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Mari POV:

10:20...

Mari: Vai, Brucutu... segura essa aqui.- entreguei uma caixa repleta de livros em sua mão, e ele revirou os olhos, indo levá-la pra dentro.

Até que o Creindeuspai tava me saindo um bom menino.

Gostei do bichinho.

Prestativo.

Os caras que ficam na calçada de casa, riram dele nesse momento e ficaram cochichando entre si. Eu não entendi a graça.

Mari: E vocês aí? - franzi o cenho, pondo as mãos na cintura, e eles ficaram sérios, tensos, se virando pra mim.- Tão achando que vão ficar só olhando? Nada disso. Bora bora. Tirando a mão desse fuzil aí, e vindo carregar livro.- bati palma, abrindo a porta de trás do carro, e eles bufaram, com tédio.- E sem reclamar. Que se tivessem feito isso antes, talvez nem precisasse ficar aí nesse sol, servindo à bandido e correndo risco de tomar bala na fuça.- falei brava, lhes entregando mais caixas.

Mariana Críticas sociais fodas.

Me respeita que eu sou o orgulho de Paulo freire.

Mari: Não, não. Essa aí eu mesma levo. Pode deixar.- neguei, rápida, pegando uma das caixas da mão de um deles, e ele assentiu, indo pegar outra.

Essa, ninguém, além de mim e da Letícia podia encostar.

Nunca.

Aqui estavam guardadas todas as lembranças dos nossos melhores dias.

Dos dias em que a nuvem negra do crime e do medo ainda não pairava sob nossas cabeças.

Daqueles momentos em que ainda nos restava um pouco de dignidade e esperança...

Ah... onde essa época foi parar, em?

Suspirei, voltando ao mundo real, e entrei dentro de casa, me arrependendo dessa ação logo depois, ao dar de cara com o The Mônio.

Eita senhor.

Me arrepiei da cabeça aos pés só de ver aquilo parado na minha frente.

Cruz Credo.

Pqp.

Coisa ruim, meu pai.

Parece uma sombra. Eu em.

Arcanjo: Que cabaré é esse que tu tá armando na minha casa, Mariana? - falou alto, entre dentes, de braços cruzados, e eu dei de ombros, seguindo meu caminho, sem dar bola pro surto da gata.- Responde, CARALHO! - gritou, no pé da escada, e eu continuei o ignorando, subindo cada degrauzinho na paz de Deus, sem deixar o inimigo me tirar da graça.

Eu em.

Uma coisa dessa. Carregada. Apagada. Sem brilho.

Vou tá gastando saliva discutindo com isso? Jamais.

Faz até mau pra pele.

Pra discutir com o Arcanjo, eu tenho que descer até o porão sórdido, em que bichos selvagens e de baixa vibração como ele, vivem e se reproduzem.

E eu não vou me dar a esse trabalho.

Ah, mas não vou mesmo.

Ele que lute.

Não sou Globo repórter do inferno.

Eu em.

Assim que pisei no tapete do primeiro andar, ouvi seus passos apressados e fortes subindo a escada também.

Eita deus.

Não posso negar que senti uma leve saída da minha alma do meu corpo.

Mas, mesmo assim, não esbocei reação alguma e apenas continuei andando até meu quarto, tranquilamente, como se não tivesse um psicopata atras de mim.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora