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Letícia pov.

Na hora em que as palavras saltaram da minha boca, eu percebi que o mundo havia acabado de cair na minha cabeça.

Eu sabia que alí não teria mais volta.

Eu estaria assumindo estar grávida de um traficante, para esse traficante, e alí não teria mais paz.

Foi uma escolha de uma linha tênue entre a minha vida continuar normalmente como antes, e virar de pernas pro ar, em um estalar de dedos.

Eu poderia ter dito que tava, sei la, com um apêndice? Sim, pois ele nem deve saber o que é isso e acreditaria.

Mas... No momento em que eu o vi entrando por essa porta... Vivo, na minha frente...

Algo reacendeu aqui dentro.

Uma mínima esperança de que talvez essa história não precisasse acabar assim.

Um pequeno surto de insanidade causado pelo êxtase da sua quase "ressurreição"; do medo de interromper essa gravidez; e... Puff, agora ele sabia de tudo.

E eu nem poderia sequer tentar imaginar o que ele faria daqui pra frente.

Mas que Deus me ajude.

Ele lentamente foi soltando a Mari no chão, sem se virar pra mim.

Quando finalmente o fez, seus olhos estavam perplexos, amedrontados e confusos, ao mesmo tempo.

Ele me fitou intensamente por alguns segundos e, em um aparente estalo em sua mente, ele veio até mim.

Quase correndo, ele chegou e se ajoelhou aos meus pés, pondo suas mãos em minhas pernas, sem tirar os olhos dos meus.

Grego: Loirinha...- falou com sua voz rouca, bem baixinho, com seus olhos embebidos de medo e confusão.- Esse... Esse bebê.... Esse bebê, ele....- gaguejou, nervoso e alvorossado e eu o calei juntando nossos lábios em um beijo.

Com força, grudei nossas bocas e ele não relutou. Na verdade, senti até mesmo um suspiro dele ao me sentir, e suas mãos subiram pelas minhas pernas até chegar em minha cintura, a apertando com firmeza.

Ele lentamente foi me levantando da cadeira, me pondo deitada em seus braços, sem desgrudar nossos lábios e eu sorri, docemente, em meio ao beijo.

Letícia: Sim.- sussurrei contra sua boca, de olhos fechados, assumindo minha entrega total àquela loucura.

Grego: Sim.... Sim o que, Loirinha? - perguntou nervoso, com a voz embriagada de choro e eu abri meus olhos, os fitando nos seus.

Letícia: Esse bebê que tá aqui dentro, é seu, Grego.- falei assentindo calmamente e vi, nascer em seus olhos, um pequeno riacho de lágrimas que, lentamente foram rolando pelo seu rosto, molhando um sorriso enorme que se abriu em seus lábios assim que as palavras saíram da minha boca.

Meu coração se encheu de borboletas e meu estômago, ainda mais.

Passamos alguns instantes nos encarando, sorrindo, apáticos e anestesiados pelo momento e pela notícia que o tornou tão inacreditável e especial.

Sim, no meio de um resgate com vários "reféns" e de uma tensão geral que eles instalaram, estávamos felizes e em paz, pelo menos por alguns segundos.

Por alguns momentos, não existiu nada além de nós e o nosso mundo.

E eu nem sei se isso tem uma explicação.

Porém, o momento foi interrompido por termos ouvido uma série de gritos e correria vindas dos corredores do hospital.

Eles estavam voltando.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora