CAPÍTULO XLIX

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CLARA

ESTAVA SAINDO do trabalho, passei na lanchonete do senhor Valério e comprei um bom pedaço de torta de frango para o Carlos, eu já imaginava que o meu irmão não havia tomado café e provavelmente nem jantou na noite passada.

Pedi para embrulhar tudo pra viagem e fui para o apartamento dele, que era próximo. Eu tinha a chave tanto do apartamento dele, como da nossa casa no interior e também a chave extra da mansão. Peguei a chave, abri a porta, entrando e colocando o embrulho com o nosso café no balcão da cozinha.

― Carlos! - chamei por ele e fui em direção ao seu quarto. Abri a porta, esperando encontrá-lo dormindo pelado, como ele gostava de fazer quando estava sozinho. Mas ele não estava na cama e a mesma parecia intocada ― Será que ele não dormiu em casa?

Fui até o banheiro e nada. Voltei e fui até o quarto da Nina e o meu irmão estava lá. Deitado com o porta-retrato dela sobre a cama. Ele abraçado com o coelho de pelúcia dela, o Sebastian e ainda soluçava, o que mostrava que provavelmente ou dormiu há pouco ou chorou a noite toda.

Me aproximei da cama e me sentei, retirei o porta-retrato, colocando em cima do criado mudo e o chamei novamente, dessa fez com mais cuidado, imagino o quanto ele deve tá sofrendo.

― Carlos... - toquei em seu ombro, ele virou e olhou pra mim. Seus olhos vermelhos já me confirmaram que ele havia chorado bastante.

― Oi, Clarinha - ele sentou-se na cama e colocou o Sebastian entre suas pernas ― O que está fazendo aqui?

― Trouxe café pra gente tomar. Tenho certeza que você ainda não tomou.

― Não. Mas eu não tô com fome.

― Carlos, você precisa comer.

― Eu tô bem.

― Não, você não tá! Primeiro, eu sou sua irmã e te conheço bem. Segundo, eu sou médica, você está visivelmente triste, só espero que não entre em depressão. E terceiro e mais importante, você não me xingou até agora.

Ele deu um sorriso xoxo e eu o puxei pela mão.

― Vem, vamos comer um pouquinho.

― Eu não estou com fome, Clara. É sério.

― Acha que a Nina vai ficar bem, sabendo que você tá assim?

― A Nina? Mas ela não quer saber de mim...

― Você que acha...

― O que você sabe, Clarinha?

― Eu não vou te contar nada. Você sabe que eu sou um túmulo. Tenho guardado um segredo que ela me contou. Mas o que posso te dizer é... não fique abatido e tenho certeza, que mais cedo ou mais tarde ela volta.

― Você tá falando isso pra eu comer... conheço esse truque. Você fazia igual com o Guilherme.

Respirei fundo e o puxei com força da cama o levando pra cozinha. Coloquei tudo que trouxe no embrulho sobre o balcão, apanhei pratos e nos servi.

― Anda, come. Eu sei que você adora a torta de frango do senhor Valério.

Ele pegou o garfo e deu algumas garfadas, mas não comeu nem metade da fatia da torta.

― O que você realmente veio fazer aqui, Clara?

― Te ver. Eu sei que hoje será um dos dias mais difíceis pra você.

Ele começou a chorar e sua respiração ficou ofegante. Levantei do banco e fui até ele o abraçando. Foi o limite dele. Carlos chorava como uma criança que se perdeu da mãe. Ele me apertava tanto e chorava de soluçar.

Trilogia : POR QUE NÃO? O Doce Carlos - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora