CAPÍTULO LIX

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NINA

NÃO EXISTE realmente, nada nesse mundo, melhor do que acordar ao lado do tio Ca. Geralmente quando dormíamos juntos, eu acordava antes e o observava até ele abrir aqueles olhos maravilhosos, mas ontem à noite, ficamos tão unidos e nos demos tantos carinhos, que eu não me lembrei de nada. Era como se eu tivesse ido para a lua com ele, nem percebi a hora que dormi. Foi tão natural, meigo e gostoso, que tenho certeza que ele também não notou quando adormeceu.

Acordei às 8:00 da manhã, de bruços com a cabeça virada de lado e um carinho leve sendo feito em meus cabelos.

Abri os meu olhos e a claridade da janela não me deixava enxergar nada direito. Até que ela foi sendo reduzida pouco a pouco e pude notar o tio Ca me sorrindo. Ele deitou-se, ficando de frente pra mim e fazendo carinho em meu rosto.

— Bom dia, minha princesa! Dormiu bem?

— Maravilhosamente bem - respondi sorrindo e notando aqueles lindos olhos brilhando ao me observar — E acordei no paraíso!

— Oh meu amor... que lindo! - ele me deu um beijo na testa — Não faz ideia de como sinto falta de acordar assim.

— Não faz ideia de como acordo todos os dias e lembro que você não tá lá... e de como isso me dói.

— Vamos tomar café lá no seu Valério? Não tem nada aqui que sirva para comer.

— Tá bem, só que... eu tô só de pijama.

— Ainda tem roupas suas aqui... eu não tirei nenhuma e sua mãe não veio pegar.

— Será que ainda cabem?

— Hummm - ele ficou me analisando e olhando debochado —, você não criou mais cabeças, nem outros membros... não tá gorda... acho que sim, acho que cabem.

— Ai, tio Ca, você não existe!

— Vai lá escovar os seus dentinhos, trocar de roupa e me encontre na sala para irmos tomar café.

— Dentinhos?

— Sim...

— Você é demais. Acha que eu tenho dois anos?

— Não, sei que você tem vinte! Só estou brincando.

— Eu sei, eu também.

Assim, eu fui trocar de roupa e fazer minha higiene. Pouco depois, estávamos saindo do apartamento quando escutamos...

— Oh, que lindo!

Olhamos assustados e vemos dona Maria, a vizinha do tio Ca. Ela morava no apartamento ao lado direito do dele e já estava anciã.

— Bom dia, dona Maria!

— Bom dia. Que bom que vocês voltaram!

— Então...

— Fiquei triste quando soube que vocês terminaram - ela disse interrompendo o tio Ca.

— Terminaram?

— Eu sempre achei vocês o casal mais bonitinho do prédio. E o senhor, sempre foi amoroso e discreto... tem vizinhos que fazem muito barulho.

— Ahn...

— Dona Maria, nós não somos... - tentei falar, mas ela me interrompeu.

— Nina, eu gostava muito de ser vizinha da sua mãe, até o dia em que ela começou a namorar o seu pai... um dia, peguei os dois brigando aqui no corredor.

— Ah é?

— Mas que bom que esse apartamento dá sorte para casais.

— Sorte...? - perguntou o tio Ca, fechando a porta.

Trilogia : POR QUE NÃO? O Doce Carlos - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora