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Letícia POV

Eu estava no jantar na casa do Grego quando recebi a ligação.

Número desconhecido.

Mas a voz que falou, depois de alguns segundos de silêncio na chamada, era a mais conhecida e inesperada que eu poderia ouvir naquele momento.

Não me deu tempo de falar, nem de perguntar nada, apenas me disse as palavras mais dolorosas que alguém poderia me dizer naquela noite.

"Encontrei a Ger caída na sala de casa. Não tinha mais pulso e nem respirava.
O doutor disse que foi infarto fulminante causado por estresse. Tô no hospital do Doutor Miguel, se quiser vir lavar o corpo comigo. Tchau."

Sua voz tentava não expressar nada, mas estava trêmula de choro e aguda de agonia.

Demorei um minuto pra assimilar e aceitar o que tinha ouvido e desabei em lágrimas momentos depois.

Todos que estavam ao meu redor, vieram me socorrer e fazer um milhão de perguntas sobre o que era a ligação, mas eu confesso que não conseguia ver, nem ouvir, mais nada.

Só queria e só sabia chorar naquele momento.

Quando finalmente eu consegui explicar o que houve sem cair no choro e falar o que eu queria fazer a partir de agora, eles me compreenderam e me abraçaram pra caralho até que o Grego me levou pra fora, me acalmou, e depois mandou que o filho da Duquesa me levasse até o hospital que a Mariana me falou que estava.

Grego disse que era melhor ele ir, porque era o único em que ele confiava que não tinha nenhuma passagem pela polícia e não teria riscos se algum policial nos parasse.

Então, fomos o caminho todo calados até lá.

Eu, fazendo um esforço gigantesco pra não gritar e chorar até desidratar na frente dele, e ele, tentando não mostrar que estava tenso com a situação.

Mas sinceramente, eu nem estava mais nesse mundo.

Só sabia lembrar dela e sentir meu peito ser estraçalhado pela dor a cada lembrança.

Meu Deus... Nunca pensei que fosse sentir uma dor tão grande assim...

Já estava quase amanhecendo quando eu cheguei no hospital.

E, quando finalmente entrei na sala, me ajoelhei na porta caindo no choro quando vi o corpo pálido e nu da Ger sobre a maca.

Parecia mentira...

E eu implorei pra que fosse. Mas não era.

Mariana, tinha os olhos inchados e vermelhos. Seu rosto estava úmido, mas sua expressão estava séria, concentrada.

Não me olhou, apenas pôs a bacia com água no meio da sala e deixou o lenço que eu iria usar, na borda.

Levantei com muito esforço do chão e comecei a fazer o que ela fazia.

....
Lê: Não vai dizer nada...? - perguntei rouca do choro, olhando pra Ger e ouvi a respiração profunda da Mariana.

Mari: O que você quer que eu diga? - perguntou seca, tão rouca quanto eu, passando o lenço pelo pescoço da Ger.

Meu Deus... Será que nem nesse momento ela vai quebrar esse orgulho? Puta que pariu.

Resolvi não responder nada. Apenas continuei em silêncio e voltei a molhar o lenço na água.

Depois de alguns instantes fazendo isso, me senti mais calma. Pois senti que estávamos cuidando dela nas suas últimas horas nessa terra, do mesmo jeito que ela cuidou da gente nas nossas primeiras horas de vida.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora