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Letícia POV

Já eram três da manhã e eu ainda andava de um lado pro outro no meu quarto, igual uma barata tonta, sem saber o que fazer.

Só sabia chorar.

Olhava a janela do meu quarto várias vezes e só via as sirenes da polícia brilhando e ambulâncias estranhas saindo da praia.

Até repórter tinha lá.

Eu até quis ligar a tv ou olhar meu celular pra ver o que tavam falando sobre, mas eu não tinha coragem.

Meu coração se recusava a aceitar que aquilo tinha realmente acontecido e que ele realmente tava morto, mas não tinha o que fazer.

Era o óbvio.

Toda hora aquelas cenas passavam na minha cabeça.

Vinham as boas, mas logo as ruins passavam na frente e me faziam debulhar em lágrimas.

Caralho...como isso foi acontecer??

Como, do nada, tudo aquilo virou um pesadelo?

O perfume dele tava na minha roupa.
As marcas que ele tinha deixado na minha alma e no meu corpo, deixavam ele ainda mais vivo na minha cabeça e me faziam negar ainda mais o fato de sua morte.

Caralho....isso não pode ser verdade!

Pqp.

Por fim, suspirei me sentando no chão frio do meu quarto, chorando sem parar.

Uma parte do meu ser, me dizia que não entendia o porquê de eu estar chorando, já que nem nos conhecíamos.

A outra, dizia que fazia sentido sim, pois naquela praia, enquanto nossos corpos se moviam juntos buscando e desejando cada vez mais o toque um do outro, parecia que já nos conhecíamos a anos.

E sim, parece loucura, mas pensar que não ia ver ele de novo, que aquele momento na praia não ia se repetir também, me deu uma sensação de vazio tão grande. Uma tristeza tão brusca.

Era tão estranho.

Era uma sensação avassaladora. Era como se um pedaço da minha alma se desmanchasse.

Que ódio de mim mesma por estar pensando nisso.

Que ódio de mim mesma por ter ido àquela praia.

Que ódio por ter deixado ele sozinho naquele lugar com aqueles caras sem nem ter olhado pra trás.

Puta que pariu, QUE ÓDIO!
.
.
.
Grego POV

Arcanjo: Vai, desce.- manda tirando a camisa quando desce da sua moto e eu respiro fundo fazendo o mesmo, já sabendo o que vem pela frente.

Puta que pariu, só queria minha cama agora.

Mas não, tenho que ir ainda me pegar na porrada com o Arcanjo.

Sifude.

Eu sei que eu fiz merda e tenho que pagar por isso, mas tinha que ser agora?

Cheid fome, cheid sono.... Pqp.

Grego: Tem que ser agora, caralho? - pergunto cansado tirando a minha camisa também e ele me olha com os olhos serrados.

Nem espera eu jogar a camisa no chão e já vem de murro pra cima de mim, me derrubando no chão.

Porra, ó a ignorância.

Arcanjo: Isso responde a tua pergunta, arrombado do caralho? - pergunta me dando uma sequência de murro na fuça e eu tento me defender pondo os braço na frente.

Filho da puta!

Sempre fui mais forte que ele, pelo menos em massa corporal. Mas ele sempre me deu essas surra monstra quando eu fazia merda.

Virou rotina, já que eu faço uma merda dia sim, dia também.

Mas hoje ele tá com um ódio que eu nunca vi, namoral.

E eu nem sei o porquê de tudo isso, mas certeza que descubro.

Ele nunca me dá uma surra sem dizer o motivo depois.

Deixar inconsciente por causa de porrada? Sim.
Deixar apanhar sem saber o porquê? Jamais.

Depois de muita porrada, consigo virar ele no chão, deixando ele em baixo de mim e dando uns murro de volta bem na cara dele.

Nessa hora, a poeira do chão já cobria tudo.

Tava escuro pá caralho, mas era dia de lua cheia e o morro tava bem iluminado, o que dava o mínimo de claridade no alto onde a gente tava e me ajudava a acertar ele.

Mas eu ja tava machucado e cansado demais, não consegui segurar ele daquele jeito por muito tempo e ele voltou a me surrar pior que antes.

Bateu minha cabeça no chão umas quatro vezes, me deu tanto chute que nem deu pra contar, soco nem se fala, e por fim, ainda me arrastou pelos cabelo até a beirada do lugar que a gente tava em cima.

Pegou minha cabeça com força e me fez olhar pra baixo.

Meu olho direito tava fechado de tanta porrada, mas o esquerdo ainda tava meio aberto e deu pra ver que era uns 1.000 metros de queda. Era um deslize, e eu virava farinha la em baixo.

Arcanjo: Cê tá vendo isso aqui né? Tá vendo a altura? - pergunta puto de raiva, ofegante, e eu assinto tossindo.- Então, tá vendo todo esse morro que fica na frente disso aqui? - levanta mais minha cabeça, puxando meu cabelo e eu olho pra vista do morro que, la de cima, era linda pra caralho.- Se tu, mais uma vez, botar em risco a segurança da minha boca principal, que é a única coisa que me faz ser dono de tudo isso aqui, só por um capricho, uma putaria tua, eu te dou uma surra pior que essa! Arranco todos os deus dente no murro e te jogo daqui de cima igual um saco de merda! - grita no meu ouvido me puxando pelo cabelo e me logando no chão, logo em seguida.

Eu deslizei por aquela terra dura e cheia de pedra, igual uma pena. Minhas costa ficou igual um ralador, mas passo bem.

Arcanjo: Cê escutou bem, seu pau no cu?? - pergunta pisando no meu peito, e eu assinto tossindo mais, vindo sangue dessa vez.- Esse morro é tudo pra mim. Não me faz ter risco de perder ele por causa das merda que cê faz.- nega falando normal agora, saindo de cima de mim, indo pegar sua camisa no chão pra ir embora.

Caralho... Eu acabei de quase morrer pelas mãos do maior inimigo dele, e ele tá pensando em quê? Na posiçãozinha dele de dono da porra toda.

Ai ai, amor de irmão é isso né.

Começo a rir no chão ao ouvir o som da moto dele se afastando, com o pensamento na importância que eu tenho pra ele.

Ai ai, que beleza, viu.

Mas to sem tempo agora pra ressentimentos familiares. No momento, eu só queria uma maca com rodinhas e um pedaço de pau, pra ir remando a maca até em casa.

Pqp, tudo em mim dói.

Tudo.

Não consigo nem me levantar, quanto mais andar.

Parece que minha coluna vai se partir em 3. Não consigo nem me mexer.

Filho da puta da mão pesada.

Se tivesse me batido com o chifre ainda doeria menos. Que ódio.

Agora nem pra casa dormir eu consigo.

Pqp.

É, mas se bem que essa areia é tão macia...

E com o tanto sono que eu tô...

Foda-se, vou dormir aqui mermo, com a graça de Jesus.

A mimir.

Meu corpo, mermo com muita dor, começa a relaxar e meus olho começa a pesar e pesar cada vez mais.

Em dois minutos, eu já tinha capotado.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora