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Mariana pov:

01:25...

Estávamos a caminho do morro. As ruas estavam meio desertas, e o álcool já começava a perder um pouco dos seus efeitos sobre mim.

Não ao ponto de me deixar sóbria, mas de me permitir ao menos refletir melhor em tudo o que tinha, praticamente, acabado de acontecer.

Não conseguia mais ficar indignada, ou surtar.

Só pensava naquilo de uma forma triste.

Era tão nojento.

Tão estranho...

Ah!

Não sabia mais nem o que pensar. Ou como pensar.

Será que eles têm alguma patologia neurológica congênita?

Só isso faria sentido pra mim nesse momento. E teria uma explicação plausível pra tanta loucura.

Lembro de ter estudado algo parecido em uma das aulas básicas de neurologia...

Mas, era inútil tentar ter certeza se realmente havia tido essa aula, já que a minha cabeça tava um caos e meu cu tava cheio de cachaça.

E, também não importava.

Não ia adiantar saber disso.

Ainda era algo repugnante e que não daria pra ser impedido.

Vai dizer que, se fosse mesmo uma patologia, eles iam querer ir se tratar? Ainda mais Fidélis que não pode pisar o pé num hospital que é preso?

Meu pau.

Mari: Na hora que a gente viu tudo...- falei baixo, quebrando o silêncio profundo que pairava sob o carro.- Ce disse algo como quem já sabia de alguma coisa a respeito do que eles tavam fazendo alí. O que era? - perguntei apática, olhando a paisagem pela janela, e ele respirou fundo, se mostrando meio incomodado com a pergunta.

- Ah... issaí é longa história. - negou, fazendo careta, e eu o olhei com tédio.

Mari: Como se nós não tivéssemos tempo o suficiente, já que ainda faltam 15 minutos pra chegar no morro.- neguei, obvia, e ele suspirou, assentindo.

- TÁ, eu falo. Mas, ó, tu vai jurar que nada do que eu disser aqui vai sair desse carro.- falou meio desconfiado e eu assenti, me ajeitando no banco.- Beleza. Tipo, tudo começou quando a Bel teve o filho dela...- cerrei o olhar, lembrando logo do jeito como ele ficou quando falaram desse menino ontem.- O menino nasceu moreninho e tal, olho preto, pá. O que é estranho né, porque o pai dele é branco feito lesma...- arregalou os olhos e eu assenti, lembrando do rosto do marido dela.- Mas, até aí, passou batido, porque ela é pretinha e o menino podia ter puxado à mãe. Só que, o tempo foi passando, o menino foi crescendo, e... poorra, ele foi ficando muito igual ao Fidélis.- negou, cuspindo as palavras, e eu arregalei os olhos, entendo o que ele queria insinuar.

Ah não.

Não.

Não.

Eles não podem ter tido um filho juntos.

Não.

Eu me recuso.

Não.

Mari: Não não, pera. Calma.- dei um pulo no banco, levantando as mãos, e ele parou de falar.- Antes que você diga qualquer outra coisa, me fala: ce sabe se essa criança tem alguma deficiência, ou coisa do tipo? - perguntei franzindo o cenho, e ele negou.

- Não, po. Isso que é o mais doido. Ele é igual, cagado e cuspido o Fidélis, mas nasceu perfeito. Muleque não tem um dente sequer fora do lugar.- negou, espantado, e eu cruzei os braços.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora