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Narração:

Um mês após aquele dia tinha se passado.

O Grego, ainda naquela noite, depois de contar como tudo tinha acontecido, havia sido obrigado a jurar à Vivianne que nunca mais iria procurar a menina daquele dia novamente, sob a ameaça de que se ele não a cumprisse, ela não iria esconder o segredo do que tinha acontecido naquela praia, pro Arcanjo.

Grego prometeu, mas tinha se arrependido de ter contado tudo a ela, e ao mesmo tempo, não tinha.

Porque, la no fundo, ele sabia que essa história não tinha futuro. Sabia que, sim, ela era linda, a mais linda que ele já tinha ficado e a que mais tinha mexido com a sua cabeça, mesmo que isso ele não admitisse nem pra ele mesmo, mas que ela era demais pra ele.

Boa demais pra sua vida perigosa; rica demais pra querer algo a mais com um bandido favelado feito ele.

Ou, assim ele pensava.

E, depois de uma noite em claro, ele decidiu que realmente o melhor a se fazer, era deixar aquela garota, e a noite que passaram juntos na areia da praia, apenas na memória, e não encaixá-la em uma rotina.

Ele desistiu de ir atrás dela novamente, e, do outro lado da cidade, ela não sabia como fazer ele sair do seu pensamento, ou parar de chorar por achar que a culpa pela sua "morte" era dela.

Pra ela, ele tava morto e a culpa era sua.

Pra ele, ela poderia estar morta por conta do seu egoísmo e tesão sem escrúpulos, que o fez quase sequestrar o motorista do táxi que tinha pego sua irmã na porta do condomínio dela, pra pegar o endereço e assim ir atrás dela. E depois disso ainda ficar naquela praia sem segurança alguma, sabendo de quantos inimigos ele tem e do que eles são capazes.

Foram loucuras demais e ele sabia que tinha agido mal.

Só não entendia porquê se sentia mais mal por não poder mais ir atrás dela novamente, do que por ter posto sua própria vida em risco só pra tê-la em seus braços.

Ele ainda se perguntava por quê sentia isso, e por quê ela ainda estava na sua mente após um mês de tudo ter acontecido.

Ela, por outro lado, em um mês, já havia quase o esquecido, se não fosse por um detalhe...
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Letícia POV

Ok, mais dois dias...

Pelas minhas contas já são..... DUAS SEMANAS!

DUAS semanaS que minha menstruação tá atrasada.

PUTA QUE PARIU!

DUAS SEMANAS, MEU DEUS.
DUAS SEMANAS!

Isso nunca me aconteceu antes e justamente quando eu RESOLVO TRANSAR COM ALGUÉM PELA PRIMEIRA VEZ, ELA RESOLVE ATRASAR.

Meu pai amado....meu pai amado, o que eu vou fazer?

E se for o que eu tô pensando? E se eu...

NÃO, NÃO, NÃO!

NÃO VAI SER!
ALIÁS, NÃO É!

Calma, respira...

Respira que são só alguns dias, não tive nenhum outro sintoma, então não é nada.

Marianna: Ô Letícia, vem cá. O quê que tá acontecendo com você que já é o terceiro pote de sorvete que eu compro pra essa casa só essa semana e você já acabou com ele todo? - ouço sua voz gritar da cozinha e me encolho na cama abraçando minhas pernas.

Nenhum sintoma, tirando a minha fome que quase não existia e que agora tá triplicada por uma manada de elefante.

Porra...caralho...

Será mesmo?

Será que eu realmente tive esse FUKING AZAR DO CARALHO DE ENGRAVIDAR LOGO NA MINHA PRIMEIRA VEZ?

Porra, num é possível.

Mas o que eu tava esperando? Aonde eu tava com a cabeça quando eu resolvi aceitar transar sem camisinha enquanto tava na minha OVULAÇÃO? EM?

Porra, Letícia... Não é que você nasceu burra, você fez CURSO NO SENAI PRA IDIOTA!

Que ódio! Que ódio de mim mesma!

Levanto da cama num pulo e corro até o closet indo em direção ao espelho.

Começo a me observar minuciosamente em frente a ele, tentando perceber qualquer diferença que estivesse sendo mostrada nele.

Não havia nada.

Comecei a me despir em frente a ele e, nem mesmo nua, se podia notar algo.

Cada curva tava igual, como sempre esteve.

Suspirei sentindo meus olhos marejar de lágrimas e me sentei no chão mesmo, caindo no choro.

Como poderia ter algum sinal no meu corpo se só fazem quatro semanas desde aquela noite?

Meu corpo ainda não sentiu a diferença, mas eu sinto.

Eu sei que tem algo diferente aqui dentro, desde aquele dia e esses atrasos adjuntos a essa fome inexplicável, são só mais confirmações disso.

Caralho, eu tô fudida...

Fu

Di

Da.

Neguei começando a chorar mais e mais, e a soluçar também, quando lembrei de quem é esse ser que provavelmente tá crescendo aqui dentro.

Grego...

Porra, esse feto, se existir de verdade, nem pai tem.

Caralho, que merda foi que eu fiz por um simples tesão de momento? Vai se fuder!

QUE ÓDIO!
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Narração:

Ela surtou.

Chorou por mais de meia hora, sentada naquele chão frio enquanto milhares de coisas, uma mais ruim que a outra, passavam em sua mente em turbilhão.

"Estar grávida.
Não estar grávida.
Se estiver grávida, ser muito nova.
Bebê vai atrapalhar completamente tudo agora.
Sua família vai se decepcionar.
Sua irmã vai se decepcionar."

"Não ter condições mentais de ter um filho agora.
Não ter um pai pra essa criança.
O pai era um bandido e morreu sem nem saber que tinha acabado de gerar um ser."

Eram milhares de sentimentos juntos, que estavam dentro dela e a atordoavam agora.

No entanto, nenhum deles era de mínimo afeto pela criança que poderia estar se desenvolvendo dentro dela.

Ela nunca pensou em ser mãe, odiava essa ideia e só conseguia pensar no mundo caindo em sua cabeça caso estivesse grávida.

Mas, em um estalo de lucidez dentre aquela tempestade que se instalara em sua cabeça, ela se convenceu de que não adiantava nada chorar e se desesperar sem ter a certeza.

Ela poderia estar chorando atoa, afinal, quantas mulheres já haviam tido a sensação de estar em uma gestação e até mesmo ter uma psicológica?

Ela tinha que confirmar isso, e assim ela fez.

Se levantou, limpou o rosto encharcado de lágrimas, se vestiu novamente e procurou em seu guarda-roupas, sua bolsa em que estava sua carteira.

Se aproveitou da sua irmã ter ido tomar banho e da Gertrudes ter ido ao mercado, pra sair quase correndo de casa e ir comprar um teste de farmácia.

Ao voltar, foi correndo fazê-lo e, os cinco minutos pedidos pela embalagem do teste, foram quase séculos em sua ansiedade contida.

Andou de um lado à outro naquele banheiro, impaciente.

E, quando já quase fazia um buraco no chão de tanto andar pelos mesmos passos, pôde finalmente ver o resultado...

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora