- Como foi sua semana? Você teve problemas para dormir depois daquele dia? - Eu dei de ombros.
- Tenho dormido todas as noites ao som de alguma música. - Comento - Mas sempre tenho pesadelos no meio da noite e acabo perdendo o sono. - Ele pegou em minha mão.
- Durante muito tempo também tive distúrbios de sono. Sei o que é isso. No início, pode parecer que não é nada, mais muito rápido isso pode virar uma espiral infernal.
- Então... você teve distúrbios de sono? - Ele assente.
- Quando o Dragon morreu, sim. - O Dragon era o antigo cachorro do Castiel no ensino médio.
Eu lembro o quanto ele adorava aquele cachorro, eles sempre estavam juntos fora da escola... não deve ter sido nada fácil para ele perdê-lo.
- Não deve ter sido fácil para você... - Ele dá de ombros.
- Aquele idiota roncava tanto a noite... Era atroz. - Ele riu - Tive que dormir por anos com música de fundo depois que ele morreu.
- Como ele morreu? - Ele suspirou antes de falar.
- Ele começou a ter cada vez mais sinais de velhice. Incontinência, perda de equilíbrio... - Pude ver a tristeza em sua voz - Estive com ele quando ele fechou os olhos para sempre... Mas foi difícil. Pensei em pegar um outro cachorro da mesma raça, mas... Fico pensando que nada vai substituí-lo.
- Entendo... - Comento.
- Mas enfim... um passarinho me contou que semana que vem é seu aniversário. - Reviro os olhos. Aposto que foi o Arthur ou a Sarah. - Porquê não me disse?
- Povo fofoqueiro... - Resmungo. - Eu não curto muito comemorar meu aniversário, normalmente eu só saio para beber ou me divirto em casa. - Dou de ombros.
- Entendo... também não curto muito esse tipo de coisa. - Ele dá de ombros.
- Mas esse ano não estou muito afim de nada... Os dias depois do meu último aniversário não foram nada legais. - Ele arqueiou a sombrancelha, curioso.
- Como assim? - Faço careta, nem havia percebido que ele escutou o que eu disse.
- Uma semana depois do meu aniversário... eu perdi uma pessoa muito importante para mim. - Explico, brevemente.
- Você... perdeu alguém? - Assinto devagar.
- Eu me apaixonei por um cara, mas... As coisas não acabaram da melhor maneira. - Fiz careta ao me lembrar do que houve. - Desculpe... eu não costumo falar sobre isso com as pessoas. - Na verdade eu não falo disso com ninguém!
- Se não quiser falar, tudo bem... - Ele pegou em minha mão, com carinho e eu o encarei.
Eu não gostava de falar disso com ninguém, os únicos que sabem da história toda são o Arthur e a Sarah, mas só porque eles estavam lá.
Me lembrar do que aconteceu e falar em voz alta ainda doía. Mas o olhar do Castiel sobre mim me trazia uma tranquilidade incrível.
Pela primeira vez eu tive vontade de me abrir assim para alguém, eu queria que ele conhece essa parte de mim também, eu confiava nele para falar sobre isso.
- Quando eu participei das corridas ilegais. - Eu comecei a contar. - Eu conheci um cara chamado Peter... A gente se deu bem logo de cara e começamos a nos encontrar para conversar e matar o tempo. - Suspiro - Acabamos nos apaixonando um pelo outro e quando vimos já estávamos num relacionamento.
- Mas...? - Ele perguntou me fazendo prender o ar, antes de continuar falando.
- Ele morreu. - Soltei todo ar e o Castiel permaneceu em silêncio, me observando. - Ele era de uma gangue aonde ninguém podia se relacionar com membros de outras gangues. - Eu ri, sem humor nenhum. - E mesmo eu não sendo da gangue, eu era "irmã" do líder de uma delas. Então, para eles, eu fazia parte da proibição.
- Ele morreu por causa disso?
- Em parte sim... Mas o Peter também tinha uma dívida com o líder da sua gangue e não podia pagar na época... - Fiz uma careta - Nós ficamos pelo menos um ano juntos... - Mordi o lábio inferior - A gente se amava... - Eu falei em um sussurro. - Ele havia me chamado para fugirmos juntos... e eu estava disposta a isso... Eu estava disposta a largar meus amigos, família e até a faculdade, só para poder ficar com ele.
- Isso é... - Eu o interrompo.
- Uma merda? Sim, eu sei. - Suspirei profundamente. - Nós mal conseguimos sair da cidade antes deles nos alcançarem. - Eu sorri, tristemente. - Eles nos deixaram presos em uma sala, até o Arthur conseguir encontrá-los e convencê-los a me soltar.
- Eles fizeram alguma coisa contra você, quando... - Ele não terminou a frase.
- Não. Eu sempre fui boa de conversa e convenci que se me tocassem, o Arthur se vingaria por mim. - Dei de ombros. - E sinceramente, eu não estava mentindo... A prova disso é que assim que nos achou, o Arthur ameaçou começar um confronto contra as duas gangues, se não me soltassem.
- Então eles te soltaram? - Eu assenti.
- Não seria bom para ninguém um confronto assim... O cara podia ser um idiota, mas não era burro. Ele me soltou, mas não fez o mesmo com o Peter. - Olhei para o chão. - Ele devia dinheiro para o cara... o Arthur não podia fazer nada por ele, muito menos eu... Tudo o que nós podíamos fazer era sair dali o mais rápido possível, para evitar ver uma cena daquelas... - Senti a mão do Castiel apertar um pouco a minha. - Eu me segurei para não chorar... queria ser forte... mas quando eu ouvi o tiro, eu... - Respirei fundo. - Eu fiquei dois meses, presa dentro de casa... dois meses lembrando dele... dois meses tendo pesadelos toda a noite... eu me recusava a pensar nele, a falar sobre ele.
- E a família dele?
- Eles me culparam pelo o que houve. Sabe aquela garota que eu dei um soco na praia uma vez? - Ele assente - Ela é irmã do Peter, por isso ela me odeia. - Ele arregalou levemente os olhos. - O pior é que eu me sentia culpada por isso... eu podia ter impedido aquilo... poderia não ter me relacionado com ele... poderia não ter fugido com ele... - O Castiel passou a mão em meus cabelos.
- Não é sua culpa, Maya... Você realmente se arriscou se relacionado com ele, mas você não o forçou a nada... você não o matou e nem sequer podia fazer algo para impedir aquilo. - Eu assinto devagar.
- Eu sei, mas foi muito difícil no começo... precisei de um tempo para me recuperar e muito apoio dos meus amigos. - Fechei os olhos brevemente. - Depois disso eu passei 4 meses me dedicando apenas a mim e meus estudos... e aí eu consegui uma vaga numa das faculdades mais famosas da França... E agora eu estou aqui! - Dei de ombros. - Eu segui em frente, mas a verdade é que o Peter sempre vai estar em meu coração... ele foi o meu primeiro amor de verdade. - Encaro o Castiel. - Tá vendo esse colar? Foi ele que me deu... nunca mais me separei dele, depois da morte do Peter.
- Eu... lamento muito. - Olhei no fundo dos olhos do Castiel. Ele parecia estar sofrendo por mim, como se a minha dor o atingisse também.
- Às vezes eu sinto como se não tivesse superado, sabe? Tipo, agora, eu tenho passado a semana toda tendo pesadelos com ele... isso faz eu me sentir fraca. - Abaixei a cabeça, mostrando pela primeira vez para o Castiel, minhas inseguranças.
- Maya... - Ele levantou meu queixo, para encará-lo, carinhosamente. - Você já foi assediada, violentada, participou de corridas ilegais, foi ameaçada com uma arma e perdeu alguém importante para você. - Ele brincou com a ponta dos meus cabelos. - A maioria das pessoas não aguentariam nem metade do que você viveu, mas você passou por tudo isso e ainda seguiu em frente. - Fechei os olhos, sentindo sua mão acariciando minha bochecha. - Tudo bem você ter seus momentos sensíveis às vezes, isso não te torna uma pessoa fraca. - Abro novamente meus olhos, encontrando um sorriso em seu rosto. - Você é a pessoa mais forte que eu já conheci... e eu admiro isso em você. - Não pude me conter com suas palavras... juntei nossos lábios em um beijo foraz e intenso.
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UMA DOCETE DIFERENTE
Teen Fiction* Fancic de amor doce(Castiete) Maya Dixon volta depois de 4 anos a sua antiga cidade para terminar o seu curso. Ela mudou muito tanto por fora quanto por dentro. Maya agora é mais bruta, confiante e desaforada, sempre andando na sua moto. Apesar de...