40

3.8K 203 41
                                    

Grego POV

A chuva que tava se preparando desde ontem, começou a cair bem na hora do confronto, só pra facilitar mais minha vida.

A essa altura, já tinha mais de sete viatura atrás de nois e mais algumas devia tá se espalhando por aí pra fechar um cerco e pegar nois.

Mas que se foda! Hoje eu não vou preso nem fudendo! Não vão conseguir me pegar nem que eu tenha que explodir a cabeça desses filha da puta tudo.

Tava difícil enxergar por conta do temporal e a pista começava a ficar escorregadia, o que fazia o carro derrapar de às vezes, e eu quase perder o equilíbrio na hora de atirar.

No meio desse caos todo, a única coisa que me fazia não parar de atirar e confiar que nois já tava chegando no morro, era olhar pra loirinha toda assustada que tava no banco de trás do carro.

Eu precisava proteger ela a todo custo, e ao meu filho que tá crescendo dentro dela.

E olha que eu nem sei se é meu mermo...

Mas, pensa bem, ela poderia dar um pai certo pra essa criança; poderia dar um pai filho de deputado pra ela; um pai que não tivesse essa vida louca e que não fosse um bandido procurado no estado inteiro.

Mas não, ela quis me contar que é meu e não tá recebendo nada de bom disso até agora, e ela sabe que não vai ter tantas coisas boas como teria se tivesse falado pra qualquer outro otário da classe dela que o filho é dele.

Então.... É, esse filho é meu mermo e agora, isso só me faz ter mais ódio no coração contra esses filha da puta atrás de nois.

Não tão perseguindo e atirando só em mim e no Arcanjo, tão perseguindo e atirando no meu filho e na mãe dele, e isso eu não vou perdoar.

Querido de Deus: Chefe, já tamo chegando no morro. Mas eu acho que eles não vão parar na entrada. Eles vão entrar também! - falou preocupado, dirigindo, e eu respirei fundo negando.

Arcanjo: Bando de filha da puta. Num vão deixar nois em paz! - gritou da janela do banco de trás, atirando.

Droga!

A gente queria um resgate limpo, MAS NUNCA DÁ PRA TENTAR SER BONZINHO NESSA MERDA DE CIDADE!

Eles vão fuder nois. Não querem perder essa chance de pegar eu e o Arcanjo.

Poooorra, que ódio!

Depois de pensar por uns instantes, enquanto sentia minhas ideias serem balançadas pelo solavanco do fuzil...
Tive uma ideia.

Era arriscada e poderia trazer ainda mais guerra pra dentro do morro, mas que se foda, só quero me livrar desses pela saco agora e deixar essas menina num lugar seguro.

De resto, cai pra cima, que tiro tá aí pra ser trocado.

Grego: Querido de Deus, me dá teu celular.- falei sério sentindo a chuva piorar e ele rapidamente pegou o aparelho no bolso.- Liga pro G18, gerente da 15.- ordenei e ele assentiu o fazendo e me entregando o celular.

G18: Fala, Querido.- respondeu do outro lado, calmo.

Grego: G18, aqui é o Grego. Tamo numa perseguição filha da puta aqui e em uns cinco minuto tamo chegando no morro. Os bota vão invadir junto e eu quero que tu cante no rádio pra todos os muleque tá nas suas posição certa na entrada do morro, nesses cinco minutos que falta. ASSIM QUE NOSSO CARRO PASSAR, EU QUERO CHUVA DE BALA NESSES FILHA DA PUTA, TA ME OUVINDO?! EU QUERO QUE VOCÊS METRALHE COM VONTADE, NÃO QUERO PENA NEM MEDO! - gritei no telefone e o Arcanjo assentiu ainda atirando.

G18: Pode deixar, chefe. Esses filha da puta vão virar peneira ainda hoje! - falou com raiva, e eu desliguei.

Joguei o celular no banco e rezei pra que essa porra fosse suficiente pra parar esses arrombado.

O águia tava sobrevoando nois e eu só conseguia pensar em ter uma porra de uma bazuca pra derrubar essa merda e fazer parar de fazer barulho na minha cabeça.

Vai se fuder!
.
.
.
Letícia POV

Depois de muito tiro, muita curva arriscada, muito pneu cantando e muito choro meu e da Mari, chegamos.

Quando finalmente o carro atravessou a entrada do morro e os tiros dos policiais cessaram, eu e a Mariana levantamos um pouco do banco pra ver o que tava acontecendo atrás de nós.

Logo percebemos que eles também estavam vindo atrás, entrando no morro.

Na hora meu coração já se apertou mais do que já tava e eu vi que alí era meu fim.

Cabou, cabou.

Fudeu FUDEEEEEU!

Porém, quando eu ja tava pronta pra me entregar a Cristo, uma chuva de balas recomeçou.

Vinham por todos os lados. Recocheteavam no chão centenas de balas.

Era um barulho ensurdecedor e nos desesperamos assim que tudo começou.

Começamos a chorar, nos abraçando, só esperando a morte, imaginando que os tiros vinham do helicóptero que nos seguia. Porém...

Grego: Fica sussú, novinha. As bala é neles, não em nois.- ouvi sua voz calma atrás de mim, e finalmente percebemos que ele tinha razão.

Todos aqueles tiros eram nos policiais que, a essa altura, ja estavam correndo pra bem longe daqui, por medo de levarem mais tiros.

Nesse momento, eu percebi com quem eu tava mexendo.

Olha o poder bélico desses caras...

O sangue frio...

Pqp, QUE PORRA EU FUI FAZER!

Eu me soltei do abraço da Mariana e engoli em sêco, percebendo a merda que eu tinha feito ao abrir o bico sobre o feto.

É, eu só faço merda.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora