Ok... eu vou te contar.

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Ando um pouco em frente da Rosalya e do Leigh e respiro fundo sentindo o ar leve e relaxante da praia. Havia me esquecido da vibe tranquila que esse lugar tinha.

- Merda! - Murmuro e me repreendo mentalmente ao olhar para trás. A Rosalya estava chorando, enquanto abraçava o Leigh. - Rosalya... você não precisa fazer isso... - Ela soluçava de tanto chorar.

- Não! - Ela negou com a cabeça - Eu PRECISO fazer isso... se eu não fizer agora, não vou conseguir nunca mais... - Ela respirou fundo, tentando se acalmar.

- Você não está sozinha, Rosalya. Lembre-se disso... - O Leigh segurou sua mão e acariciou com seu polegar.

Eles se encararam por um tempo. Era possível ver de longe o quanto eles se amavam. Nós seguimos em frente até chegarmos numa casa enorme de praia.

Ela ainda estava em reforma. Nós entramos na casa e eu observei tudo sem dizer nada. Às vezes a Rosalya me abraçava ou então abraçava o Leigh.

Até que ela parou em frente uma porta e ficou a encarando com lágrimas nos olhos. O quarto do bebê... dava para ver o quanto ela está a se esforçando para ser forte.

O Leigh veio até ela e lhe abraçou de lado. Sinto que era a hora de eu deixá-los a sós. Aquele momento era só deles, ambos precisavam passar por aquela barreira com o apoio e amor um do outro.

- Vou esperar no bar... - Sai de lá, os deixando sozinhos.

Fiquei meia hora sentada em um banco, tomando um drink, de costas para o bar, com meus cotovelos apoiados na mesa e de frente para o mar.

- Oi... - A Rosalya voltou junto do Leigh - Desculpe, eu te fiz esperar. - Era notório que ela havia chorado, mas ela parecia um pouco melhor.

- Tudo bem... - Suspirei e me levantei, indo até ela e lhe dando um abraço. - Você é uma das pessoas mais fortes que já conheci... - Sussurrei em seu ouvido e depois me afastei.

Ficamos conversando, bebendo e ouvindo uma moça que tocava ukulele na praia. Depois de um tempo já havia se escurecido. O Leigh olhou para seu celular e cochichou algo no ouvido da Rosalya.

- Bom... vamos passear um pouco pela praia? - Ela se levantou do banco e nós andamos em silêncio. - Olha... eles colocaram um cantinho com poltronas e almofadas na beirada da praia. - Ela disse surpresa e animada.

- Já estava aí na última vez que viemos... você não tinha visto? - Ela negou com a cabeça.

- Deveríamos ter vindo tomar alguma coisa aqui. É bem mais bonitinho. - Eu dei de ombros, indiferente.

- Você quer ir lá ver, Rosalya? - O Leigh perguntou e a mesma sorriu animada... parecia uma criança. Acabamos indo até lá e a Rosalya observou tudo atentamente.

- É lindo... - Ela pegou seu celular e apontou ele na minha direção. - Sorria e diga "Surpresa". - Eu fiz uma careta.

- Surpresa? - Ela disparou o flash na minha cara e no mesmo momento eu ouvi uma voz atrás de mim.

- Surpresa... - Me virei na hora ao ouvir essa voz extremamente conhecida.

- Que porra você... - O Castiel riu - O que está fazendo aqui? - Ele não disse que estaria ocupado nesse fim de semana?

- Eu posso ir embora, se você quiser... - Ele ainda ria.

- Se você mexer um músculo eu juro que te mato e depois jogo seu corpo no mar...

- Eu te explico - A Rosalya se manifestou ali, tirando minha atenção do Castiel - A gente se viu na rua ontem a noite. Eu não sabia se a minha ideia daria certo, até que as coisas se ajeitaram, há uma hora, mais ou menos.

- Eu consegui me liberar, no fim das contas... - O Castiel deu de ombros, sem tirar o sorriso sacana no rosto.

- O fato de planejar tudo isso me ajudou a respirar um pouco... - A Rosalya veio até mim e me abraçou - Ver as pessoas próximas a mim felizes me enche de energia - Retribuo o abraço dela - E eu meio que te devia uma... você esteve presente num momento muito difícil para mim.

Logo após nos separamos e nós duas trocamos um olhar cúmplice. Seria mentira se eu dissesse que tudo isso não nos aproximou ainda mais.

- Valeu... - Sorri de lado para ela.

- Bom... vamos deixar vocês aproveitarem. - A Rosalya deu a mão para o Leigh e se afastaram da gente.

- Acho que uma parte dela ainda se sente culpada por ter sido desajeitada naquela noite em que nos reencontramos. - O Castiel comentou ao observar a Rosalya se afastar.

- É... eu me lembro disso. - Eu rio ao lembrar da cena da Rosalya bêbada falando um monte de bobagens para o Castiel. - Eu achei que você estaria ocupado pelos próximos anos e aqui está você... - Eu nego com a cabeça.

- Dei um jeito para conseguir... A oportunidade era tentadora demais. - Sorrio ladino - A Rosalya até deu um jeito de podermos ter um momento em paz, longe de jornalistas e tietes - Eu arqueei a sobrancelha, confusa.

O Castiel fez um sinal com a mão e um dos garçons chegou. Ele trouxe uma barreira e instalou logo ao lado. Uma placa acima dela estava escrito: " Espaço reservado durante a noite"

- Como ela...? - Que eu saiba a Rosalya não era tão influente assim.

- O Leigh é bem influente aqui. - Ele deu de ombros.

Vi o garçom instalar outra placa escrita: " Em caso de dúvidas, dirija-se ao bar da praia". Vi o Castiel tirando duas marmitas de "fish and chips" e refrigerante de dentro de uma bolsa.

Colocamos na mesinha e arrumamos as almofadas de um jeito confortável. Nos sentamos e começamos a comer, enquanto observavamos o mar e as estrelas.

- Eu comprei pra gente. Não tive tempo de cozinhar nada. - Arqueio a sobrancelha.

- Desde quando você cozinha? - Se tem uma coisa que me lembro bem é que ele era tão ruim na cozinha quanto eu.

- Eu me viro bem... - Ele deu de ombros - Mas e você? Aprendeu a cozinhar? - Ele perguntou com ar zombeteiro.

- Para que eu vou cozinhar se posso fazer coisas bem mais divertidas? - Reviro os olhos.

- Tipo... corridas ilegais? - Ele não perguntou com zombaria, nem julgamento. Ele só parecia curioso.

- É... tipo isso. - Ele me encarou por um tempo - O que foi? Você está querendo me perguntar alguma coisa, né?

- Como aconteceu? - Arqueei a sobrancelha - Não estou querendo ser intrometido, mas... o que houve para você mudar tanto? - Eu suspiro.

Dava para ver o quanto ele estava interessado nisso. Eu até entendo ele... eu era bem diferente antes, não é como se eu tivesse mudado da água para vinho totalmente do nada.

Nunca fui de falar muito da minha história. Não que eu tivesse vergonha de mim mesma, mas me irritava ter alguém me julgando ou tendo pena de mim.

Sei que vai parecer brega... mas algo nos olhos do Castiel me dizia que eu podia contar. Ele não iria me julgar, nem ter pena... apenas me escutar.

- Ok... eu vou te contar. - Respiro fundo antes de falar.

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