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Matheus pov.

Quatro horas depois...

Zé Galinha: Ó, pode ficar tranquilo que o outro muleque tá lá na casa da dona Lúcia, nois num deixou ele ver nada não.- nega e eu fungo limpando o rosto.- E nois vai pegar esse filha da puta que fez isso com ela, questão de honra, parceiro! - põe a mão no meu ombro e eu cerro os olho acentindo.

Ah, eu num sou nem capaz de dizer oq eu sinto só de pensar naquele bosta...puta que pariu!

Que ódio, que nojo, que raiva!

Esse cara ainda vai se fuder tanto...mais tanto!

Nossa, que nojo! AAAAI QUE ÓDIO!

Esse infeliz vai queimar no colo do capeta pra sempre...não merece menos que isso.

E EU MERMO É QUE VOU CUIDAR PRA ISSO ACONTECER RAPIDINHO!

Matheus: Quando pegar, me avisa.- falo sêco de olhos cerrados e ele acente devagar.

Eu preciso acertar as conta com aquele bosta, e eu vou! Eu não vou descansar enquanto isso.

Lúcia: Tá bom já, deu desse papo. Agora a gente tem que pensar no que vai fazer com o velório, enterro...depois a gente pensa em vingança.- passa a mão na testa atordoada com os olhos inchados e eu nego.

Matheus: Velório não vai fazer nada pela minha mãe, a vingança vai trazer justiça à morte dela pelo menos. Então, antes a gente pensa na vingança, pra chorar no enterro, mas chorar vingado.- falo cerrando os dente e ela nega me puxando pelo ombro.

Lúcia: Ja falei pra você parar com esse assunto de psicopata, garoto. Oq aconteceu não dá pra mudar, nada vai trazer ela de volta e talvez nunca encontrem esse bosta! - fala sem paciência.- Ta bom já, ja deu por hoje dessa vingança, To sem cabeça pra pensar em ódio agora...- nega cansada.- Vamo pra casa que eu vou resolver tudo amanhã...- me puxa de novo e eu nego.

Matheus: Não, eu vou ficar aqui com ela.- afirmo tirando a mão dela de mim e ela suspira cansada.

Lúcia: Matheus, vamo pra casa. Não vai fazer bem pra você ficar vendo sua mãe desse jeito a noite toda. Vamo pra casa, tomar um banho, comer, descansar um pouco...cê precisa, meu filho.- passa a mão no meu cabelo e eu nego novamente.

Inocente ela de achar que eu vou conseguir deixar ela aqui e agir como se nada tivesse acontecido, comer, dormir. Sifudê.

Matheus: Não! Se eu for, eu num vou conseguir comer, nada entra na minha barriga agora, to sem apetite pra nada que não seja o sangue daquele filho da puta.- bufo de novo.- E Se eu for dormir, só vou ficar rodando na cama. Então, é mais fácil eu ficar aqui.- falo sêco e cruzo os braço.- Não vou deixar ela sozinha...ja deixei uma vez e vou me arrepender dessa merda o resto da vida, então não vou! - nego novamente e ela suspira cansada.

Ela custa a aceitar, mas depois de muita conversa, ela acaba cedendo e eu entro de novo.

Fico olhando ela no chão sem acreditar ainda...puta merda...não é possível, mano.

Já não choro mais. Não tenho mais lágrima pra chorar.

Parece que meu coração virou pedra, secou, sabe?

A dor foi tão forte que eu não consigo mais nem sentir nada além de ódio.

Ela não merecia isso, ela era boa demais pra esse mundo.

Porra, mãe...cê nem me viu rico, jogador caro como eu sempre quis que visse...

Não vai ver a Viviane crescer, ou o Thiago começar a tomar banho todo dia e deixar de ser porco...

Tu era tudo pra mim, Coroa...e agora eu não tenho mais nada sem tu.

Eu amo meus irmão, claro, mas é diferente.

Agora é eu e eles contra o mundo, sem ter tu pra dar força e encorajar...sem tu pra me fazer não desistir.

Ah, quê que eu vou fazer sem tu agora em?

Sento no batente da cozinha e olho pro céu de lua cheia...

Ela amava quando a lua tava assim...e justo hoje ela não viu o brilho da lua...

Fecho os olho e começo a tentar imaginar como vai ser daqui pra frente...sem você.

Parece impossível, mas eu sei que tu não ia querer que eu desistisse...

Matheus: Mãe, quantas noites sem dormir...Mãe me acolheu me fez sorrir. Mãe, sem você não sei viver
Hoje eu aprendi que amor igual ao seu nunca vou ter...- cantarolo deixando as lagrima cair de novo e descubro que...não, pra ela meu coração nunca vai secar, as lágrima nunca vai ter fim!

Olho o céu, observo em volta e tento não olhar pra ela. É tão horrível a sensação que eu to sentindo, e ao mermo tempo uma sensação de sufocamento. Parece que não dá pra ficha cair, ta ligado?

Mas acho que perder a mãe desse jeito não é uma ficha fácil...não é facil aceitar.

Mas eu tenho, tenho que agora ser forte pelos pivete e por mim mermo.

Minha mãe me ensinou a ser forte, e é isso que eu tenho que ser!

.....

A noite passou voando, fechei os olhos um segundo, e o sol nasceu.

Logo que a manhã chegou, os cara da funerária veio, eu tive que dar o último abraço nela e eles levou ela logo.

A obrigação deles é denunciar esses bagulho, mas eles sabe que essa fita é dos cara do morro, e se contar pros bota, vai pa faca. Então...é como se nada tivesse acontecido.

Eles levou o corpo e só ficou o sangue, duro e marcado pelo corpo dela no meio da poça.

O sangue da minha mãe...

Suspiro levantando e saio vendo os cara ainda lá fora.

Zé Galinha: E aí, muleque...Tá na hora de voltar pro mundo.- fala triste vindo na minha direção.- Bora, te levo pá casa.- suspira me abraçando e eu acinto sem expressão indo até a moto dele.
....

Viviane: MATHEEEUXXX! - grita sorrindo vindo correndo na minha direção com a boca cheia de Nescau quando entro pela porta de casa.

Matheus: Eeei, princesa...- sorrio de lado pegando ela no colo e fecho a porta indo até a cozinha.

Tia Lúcia sorri ternamente pra mim e vem me abraçar calma, enquanto Thiago come calado e devagar sentado na mesa.

É, ele não é burro, já tem dez ano, ta ligado que alguma merda aconteceu. Só não imagina que é uma coisa tão...desse jeito.

Viviane: Ondxi vucê tava? - pergunta falando embolado e eu respiro fundo beijando sua bochecha.

Matheus: Depois eu falo, agora senta aí e come tudo que eu vou tomar um banho.- beijo sua cabeça e vou rápido pro banheiro.

Puta que pariu, como eu vou contar isso?

Suspiro ligando o chuveiro e me tacando em baixo pra aliviar a cabeça que arde de pensamento.

Que merda...PORRA, QUE MERDA!

Dou um murro na parede e bato a testa nela também sem saber oq fazer.

Como eu vou falar, como eu vou explicar que a mãe foi embora? Como?

Vou falar a verdade, sem rodeio.

É isso!

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora