CAPÍTULO LI

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GABRIEL

MEU AMIGO veio passar o natal e o ano novo conosco, mas na real, ele não veio. O que veio foi uma casca disfarçada de Carlos. Eu vi o meu amigo sofrer pela morte de seu pai, era palpável o sofrimento dele, mas aquele Carlos triste e distante... eu não conhecia. Ele me disse da partida da Nina, não entrou em detalhes, não falava mais abertamente de seus sentimentos desde que ele desistiu da Adriana, sua grande paixão de juventude.

O Carlos sempre foi muito sensível, muito aberto e direto. Ele nunca precisou falar de seus sentimentos, ele demonstrava e ninguém precisava perguntar se ele gostava de uma coisa ou não, de alguém ou não, era nítido, ele deixava bem claro como água.

Ele foi apaixonado pela Adriana e todo mundo sabia, ele não escondia isso de ninguém. Mas depois que ele " perdeu" a Adriana para o marido dela, ele trancou os seus sentimentos amorosos, dentro de si. Eu conheço o Carlos de anos, mas depois do que ocorreu com a Adriana, ele não demonstrava amor, paixão ou nada em relação a mulheres. Se tornou super discreto, eu até enchia o saco dele, perguntando com quem ele andava transando, mas ele ignorava ou me xingava, o que era mais comum.

Ele gostava demais da afilhada dele. E isso, ele deixava transparecer, o que era muito comum para o Carlos que sempre conheci. Era a única garota que víamos que mexia com os sentimentos dele.

No final de fevereiro, ele me ligou e contou que ia começar uma pós-graduação.

— Legal, vai se especializar em algo na sua área?

— Não. Vou me dedicar a minha nova profissão.

— Vai fazer pós em arquitetura?

— Exatamente. Pensei em fazer em Barcelona, mas... não teria como administrar a empresa do papai de lá.

— Você iria voltar pra Barcelona?

Sim, ele morou dois anos lá, quando ainda estava no início da carreira de designer. Mas após esse período, ele voltou pro Brasil e não cogitava sair mais daqui. Sabia o que ocorria na vida dele, mesmo a gente não se vendo por muitos anos, ele sempre me mantinha atualizado sobre sua vida.

— Seria bem diferente dessa vez. Mas não, eu vou fazer a pós na cidade vizinha daí.

— Por que não faz aí?

— Eu vou morar aí... fica mais viável.

E assim aconteceu, ele voltou pra cá. Caiu de cara no trabalho e ia todos os dias fazer a pós dele na cidade a uma hora de carro daqui. Ele me confidenciou também que ia iniciar uma terapia por conta do ocorrido com a Fernanda, o que era uma coisa muito boa.

Sempre que ele falava com a Clara ou o sobrinho, ficava muito triste e às vezes saía mais cedo, indo pra casa. Como eu sabia disso? Tadeu, meu companheiro, trabalha na empresa que era do seu Jorge e agora é do Carlos.

Ele mandava todos os meses uma porcentagem para a Clara, pela parte dela da empresa. E todos os meses ela ligava reclamando que não queria nada. Mesmo assim, ele depositava o dinheiro, e após um tempo, ele falou para ela fazer um fundo para o Guilherme já que ela não queria o dinheiro.

Numa dessas ligações, ele soube que a Nina estava namorando, eu estava na hora, tinha ido buscar meu marido na empresa, e fui trocar umas palavrinhas com ele. Ele tentou disfarçar ao máximo, mas percebi que ele ficou muito triste e sensibilizado com a notícia.

— Ciúmes de padrinho?

— Não.

— Então por que essa cara?

Trilogia : POR QUE NÃO? O Doce Carlos - Livro 2Onde histórias criam vida. Descubra agora