Queria ouvir sua voz!

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Narração do Castiel

Eu e o resto da banda ensaiamos por horas, mas hoje decidimos sair mais cedo. A Léo tinha se sentido um pouco mal, possivelmente pelo cansaço.

Os membros da banda são 4, contando comigo. Tem o Zack, que é nosso segundo guitarrista, ele veste a típica jaqueta de couro e calça jeans rasgada. Seus olhos são verdes e seu cabelo castanho, sempre preso na metade em um coque.

Ele possui um temperamento forte, do tipo pavio-curto, às vezes temos nossos desentendimentos por sermos tão parecidos e difíceis de lidar, mas nada muito sério até hoje.

A Léo, nossa baterista e namorada do Zack, tem os olhos e cabelos pintados de azul. Veste um top preto, com uma jaqueta por cima e calça jeans rasgada. Ela é uma garota simpática apesar de ser um pouco sem paciência.

E por último o Gabi, nosso baixista, possui seus cabelos tingidos de loiro e seus olhos amarelo. Veste uma camisa cinza, com uma jaqueta de couro e detalhes xadrez compõem seu visual, tipo seu lenço.

Se tem um lugar que ele se solta é quando toca em seu baixo. Ele é um cara um pouco mais tímido, mas apesar disso é talentoso e muito gente boa.

Nós nos conhecemos no curso de musicologia da universidades e já faz uns dois anos que formamos o Crowstorm. Sempre tocando em bares ou coisas do tipo e finalmente vamos ter a chance de sair em uma turnê mundial.

Saio dos meus desvaneios ao receber uma mensagem. Pego meu celular e não consigo impedir um sorriso ao ver quem é.

Garotinha: O que você faz quando está com raiva? - Estranho a pergunta, mas respondo do mesmo jeito.

Castiel: Depende... Normalmente eu desconto em alguma coisa perto de mim.

Garotinha: Quando eu estou com raiva, eu soco alguma coisa até esvaziar toda a raiva que estou sentindo.

Castiel: Espero imensamente que "essas coisas" não sejam pobres pessoas inocentes, ou filhotinhos indefesos...

Garotinha: Credo, Castiel. Eu nunca machucaria filhotinhos indefesos... - Sorrio, negando com a cabeça.

Castiel: Às vezes, quando estou sozinho, eu grito para canalizar a minha raiva e tentar me acalmar... me ajuda a extravasar, mesmo sendo um pouco estranho. - Ela demorou alguns minutos para me responder.

Garotinha: Acabei de gritar por 5 minutos e o Arthur entrou no meu quarto segurando uma frigideira... - Rio e entro em meu apartamento. - Apesar disso, me sinto um pouco melhor agora.

Castiel: Você não me disse o que houve para estar assim... Você está bem?

Garotinha: Tirando o fato que não consigo parar de rir até agora, por causa da cara do Arthur ao entrar aqui no quarto... eu até que tô bem.

Castiel: Vai me dizer o que aconteceu?

Garotinha: Você tem tempo agora? Não está ensaiando?

Castiel: Eu estou em casa, hoje acabou mais cedo nossos ensaios. - Pulo em meu sofá e tiro meus sapatos.

Mensagem off

Estranho ao vê-la me ligando, será que aconteceu alguma coisa? Atendo sua ligação e espero ela falar algo.

Ligação on

- Está tudo bem, Maya? - Não posso conter um pouco de preocupação na voz.

- Sim, desculpe te preocupar. - Ela fica em silêncio por alguns segundos. - É só que... eu queria ouvir sua voz! - Ela admitiu, me fazendo sorrir.

- Me fala o que houve... - Escutei ela respirando fundo.

- Eu estou um pouco revoltada com unas coisas... -  Fico em silêncio, esperando ela continuar. - Não sei se você sabe, mas quando eu cheguei aqui na cidade eu fui assediada. - Arregalo um pouco os olhos.

- Porquê não me disse? Eu não fazia ideia... - Quase posso ver a Maya revirando os olhos daqui.

- Faz tempo, enfim, acontece que o cara também assediou a Nina.

- Filho da... - Ela me interrompe.

- Pois é... Nós duas denunciamos o desgraçado mas hoje descobri que o caso foi fechado e que ele foi levado como inocente...

Isso era realmente um fato revoltante, como eles podem simplesmente ignorar uma denúncia de assédio assim? Por isso e vários outros motivos que mulheres continuam sendo violentadas todos os dias.

- Isso é uma merda. Como eles podem deixar um assediador de mulheres e crianças solto por aí?

- É desprezível. Mas o que me frusta mais é que nem mesmo uma criança ganha justiça e segurança nesse mundo. Tô morrendo de vontade de socar alguma coisa... A Nina deve estar super mal. - Ambos ficamos em silêncio por alguns minutos.

- Eu já te contei o porque escolhi fazer a faculdade de psicologia? - Sua voz estava mais calma.

- Confesso que agora você me deixou curioso... porque escolheu esse curso?

- Quando eu fui violentada, há anos atrás, eu me sentia horrível. Eu mal saía de casa, mal comia, mal estudava... -  Senti um sentimento ruim dentro de mim. - Toda vez que eu lembrava daquela noite eu chorava. Foi um dos momentos mais difíceis para mim... - Ela suspirou. - Eu não me sentia bem o suficiente para ir a faculdade, então fiquei um tempo afastada. - Me deito no sofá para escutá-la - Mesmo quando voltei a me sentir bem novamente, eu me sentia totalmente deslocada naquele curso... como se tudo aquilo não fosse mais para mim.

- Foi aí que você decidiu mudar de curso? - Ela murmurou em concordância.

- Eu queria ajudar as pessoas... mulheres que passaram pela mesma coisa que eu, que sentiram o mesmo. Queria ajudar assim como fui ajudada.

- Então você escolheu a psicologia... - Afirmo.

- Sim. Às vezes as pessoas só querem ser ouvidas por alguém que as compreende... alguém que já passou pelo mesmo, mas conseguiu seguir em frente. - Ela suspirou novamente, mas dessa vez parecia feliz. - Quando eu me formar... espero me especializar em psicologia feminina e infantil.

- Uau... bem profundo. - Não falei em forma de deboche ou brincadeira apenas fui sincero.

- Pois é... podemos mudar de assunto? Já chega de falar de coisas assim... - Começamos a conversar aleatoriamente.

- Eu falei com o resto de grupo... eles concordaram em tocar no evento, contando que seja em um fim de semana.

- Sério? Isso vai ser ótimo... valeu! - Pude ver um pouco de animação em sua voz. - Temos que acertar o pagamento e tudo mais, mas... - Eu a interrompo.

- Não, não, não... nós fazemos questão de tocar de graça. É um evento beneficente, ficamos felizes em poder ajudar. - Ouço ela suspirar, rendida.

Voltamos a conversar sobre vários assuntos em geral. Possivelmente nós não teríamos tempo de nos ver até o evento, já que ela estaria bem ocupada.

- Tenho que desligar... estou quase caindo no sono de tão cansado... - Eu comento, bocejando. Já estava de madrugada.

- Então a minha voz te da sono é? - Ela brinca, me fazendo rir.

- Está se sentindo melhor? - Lhe pergunto, me referindo ao como ela estava com raiva e chateada mais cedo.

- Falar com você me acalma... - Sorrio ao ouví-la. - Tchau, Meu Cabeça de Tomate... Sonhe comigo! - Rio.

- Quem você quer enganar, Dona Fera? É você que anda sonhando comigo, tenho certeza! - Ela apenas ri, parecia cansada também. - Boa noite, garotinha...

- Boa noite, Cassy...

Ligação off

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