CAPITULO VIII

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CARLOS

ELA PASSOU a mãozinha no meu rosto e tentou sorrir.

— Tio Ca... Você tá com barba.

— O tio tava tentando virar o Papai Noel, princesa!

Ela riu e a terapeuta saiu me deixando sozinho com minha pequena.

— Você não vai viajar de novo né, Tio Ca? Não vai me deixar sozinha, né? Você nem se despediu de mim... - ela fez carinha de choro.

— Oh, meu amor, não. Não chora. Eu não vou a lugar nenhum sem você - então soube que foi aquilo que o pai contou a ela, que eu tinha viajado.

— Faz cafuné, tio Ca.

— Faço, amor! - deitei na cama com ela e ela colocou a cabecinha no meu peito. Tomei cuidado com o soro em seu bracinho, enrosquei meus dedos em seus cabelos e me permiti chorar para aliviar a dor e desespero que fiquei ao saber que ela não tava bem.

Acabei dormindo ali, com ela.

Na verdade, eu não dormia bem desde o ocorrido no aniversário dela. Ia para o trabalho, via o dia virar noite e a noite virar dia, não sabia nem em que dia da semana eu estava mais. Dormi várias vezes no quartinho que eu tinha feito para ela. Sim, chorei horrores ao sentir sua falta e imaginar que tudo que havia montado em minha casa, ela nunca iria usufruir.

Fiquei pensando que a tal briga que o pai dela arrumou comigo, foi justamente para não permitir que a filha fosse dormir e ficar comigo na minha casa no meu fim de semana. Eu, nesse tempo, tentei entender como eu poderia ficar daquela forma por conta de uma criança que nem minha filha era, e não achei resposta.

Acordei com a Clara me chamando.

— Carlos! Você não pode ficar deitado na cama do paciente.

— Clara tenha dó. Eu estou há dias longe dela. Eu precisava dela assim, para saber que tava tudo bem - olhei minha pequena dormindo tão tranquila no meu peito — Olha, ela tá bem, não tá?

— Ao menos a febre baixou... Só que durante o dia ela fica bem, a coisa piora no fim da tarde.

— Que hora é essa? Eu não liguei para o trabalho pra avisar nada. Que merda!

— Relaxa, Carlos. Hoje é sábado!

Eduardo entrou no quarto e eu abracei minha pequena.

— Acho que precisamos conversar - ele me disse.

Saí do quarto para conversar com o Eduardo e fomos até a capela do hospital, nos sentamos e o Eduardo começou a falar.

— Olha Carlos... eu... exagerei, muito. Ver minha filha, convulsionar e saber que parte daquilo era culpa minha... Me deixou muito chateado. Eu... quero te pedir desculpas.

— Eduardo, eu sei que você é o pai dela, que na sua cabeça, você só queria o bem pra ela. Mas a sua cabeça também é um penico cheio de merda! Eu não consigo entender até agora, como você pôde pensar que eu abusaria da Nina? Eu amo a minha princesinha...

— Eu tenho que admitir que sua relação com ela me causa ciúmes... E um pouco de raiva.

— Raiva?

— A Nina, muitas vezes, prefere estar mais com você do que comigo. Ela sabe mais de você, que de mim...

— Não é verdade. Ela admira muito você. Ela me disse que você é o super-herói dela.

— Mas é você que ela diz que ama... "Um tantão assim"- ele engoliu a seco — Ela sabe qual sua cor preferida... sua comida preferida... o suco que você mais gosta... ela sabe muito de você. Assim como você sabia da Adriana.

Trilogia : POR QUE NÃO? O Doce Carlos - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora