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Grego POV

Já fazia três dia que ela tinha se mandado do morro.

Três dia que eu não parava de pensar na merda que eu tinha feito e na mulher que eu tinha perdido por causa da minha cabeça de vento.

Quem diria que a maior causa da nossa separação não fosse ser o dinheiro, a classe social ou a família dela, e sim a minha própria incapacidade de ter alguém foda do meu lado e não estragar tudo na primeira oportunidade.

Que ódio...

Eu tive tudo nas mãos....

Tudo que eu sempre quis, tudo que eu nunca tive...e joguei fora, por nada.

O rosto dela não saía mais da minha cabeça.
O gosto dela não saía da minha boca.
E a dor no meu peito só crescia a cada segundo que se passava com ela longe de mim.

Eu não consegui mais fazer nada desde que ela foi.

Só sabia passar o dia na maconha e na cachaça, olhando a última e única foto que tirei dela, enquanto ela dormia.

Pensei no meu filho. No quanto ele devia tá sentindo tudo isso e em quanto eu já tinha falhado na promessa de nunca machucar ele.

Eu tava me sentindo um merda, como eu nunca tinha me sentido antes.

O mundo tinha desabado na minha cabeça e o chão tinha se aberto abaixo dos meus pés.

Meu peito doía, meu corpo tava fraco e a única coisa me mantinha acordado era a esperança do número dela aparecer na tela do meu celular, e ela estar me ligando pra dizer que queria resolver as parada, esquecer de tudo e voltar pra mim.

Piada.

Eu sei.

Mas se eu não pensasse que isso fosse possível, talvez eu já tivesse enfiado uma bala na minha cabeça e acabado com essa merda toda.

Não seria uma grande perda pro mundo. E nada mal pra mim.

Mas eu ainda preciso estar vivo pelo meu filho, mesmo que a mãe dele não me queira mais.

Ele ainda precisa de mim, e eu vou honrar minha promessa de estar lá quando ele precisar.

E eu ainda tava na Lage de casa, bolando mais um baseado, tentando fazer minha mão parar de tremer tanto, quando senti uma outra mão me puxar pelo tecido do casaco e me colocar de pé a força.

Me virei, confuso e, quase sem enxergar direito, vi que era o Arcanjo.

Grego: Porra, que susto, filho da puta.- neguei,  engolindo em sêco e ele bufou, cheio de ódio, dando um tapa na minha mão e derrubando a maconha no chão.

Mas que caralho!

Grego: PORRA, QUAL FOI, ARCANJO? Era a última que eu tinha.- fechei os olhos, cansado, e ele negou, me empurrando na parede.

Arcanjo: E quem disse que isso é problema meu, seu merda, drogado do caralho, PROJETO DE MULEQUE! - gritou, apertando meu pescoço e eu virei a cara.- O QUE TU PENSA QUE TA FAZENDO? Tu acha bonito se afundar desse jeito por causa de buceta? Tu acha que fumar o dia todo e esquecer tuas responsabilidade nesse morro vai trazer tua mulher de volta? - falou puto, e eu olhei pra ele, com frieza.

Grego: A maconha nao é pra trazer ela de volta, é pra tentar tirar ela da minha cabeça.- ele negou.

Arcanjo: E tá conseguindo? Em? Me responde.- perguntou mais puto e eu abaixei a cabeça, sentindo ele me soltar do nada e eu cair no chão, sem forças.- Não né. Não tá dando certo.- falou mais calmo, porém ainda com nojo.- A única coisa que tu tá conseguindo fazer, é virar um merda, mais do que tu já é. Olha pra tua cara, Grego. Olha o teu cheiro. Tu tá um lixo, porra. Que homem é tu? - negou, indignado.- Tu já comeu alguma coisa desde que ela saiu desse morro? Tu já tomou um banho? Ou a única água que tu tá vendo é a que tem na cachaça? - se agachou na minha frente, eu desviei o olhar.

Grego: Eu não tenho força pra fazer nada disso.- falei baixo, e ele me acertou um tapa na cara.

Arcanjo: EU NAO TÔ NEM AÍ, CARALHO! - gritou.- Você vai levantar, vai entrar, vai se enfiar em baixo daquele chuveiro e comer até o reboco das parede, se eu mandar. Mas tu vai sair dessa fossa, nem que eu tenha que te arrastar pra isso. Tu tá me entendendo? - levantou meu rosto pra olhar pra ele.- Anda. Agora.- se afastou de mim e ficou me encarando, esperando eu fazer algo.

Mas eu nem me mexi.

Minha cabeça tava girando, eu não tinha força pra nada, nem pra falar.

Nem o tapa que ele me deu me fez sentir algo.

Eu tava numa nuvem de confusão e fraqueza.

Depois de uns instantes, ele bufou vindo até mim e me puxou. Me arrastou até dentro de casa e foi andando pelo corredor, até o banheiro, em silêncio.

Quando entrou no banheiro, puxou meu casaco e parou.

Arcanjo: Caralho mané, tu tá cheirando a buceta suja. Puta que pariu. - jogou o casaco na lixeira e foi tirar o resto da minha roupa.- Tu me paga por isso, filho da puta.- falou puto, tirando meu calção.

Grego: Tua mãe é a merma que a minha, carai.- ri.

Arcanjo: Tu que pensa. Adotado do caralho - resmungou, me puxando outra vez até o Box e me sentou no chão, em baixo do chuveiro.

....

Tia Lucia: Aqui, meu filho. Tá quentinho.- falou preocupada, me entregando um prato de sopa e eu fiz careta, empurrando o prato de volta.- Come, meu filho. Vai te fazer bem...- passou a mão pelos meus cabelos, e eu neguei, sentindo um embrulho no estômago, enquanto lutava contra o sono.

3 dia sem dormir é foda.

Arcanjo: Ah mas tu vai comer sim. Quem tá mandando sou eu. Bora, abre essa fossa aí.- falou puto, colocando o prato mais perto de mim e pegando a colher.

Grego: Hmmm, vai me dar comida na boquinha... ui.- debochei, quase fechando os olhos e ele bufou, enfiando a colher goela a baixo em mim.

Assim ele fez por umas 4 vezes, até que ele recebeu uma ligação e parou.
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Arcanjo Pov.

Arcanjo: AE, tia. Continua fazendo esse porra encher o bucho que eu preciso atender. Sei que porra é essa que esses cara nao sabe passar meia hora sem me encher o saco.- entreguei a colher pra ela e ela assentiu, virando ele pro seu lado. - Qual foi? - atendi sério, sem paciência, indo até a sala.

Guga: Chefe, aconteceu uma desgraça.- falou ofegante, e eu fechei os olhos, já me preparando pra merda.

Um dia de paz.

Era só isso.

Arcanjo: Desembucha logo antes que eu perca a paciência. - bufei, já pegando a chave da moto pra ir até a boca.

Guga: O Caveira pegou as patricinha.- parei na porta de vez, sentindo meu sangue gelar.

Ah não.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora