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Narração:

Um mês havia se passado desde a morte da governanta.

Muita coisa tinha mudado.

Muita coisa, menos a distância das duas irmãs.

No entanto, as consequências dessa distância já tinham mudado completamente as duas.

Mariana, lutava pra se acostumar à falta de Letícia e ao luto pela morte da Gertrudes. Falhava miseravelmente nos dois.

Em trinta dias de aula, só pisara na faculdade dois desses dias, que eram dias de provas, e mesmo assim, tirou notas péssimas por não ter estudado e nem dormido antes de realizar os testes.

Passava agora seus dias encolhida no sofá da sua enorme cobertura vazia, escondida atrás de suas enormes cortinas Blackout que bloqueavam completamente qualquer raio de sol que se aventurasse em atravessar os vidros de suas janelas.

Há muito não via a luz do dia.
Há muito não sentia o calor de amar a vida e o fato dela continuar, a cada pôr do sol.

Tinha emagrecido cerca de cinco quilos, pois mal tinha forças de se levantar pra comer.

Não chorava.
Mas também não sorria.

Tinha virado um robô.

A única coisa que lhe avivava qualquer tipo de sentimento, era espiar pelas brechas da cortina as luzes do morro do outro lado do mar.

Lembrava-se de que sua irmã estava lá, e desejava muito vê-la, ou pelo menos ter notícias suas, mas não dava o braço a torcer pra isso.

Mal sabia ela que, do outro lado do mar, sob as luzes desse morro, sua irmã estava igual ou pior que ela.

Desde que voltara do enterro, só abriu a boca pra falar com o Grego e pra comer alguma coisa que ele a obrigasse a engolir por já estar quase louco de preocupação com sua saúde e a de seu filho.

Passava seus dias trancada no quarto, sem falar com ninguém, sem querer ninguém por perto.

Nada comia.
Nada pensava.

Pois, quando o fazia, vomitava tudo que havia comido, por conta das crises de ansiedade que tinha, sempre que pensava sobre sua irmã.

Depois de quatro repetições desse ritual, desistiu de fazer isso de vez e apenas passou a vegetar.

Dormia o dia inteiro, coberta até a cabeça por um grosso edredom. À noite, fazia diferente de sua irmã e chorava loucamente no colo do Grego, que acabava por chorar junto ao se sentir tão culpado quanto impotente em fazer algo pra ajudar ela.

No fim, as duas não conseguiam viver uma sem a outra.

E agora, mais do que nunca, precisavam estar juntas pra tentar superar o luto de sua segunda mãe.

No entanto, nada faziam pra que o reencontro e reconciliação acontecessem.

Por sorte, ou falta dela, a natureza mesmo faz seu papel e dá o retorno às suas ações...

Letícia: GREGOOOOOOO! GREGO, SOCORRO!!!! - um grito desesperado ecoou por toda a casa.

Logo, quem estava sendo chamado, quase derrubou a porta do quarto, ao adentrar nela em um chute, na intenção de atender rapidamente ao grito de socorro.

Seus olhos logo encontraram os dela, imersos em lágrimas e embebidos de desesespero. Ao descer seu olhar, viu a mão dela suja de sangue e o cobertor encharcado do mesmo líquido.

Grego: Meu Deus...- sussurrou, boquiaberto, entrando em desespero.

Lê: Nosso filho ta morrendo, Grego...- sussurrou soluçando de choro e ele negou transtornado a pegando no colo imediatamente.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora