Capítulo 58

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Mariana

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Mariana

Ele estava na minha cabeça noventa por cento do tempo.Era deprimente e constrangedor sempre ser avistada por Bruno ou Julia chorando pelos cantos.

Eu estava com saudade, mais do que tudo.Mas grande parte da tristeza também era pela agonia.A primeira noite no apartamento da Julia foi dedicada aos meus pensamentos em relação a Gustavo.

Por quê ele tinha me mandado embora?Por que mudou de um dia pro outro?Como ele estaria?

Três semanas pós expulsão, eu já estava um pouco melhor.Um pouco.Foi legal ver que Julia e Bruno faziam absolutamente tudo pra me deixar mais animada.Nunca discutiam quando eu estava perto, me mimavam nas mínimas coisas.

Eu tinha me aproximado um pouco da minha amiga e do meu irmão nesses últimos quatorze dias.Foram incontáveis as vezes que Julia me pediu desculpa nesse meio tempo, e com o Bruno não foi diferente.

Mas eles dois não estavam juntos.A relação deles ultimamente, pelo que me parecia, era restritamente voltada à mim, como se de repente, pra Julia, Bruno tinha voltado a ser o irmão da melhor amiga dela, e pra Bruno, Julia era apenas a amiga de sua irmã mais nova.

Mas os olhares não enganavam.Ainda se gostavam, qualquer um perceberia.

— Quem faz o jantar hoje? — Bruno perguntou, a lista de compras na mão, escorado no balcão da cozinha.

Sábado a noite.Tínhamos feito o acordo de comer o máximo possível em casa, sem saídas pra restaurantes ou deliverys.Mais pessoas no apartamento, mais despesas.Precisávamos economizar, o que minimizava as saídas nos fins de semana.

Isso resultou em jantares as sextas e sábados, que eram até divertidos.

— Minha vez hoje! — Julia se pronunciou, sentando num banquinho — O que vamos jantar?

— Tô afim de estrogonofe — Bruno se pronunciou, no que eu assenti com a cabeça.

— Pode ser então! — Julia deu de ombros e eu vi Bruno escrever no bloquinho a provável lista de ingredientes.

Ele pediu pra que eu o-acompanhasse e ajudasse nas compras.Mal entramos no carro, Bruno começou a falar no assunto proibido.

— Quando você vai no morro pegar o resto das suas coisas? — forçou uma normalidade inexistente no assunto, enquanto saía da garagem.

— Eu não vou — me encolhi no banco — Esperava que você pudesse fazer isso por mim.

Bruno me olhou de relance por um segundo, e logo assentiu com a cabeça.

— Tem certeza?

— Absoluta.Pode fazer isso semana que vem?

Bruno movimentou a cabeça afirmativamente.

— Passo lá na segunda.

Eu só murmurei um "obrigada" baixinho e seguimos todo o resto do caminho em silêncio.No exterior, pelo menos.Minha cabeça estava cheia de pensamentos barulhentos.

Eu tinha uma pontinha de vontade de ir até lá.De esfregar na cara dele o quanto tinha melhorado(ou o quanto parecia ter melhorado), talvez questionar o motivo pelo qual ele me afastou.Ver como ele estava.

Mas isso não passaria de uma vontade, bem escondidinha, lá no fundo, acumulando pó.Não estava nos meus planos reais uma visita breve ao Gustavo.Minha intenção era ficar sem vê-lo por um bom tempo, isso era o que eu dizia para Julia e Bruno.

Tinham se passado apenas três semanas, quase um mês, desde que eu tinha saído do morro, mas parecia mais.Parecia que eu não falava com Gustavo há um século.

Eu me pegava pensando nele.Muitas vezes.As vezes parada, no meio do sofá, em meios ao devaneios do pensamentos.

"Tá pensando em quê?" Julia perguntava sorrindo, ao me ver olhando estática pra algum ponto fixo.

"Em nada" sorria do jeito mais convincente possível, mesmo sabendo que ela me conhecia o suficiente pra acreditar naquela atuação fajuta.

Eu e o Bruno fomos rápidos nas compras.Voltamos pra casa em menos de uma hora, deixando que Julia finalizasse o trabalho dali.

— Tá quase pronto! — ouvi Julia gritar da cozinha.

Eu e Bruno organizávamos a mesa na varanda.Assim que terminamos de acomodar os talheres, Julia avisou que o estrogonofe estava definitivamente pronto.

Nos sentamos na mesa da varanda e, por um longo tempo, nos mantivemos em silêncio, comendo.

— A comida tá muito boa — Bruno comentou, desprecavidamente.

— Obrigada — ela respondeu simples, lançando um olhar para meu irmão.Ele pareceu não perceber, deu outra garfada.

E o silêncio reinou novamente, por um breve instante.

— Então — Julia se remexeu na cadeira — As provas de vestibulares estão chegando de novo, né? — olhou pra mim e deu um longo gole na sua coca-cola.

— Uhum — assenti com a cabeça — Mas esse ano eu só vou tentar para as federais.

Bruno me olhou com certa culpa.Toda a poupança para a minha faculdade tinha se esvaído no sustento que precisávamos ter quando fomos morar no morro.Eu apenas acenei a mão e mexi a cabeça, como se dissesse para que ele não se preocupasse com isso.

Não que eu estivesse completamente preparada.Longe disso, principalmente com a minha cabeça nesse turbilhão de sentimentos.Mas era minha única opção.No ano passado eu não tinha tido certeza sobre o que queria cursar ainda, mas agora eu já estava decidida.

— Jornalismo — foi o que eu disse, quando Bruno finalmente perguntou.

— E você? — meu irmão direcionou sua pergunta a Julia, provavelmente pra puxar assunto.

— Eu estava pensando em enfermagem ou fisioterapia — ela respondeu, e então virou o olhar pra mim — Sabe, acho que isso vai nos fazer bem.

— O quê? — franzi o cenho

— Focar em algo que queremos.Acho que vai ser ótimo você fazer algo por si — esboçou um sorriso reconfortante, que eu retribuí.

— É verdade — meu sorriso se alargou ao pensar na ideia.Talvez ultimamente eu estivesse tão imersa nos meus sentimentos barulhentos que acabei esquecendo que outras coisas também me importavam.Eu também queria aquilo.

O sentimento de ansiedade me pegou subitamente.Comecei a sentir um friozinho na barriga em relação àquilo, mas era uma sensação boa.Eu precisava fazer algo por mim.

— Vai ser ótimo mudar os ares, conhecer novas pessoas — ela continuou, ao ver que eu tinha me empolgado com a ideia — Né? — olhou Bruno, buscando confirmação.

— É — sorriu para minha amiga e depois pra mim — Vai ser ótimo, Mari.Mas pra isso você tem que se esforçar muito agora nessa reta final.Você sabe disso, né?

— Eu sei — confirmei com um aceno de cabeça — Eu vou me esforçar o máximo possível, eu prometo.

E estava falando sério.O que eu mais queria era sair daquele buraco, fazer algo que gostasse e que acrescentasse algo pra mim.

Aproveitei o domingo como um último dia de descanso.Na segunda-feira eu enfiaria a cara nos livros.

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Muito muito muito obrigada pelo carinho que vocês têm pela história, e que os leitores novos sejam muito bem-vindos!❤️

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Amor de drogaOnde histórias criam vida. Descubra agora