41

3.6K 213 30
                                    

Grego POV

Arcanjo: Vai, caralho. Agora desce dessa porra e me dá dois motivo bom pra eu num meter uma bala na tua testa agora.- falou bufando de ódio, cruzando os braços ao me esperar sair do carro.

Vai começar cedo, hoje...

Suspirei revirando os olhos e abri a porta, pronto pra debater com esse corno.

Vai começar a palestrinha.

Grego: Não, pô. Faz diferente: me dá TU dois motivo bom mermo que vá justificar essa tal bala na minha testa.- cruzei os braço, puto também.- Se tu conseguir, eu te dou a minha arma na tua mão.- afrontei vendo ele ficar vermelho de raiva.

Arcanjo: Ah, tu quer dois motivo bom? - falou sorrindo psicopata e abriu a porta de trás do carro.- TÁ AQUI OS TEUS DOIS MOTIVO: DUAS PATRICINHA DENTRO DO MEU MORRO, QUE COM CERTEZA VÃO SER DADA COMO SEQUESTRADA NA PORRA DA MíDIA, QUE VAI FAZER O INFERNO PRA INVADIREM ESSA PORRA AQUI EM DOIS TEMPOS, E UMA DELAS TEM UM MULEQUE TEU DENTRO DA BARRIGA.- gritou putasso e depois sorriu, abaixando a cabeça.- Aliás, Isso é, se esse catarrento for teu mermo...- falou em tom normal, me provocando, e levantou a cabeça me olhando em desafio.

Filho da puta.

Só fala merda, namoral.

Mas eu sei que ele tem razão nessas merda toda, só que isso eu nunca vou assumir.

Grego: Olha, Arcanjo.- respirei fundo dando um passo na direção dele.- Eu num sei se tu se lembra, mas esse morro também é meu. Sem mim, isso aqui já tinha quebrado à muito tempo e, aliás, se não fosse eu, agora mermo a gente taria trocando tiro com aqueles merda.- cerrei o olhar e ele fez o mesmo, mostrando ficar mais puto do que já tava.

Ele odeia o fato de eu ser o segundo do morro. Odeia ter alguém que divida o poder do morro com ele. E ainda mais que esse alguém seja o irmão mais novo dele, que ele sempre viu como um muleque. Mas essa é a realidade e ele vai ter que engolir porque sabe disso.

Arcanjo: Ahhh, tu se acha demais debaixo minha sombra né, Grego.- negou com um sorriso de nojo.- Se acha tão foda. Usa tanto o poder que tem pra tá se exibindo por aí como "O SEGUNDO CHEFE DO MORRO", mas nunca se preocupou em proteger o que é nosso. E mais uma vez tá fazendo isso, e botando a favela toda em perigo, trazendo essas duas puta pra cá.- sacudiu elas pelos braço, as empurrando pra longe dele, me fazendo respirar fundo novamente.

Grego: Uma coisa não tem nada a ver com a outra, Arcanjo.- neguei olhando bem no fundo dos seus olhos.

Arcanjo: NÃO TEM NADA A VER? NÃO TEM NADA A VER? - gritou arregalando os olhos, vindo com tudo na minha direção.- TU JÁ ESQUECEU DO QUE ESSA PIRANHA FALOU DA ÚLTIMA VEZ QUE TEVE AQUI? ELA SABE QUE TRAZ A GUERRA AQUI PRA DENTRO E VOCÊ TAMBÉM SABE DISSO. NÃO SEJA MULEQUE A ESSE NÍVEL, GREGO. SEJA HOMEM UMA VEZ NA VIDA, CARALHO! - bateu forte no meu peito, com ódio e eu olhei pra elas, que observavam tudo sem reação.

A esquentadinha escutou isso com o maxilar cerrado e revirou os olhos.

Nojenta do caralho. Isso ela é mermo.

E ele ta certo. Já já esse morro vai encher de bota.

Mas foi um sacrifício que eu quis fazer.

Que eu tinha que fazer.

Foi o que eu achei que fosse ser o melhor naquele momento, e disso eu não recuo.

Grego: Eu assumo as consequências.- falei baixo, mas firme, depois de alguns instantes calado.

Ele riu, abaixou a cabeça e negou.

Arcanjo: Ah é? Então quer dizer que tu vai prestar contas ao capeta das alma do povo que vai morrer depois da invasão fudida que eles vão fazer aqui por tua causa? - falou irônico, me olhando bem nos olhos.- Então tu tá pronto pra dormir à noite com o peso de ter derramado o sangue dos teus irmão por causa de uma VA-GA-BUN-DA-ZI-NHA que tu comeu só uma vez, no máximo? - abaixou o tom, ficando mais provocativo e eu senti meu sangue borbulhar, mas me segurei, pra não dar um murro na fuça dele.

Arcanjo é muito sujo.
Ele sabe entrar na mente das pessoas e, pro meu ódio mortal, eu sou uma delas.

Mas eu não vou entrar no jogo dele. Não vou perder a calma.
Não dessa vez.
Não na frente dela.

Grego: Olha, Arcanjo. Se tu quiser, tu pode me julgar; pode me espancar como tu sempre faz...- me interrompeu.

Arcanjo: E eu vou fazer, nem se preocupe.- assentiu sorrindo de leve e eu respirei fundo novamente.

Grego: ...Só que eu não me importo.- retomei.- Pode ter certeza de que eu sei as consequências dos meus atos porque eu não tenho mais 10 anos, Arcanjo.- falei firme, olhando dentro dos seus olhos.- Eu fiz a escolha de entrar pra essa vida e eu fiz a escolha de trazer o meu filho pra perto de mim; ambas sabendo das consequências. Eu fui homem pra bater no peito e falar que sou um bandido, criminoso, assassino e traficante, mas também sou pra botar a porra de um fuzil na mira da cabeça de quem for pra defender a minha favela, a familia CV e, agora, o meu filho e a mãe dele.- cerrei os dentes e ele respirou fundo, cerrando o olhar, mas suavizando o rosto.

Ele nunca me ouviu. Nunca parou pra me levar a sério. Sempre se achou mais homem do que eu.

Mas hoje, hoje isso acaba.

Não dá mais pra ficar aceitando essas merdas calado.

Que se foda!

Depois de um silêncio de um minuto, eu entendi que a conversa tinha acabado por ali e desviei meu olhar dele, para elas.

Grego: Vamo. Vou levar vocês pra um lugar seguro antes que os verme volte.- elas assentiu rápido, calada, me seguindo ladeira a cima.

Arcanjo: Tu ainda tem muito o que se explicar, Grego. Essa conversa não acaba aqui, e se tu sobreviver à tempestade de bala que vai cair sobre esse morro hoje, tu ainda se prepara que vai dormir de couro quente, menó.- escutei sua voz rouca e irônica atrás de mim, depois de alguns passos e eu parei.

Grego: Oh, mal posso esperar, Chucky justiceiro.- debochei fazendo voz fina, o fazendo cerrar o olhar, e voltei a andar com elas.

Dar o cu ninguém quer.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora