numa moto, segurando dois capacetes na mão.

— Vamo? — me olhou, sentada na calçada.

— A gente vai de moto? — falei receosa, enquanto me aproximava.

— Isso — me entregou um dos capacetes  — Tá com medo? — franziu a testa

— É que eu nunca andei de moto... — fiz careta.

— É patricinha mesmo — sorriu — Sobe na garupa aí que cê vê como é bom —apontou com a cabeça pro espaço atrás dele.

Ainda receosa, coloquei a mochila com firmeza nas costas e subi na moto, colocando meus braços em volta do corpo do Zé.Depois de explicar o caminho até a escola, ele voou com aquela moto, me rendendo uns bons gritos e umas boas risadas dele.

Gustavo

Namoral?Fiquei inquieto mesmo.Zé saiu da boca pra buscar Mariana pra ir pra escola.A garota tava querendo o quê?Fazer a quebrada toda de motorista? Falo é nada.Entendi também não porque ela não ligou pro Bruno ou pra mim.

— Liga pro Zé falando que é pra ele demorar não que tamo cheio de encomenda, rápido — apressei um dos vapores, enquanto colocava um cigarro preso na boca, acendendo com meu isqueiro.

— Ué chefe, ele saiu agorinha - falou pegando um celular — Deve voltar tão cedo não, disse que ia levar uma mina pra escola — sorriu — Aí tu sabe como procede o negócio, né — tentou pegar meu beck, mas eu desviei.

— Qual foi patrão? — ele me olhou estranho — Deixa eu dar um tapa.

— Que que tu tá insunuando? — dei uma tragada, soltando a fumaça no ar — Tá com ideia errada aí pô, Zé e Mari tem rolo nenhum não — olhei pra ele, franzindo a testa.

—Torcer pra irmão nosso né porra — ele pegou um cigarro, acendendo —Ouvi falar que ela é boa — balançou a cabeça num sorriso filho da puta, soltando fumaça no ar.

— Vai tomar no teu cu!— joguei uma parte do estoque de droga na minha mesa com certa força, olhando pro vapor — Quero tudo entregue pra ontem —  mandei, saindo da minha sala.

"Ouvi falar que ela é boa".Mal mal apresentei Mariana pros muleques mais chegados e já tem mané fazendo comentário.Isso que Bruno avisou pra não cair em cima.

Queria só saber de onde tavam vindo esses papinhos que não chegavam no meu ouvido.

Fui pro núcleo do morro falar com os moradores, ver se tava tudo certo ou se alguém tava necessitado de alguma coisa.Aproveitei pra fiscalizar entrada da boca e segurança na entrada da favela.Como a sorte não anda comigo, veio Vanessa atrás de mim tirando minha paz.

— Tu vai no baile hoje né? — desceu o morro atrás de mim.

— Sei não Vanessa, tô com coisa mais importante pra fazer — continuei andando, olhando pra frente.

— Nem começa, GN — falou num tom esganiçado, me fazendo revirar os olhos — Você vai comigo — entrou na minha frente — Primeiro baile depois da minha volta pra esse morro, é pra comemorar — cruzou os braços, me olhando igual uma criança.Inferno.Conheço bem a Vanessa pra saber que ela não sabe ouvir não de ninguém, então mesmo com vontade zero de sair com ela, acabei cedendo.

— Beleza — falei bufando, enquanto ela dava uns pulinhos sorrindo —Mas vamo ficar até clarear não, deixo de aviso — disse rápido e meti o pé dali num segundo.

No caminho da escola, só fiz rir com Mariana parecendo uma maluca berrando na garupa da minha moto.

— Você é doido — Mariana suspirou de alívio quando eu parei em frente a escola — Acho que eu fui no céu e voltei umas trinta vezes — ela tirou o capacete, rindo.

— Mal aí se eu conduzo meu motô de um jeito que tu nunca viu antes —pisquei pra ela, tirando meu capacete.

— Não mesmo — me entregou o capacete dela e ajeitou a mochila nas costas — Obrigada de verdade, Zé — me deu um beijo na bochecha — Sei que é um saco atravessar essa cidade todinha.Como posso te recompensar por essa atitude tão cavalheira? — falou brincando, mas ficou me olhando esperando uma resposta.E eu pensei.

— Ó... — cocei a nuca— Vai ter um baile hoje, se tu quiser ir comigo, é foda. — sugeri, e ela sorriu.

— Fechado — me deu um abraço rápido — Cê passa pra me buscar? — ela perguntou e eu balancei a cabeça, fazendo que sim.Ela só sorriu enquanto entrava na escola correndo, e eu acelerei a motoca indo de volta pra favela.

Amor de drogaOnde histórias criam vida. Descubra agora