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Mari POV

Três dias haviam se passado.

Três dias em que a Letícia andava como uma múmia pela casa.

Isso, quando saía do quarto.

Eu quem tinha que ir levar água, comida... E ainda tinha que convencer ela a beber e a comer o que eu levava, sob o pretexto do bem estar do bebê. Senão, ela não o fazia.

Acho até que a única coisa que tá mantendo ela viva, é a criança mesmo.

Isso tudo mexeu demais com ela. Foi um golpe muito duro.

Afinal, letícia nunca teve mais do que três experiências amorosas na vida, e quando sentiu amor de verdade pela primeira vez, teve que passar por cima de tudo e de todos pra tentar viver esse sentimento.

E aí, como se já não bastasse todo o sofrimento que foi pra ela ficar junto com aquele desgraçado, ele ainda joga tudo fora na primeira oportunidade que tem.

Nojento do cacete.

Porra, nem sou capaz de mensurar toda a dor que ela deve estar sentindo agora.

Tão nova e tanta coisa que já teve de passar por causa de um cara que só trouxe desgraça pra vida dela.

E pior, tanta coisa que eu não pude evitar que ela passasse por causa dele...

E isso me magoa pra caralho.

Não sei...Me sinto impotente. Insignificante. Incapaz de proteger ela como ela merece. Incapaz de ser pra ela quem meus pais queriam que eu fosse.

Essa merda é horrivel.

Mas, apesar de tudo, não iria me dar por vencida tão fácil.

Precisava fazer algo pra tirar ela dessa fossa, e ia fazer agora.

Mari: Lê...- bati de leve na porta.- Tá acordada? - bati denovo e ouvi sua voz baixa me responder lá de dentro, pedindo pra que eu entrasse.

Quando abri a porta, ela tava deitada na cama, lendo um dos livros da sua estante, e eu sorri, indo até ela.

Pelo menos ela parece estar melhor. Fazer algo além de chorar já é um começo.

Mari: "Morro dos ventos uivantes" é? Hmm...romântica. - debochei sentando na cama e ela sorriu de leve, fechando o livro.- Como é que você tá? - suspirei, deitando ao seu lado, e ela respirou fundo, sem dizer nada por alguns instantes.

Lê: Viva. Eu acho.- respondeu baixinho e eu olhei pra ela.

Mari: Que bom. Já é um começo.- dei de ombros e ela sorriu.- Bom, e aproveitando que tá viva, que tal a gente ir viver um pouco? Você sabe, pra variar...- me virei pra ela e ela fez careta.

É, eu fui um pouco direta demais.

Mas eu não tenho mais paciência de ver ela se afundando e não fazer nada.

Era hora de ser enérgica, e era isso que eu ia fazer.

Lê: A gente já conversou sobre isso, Mariana.- falou séria.- Eu não vou tirar um dedo de cima dessa cama. Já disse.- negou, cansada e eu revirei os olhos.

Tóxica.

Mas eu não quero saber, hoje ela sai desse quarto sim e não tem quem me faça permitir o contrário.

Não vou deixar ela mofar aqui de graça.

Ah, mas não vou mesmo.

Mari: E desde quando eu dou a mínima pro que você quer, meu anjo? - provoquei, debochando. - A gente vai sim e ponto final. Eu em, mó sol bonito lá fora, e tu enfurnada nesse quarto.- franzi o cenho, sem paciência,  levantando.- Bora bora bora, levanta. Levanta pra vida, que ela não vai te esperar.- bati palma, olhando pra ela, que fez careta.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora