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Mari POV:

Leticia: Cê vai mesmo nesse baile? - perguntou cruzando os braços, se encostando na porta do quarto, e eu fiz careta, colocando o brinco que faltava.

Mari: Na falta de entretenimento de melhor qualidade...- dei de ombros, pegando um perfume na bancada.

Quem não tem cão, caça com um gato ladrão.

Leticia: Ce tem certeza? - franziu o cenho, estranhando.- Isso não é muito a sua cara... não sei se cê vai conseguir passar a noite inteira em um lugar que tem tudo que você odeia: gente demais em espaços pequenos, drogas e bandidos.- debochou rindo, e eu fiz o mesmo, negando.

Iiiih, tá duvidando da minha humildade?

Mas, ela tem razão... acho que realmente bati a cabeça em algum lugar e não tô lembrada.

Nem eu mesma tô me reconhecendo hoje.

Onde já se viu? Eu, indo pra UM BAILE FUNK com um verdadeiro desconhecido que quer me pegar a todo custo.

Obs: ele também é um traficante.

Que delicia de noite, em.

Mas, acho que foda-se.

Sinceramente, não tô ligando muito pra isso.

Mari: Aí, sabe de uma coisa? - espalhei o perfume pelo corpo.- Eu sempre quis ser tão certinha, tão racional, tão exemplar... e tive que amadurescer tão cedo por conta de tudo que nos aconteceu, que agora vejo que fiquei careta, sabe? Ranzinza. Meio amarga. Sei lá.- me virei pra ela, pensativa.- Passei a vida inteira querendo ter as rédeas dela nas mãos, a todo custo. Tremendo de pavor a cada vez que algo fugisse ao meu controle...- arregalei os olhos.- E agora, nesses últimos meses, a vida vem me dando tanta rasteira e me sujeitando a tanta coisa absurda, que eu finalmente percebi que ela não pode ser levada tão a sério, e nem ser controlada o tempo inteiro.- neguei, olhando pra Letícia, que assentiu, compreensiva.- Eu sou jovem, tenho saúde, faço a faculdade dos meus sonhos, tenho uma irmã maravilhosa, que é tudo pra mim e tá sempre do meu lado...- peguei na mão dela sorrindo, e a puxei pra um abraço.- Então, afinal, Por que eu deveria ficar me prendendo à certos princípios e preconceitos que só me privam de viver coisas novas? - olhei pra ela, franzindo o cenho. - Aaaaai, vou pra esse baile mesmo, vou dançar com uma família de criminosos a noite INTEIRA, SIM...! Vou Desligar meu cérebro e meu senso, e só pretendo religar amanhã em horário comercial.- falei alto, rindo, e ela negou, me abraçando.

Sim, enlouqueci. Tô zuretinha das ideias. Mas, só por hoje, eu realmente não tô afim de ser Sã.

Acho que a lucidez deixa tudo um pouco mais sem graça. E a vida, sem a graça, é triste.

E eu, mais do que nunca, preciso de um momento feliz, ao menos um em que eu possa esquecer do mundo inteiro e ser eu mesma, sem me preocupar com mais nada.

Só por um instante...

Mesmo que esse momento fosse ser vivido em um baile de favela, com centenas de fuzis e de bundas ao meu redor.

Bom, acho que sobrevivo à uma noite.

E se não, ao menos morri tentando.

(Não quero morrer tá, Deus. É brincadeirinha)

Leticia: Tá, mas quem é a adolescente rebelde agora? - me olhou debochada, pondo as mãos na cintura, e eu cerrei o olhar, rindo.

Mari: Ah meu bem, essa coroa eu não te tiro nunca! - gargalhei.- Eu tô sendo porra louca por uma noite. Você vem nessa carreira desde que nasceu.- neguei, levantando a mão, e ela negou, rindo.

No alto do morro...Onde histórias criam vida. Descubra agora