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Letícia POV

Já tinham se passado cerca de dez minutos desde que ele tinha saído, e havia ficado só eu e a Mari.

O clima tava uma merda.

Era de se esperar, mas ainda era estranho.

Nunca ouvi um silêncio tão ensurdecedor.

E nunca vi um clima tão ruim entre a gente.

Ela calada, encolhida em um canto de parede, com o rosto pensativo, olhando pro nada.

Eu, fazendo o mesmo, em outro canto de parede bem longe do dela.

Um filme passava pela minha cabeça.

Cenas repetidas.

Felizes e tristes.

Ou até aleatórias.

E em nenhuma delas, não importava o quanto fossem repetidas, eu consegui enxergar o momento exato em que eu me perdi de uma forma tão brusca, dentro de mim mesma.

Um momento em que eu abandonei tudo que eu tinha planejado pra mim, o que minha família havia planejado e o que já estava sendo quase concretizado.

Em que momento eu havia achado essa loucura normal?

E, principalmente, como e por quê eu larguei tudo que eu tinha, pra viver uma vida assim?

Mari: Então era isso que você queria...- sua voz sêca e perdida invadiu meus pensamentos.

Lê: O... o quê? - perguntei confusa, ainda saindo do transe em que estava.

Mari: Isso. Essa era a sua intenção? Largar tudo que você tem e se jogar nos braços de um traficante procurado? Um homem que precisa te esconder em uma casa velha e suja pra tentar impedir que te matem pela confusão que ele mesmo te meteu? - perguntou fria, virando seu olhar molhado por algumas lágrimas, para mim.

Nesse momento, eu não tinha resposta.

Até porque, me sentia soterrada por interrogações.

Nem mesmo eu sabia o porquê de eu ter agido assim, de ter feito essa escolha.

Letícia: Não... Óbvio que não era isso que eu queria. Ou,pelo menos, não era assim que eu queria.- neguei encostando minha cabeça na parede com o olhar perdido.

Mari: Então, por que fez isso? Me fala, por quê? - perguntou confusa e eu dei de ombros ainda com olhar perdido.

Lê: Nem sempre a gente sabe o porquê de fazer certas coisas na vida, Mariana.- suspirei.- Às vezes... Às vezes a sua cabeça apenas entra em uma neblina tão espessa que te impede de olhar ao redor e pensar direito... E aí... Você só consegue seguir o que sua alma pede, e ir pra onde ela te leva.- senti uma lágrima descer pela minha bochecha.- Talvez nossa alma possa quase nunca estar certa em suas direções... Mas isso, quem pode saber? - virei meu rosto em sua direção e ela negou, sorrindo sem graça.

Mari: Filosofia de novela clichê a essa hora, Letícia? Acorda, porra! - falou mais alto, virando-se pra mim.- Papinho de alma o quê, caralho! Esse cara vai fuder com o resto de dignidade que ainda existe na tua vida! Será que você não percebe a merda que tá fazendo? - perguntou óbvia, abrindo seus braços, e eu respirei fundo, olhando pra frente.

Percebo.... Mas sinto que não tem mais volta.

Eu sei que já gosto dele.
Talvez até ame.

Assim... Do nada mesmo.

E esse sentimento me faz acreditar que não será tão ruim quanto parece e até que nós podemos ser um bom casal, talvez.

E, até mesmo se eu ignorar meus sentimentos e desistir disso agora, eu sei que ele vai vir atrás de mim.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora