História da minha mudança

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- Você se lembra de quando eu disse que havia sido violentada? - Ele apenas assente - Acho que foi aí que tudo começou... Eu havia perdido a hora na faculdade e acabei saindo muito tarde, meu celular estava descarregado e eu estava tentando chegar o mais rápido possível para casa. Acabei pegando um atalho e passei em um beco... eu estava sozinha e vi um homem bêbado se aproximar de mim... - Eu não estava mais olhando a reação do Castiel - Ele me agarrou e começou a falar coisas obscenas... eu tentei fugir, mas ele me bateu e abusou de mim até eu não aguentar mais.

- Filho da puta... - Ouço o Castiel xingar baixo.

- Eu fiquei lá... totalmente destruída em todos os sentidos. Foi aí que eu conheci a Sarah e o Arthur. - Sorrio de lado. - Eles me ajudaram mesmo não me conhecendo e cuidaram de mim. Se eu consegui superar o que passei foi graças a eles.

- Você os vê como uma família! - Ele afirmou e eu apenas assenti.

- Eu comecei a mudar nesse momento... comecei a dirigir, fumar, beber, falar palavrões... mudei meu estilo, minha personalidade, meus gostos... - Dei de ombros.

- E os seus pais? Você sempre foi tão próxima deles... - Suspirei.

- Eu acabei me afastando muito deles. E mesmo eles não tendo consciência da metade das coisas que eu já fiz, eles continuaram me apoiando e se preocupando comigo. - Ele assente - Foi nessa época que descobri que o Arthur era líder de uma gangue da cidade... - O Castiel arregalou os olhos. - Mesmo com tudo o que já fez, ele sempre teve caráter e seus próprios valores. Ele me ajudou em muitas merdas que já fiz...

- Ele ainda... - Eu o interrompo, negando com a cabeça.

- Ele começou a se sentir culpado e conseguiu sair de toda aquela bagunça... Eu sei que ele se arrepende de muita coisa que já fez. - O Castiel me observava continuar - Foi ele que me apresentou as corridas ilegais... eu devo ter participado por mais de dois anos. - Sorri ao me lembrar daquela época.

- Algo me diz que você gostava muito disso. - Eu dou de ombros.

- Eu era fascinada por toda aquela adrenalina. Motos... velocidade... o gosto da vitória... tudo aquilo era muito atrativo.

- E porque você parou? - Ele perguntou, curioso.

- Eu me metia em muita encrenca por causa dessas coisas. Tipo... já ganhei uma dívida enorme apostando em corridas e também já fui ameaçada com uma arma uma vez.

- Acho melhor eu nem perguntar como tudo isso aconteceu... - Eu ri e neguei com a cabeça.

- No final o Arthur tinha que resolver tudo... ele se cansava e se preocupava. E mesmo que ele nunca me julgou, eu me sentia quase como um fardo para ele às vezes. - Suspirei - Sem contar que eu odiava ver a cara de preocupação da Sarah ou até dos meus pais ao me ver com um machucado novo. Vê-los daquele jeito por minha causa me deixava mal às vezes... então acabei sossegando um pouco. - Dei de ombros.

- Acho que nisso você não mudou... - Eu arqueei a sobrancelha - Você sempre se preocupou mais com outros do que com você mesma... isso é a prova que ainda tem um pouco da antiga Maya aí dentro - Ele apontou para meu coração.

Ele não está totalmente errado, na verdade. Eu ainda me importo mais com meus amigos e família do que comigo mesma.

A prova disso é que eu parei de participar das corridas pela preocupação da minha família, não por causa dos riscos que eu corria.

- Talvez... - Dei de ombros. - Enfim... a questão é que eu parei de vez de participar disso - Olhei para o Castiel, buscando algum tipo de pena ou julgamento.

- O que foi? Tem alguma coisa na minha cara? - Ele passou a mão no rosto e eu ri.

- Não. É só que eu não costumo falar sobre isso... normalmente as pessoas me julgam ou tem pena de mim - Faço careta.

- Eu não vou te julgar, Maya. Claro que o que você fez não é muito ético... - Dei risada no como ele pronunciou as palavras de forma cautelosa. - Mas você saiu disso. Você continua sendo uma pessoa incrível aos meus olhos. - Ele deu de ombros - E você parece estar muito bem... eu não acho que você precise de pena. - Eu sorrio de lado.

- Valeu, Castiel. - Depois disso conversamos sobre outras coisas.

Começamos a falar sobre nossos gostos e coisas que mudaram ao longo do tempo. Estávamos nos descobrindo aos poucos.

Eu estava rindo de alguma coisa que o Castiel falou até ele ficar sério e começar a me encarar.

- Me responda com sinceridade... - Ele afastou algumas coisas e se sentou mais próximo de mim. - Se eu sair para uma... turnê, o que vai acontecer?

- Fácil. Você vai conhecer pessoas, se tornar uma megacelebridade e voltará para me buscar com um dos seus vários iates para tirarmos férias no Taiti. - Eu brinco para quebrar o clima e ele começa a rir.

- Estou vendo que você já pensou em tudo! - Faço uma expressão pensativa.

- Espero que o iate seja equipado com uma sala de cinema. - Eu digo, sorrindo.

- Maya... Foi uma pergunta séria. - Suspiro, desfazendo o meu sorriso.

Eu sei que vamos ter que falar disso alguma hora, mas só de pensar nas nossas opções já me sinto desanimada.

- Eu não tenho uma resposta milagrosa para essa pergunta. Não é como se eu pudesse prever o futuro - Dou de ombros e suspiro novamente - Claro que eu quero que as coisas fiquem bem. E não quero que você renuncie algo que poderia ser uma grande virada em sua carreira... Mas eu não tenho a resposta.

Eu nunca o faria preferir entre mim ou o seu sonho. Mesmo que eu ainda continue totalmente apaixonada por ele até lá... seria muito egoísta.

Mas também não gostaria de viver um relacionamento a distância de novo... essas coisas quase sempre dão merda, nós dois somos um exemplo disso.

Terminar também não é uma solução. E é por isso que eu evito pensar nisso, todas nossas opções são uma merda. Eu com certeza enlouqueceria rapidinho se só pensasse nisso.

- Desculpe, eu não deveria ter voltado nesse assunto... - Eu dou de ombros.

- Você pode falar, não é um assunto proibido entre a gente. - Apenas é proibido em meu cérebro - Eu só não tenho uma resposta para isso...

Ele se levantou e se sentou atrás de mim, me envolvendo em seus braços. Continuei olhando a vista, enquanto ele acariciava o meu cabelo.

- Então vamos simplesmente aproveitar o momento. - Eu me aconchego em seus braços.

- Estou feliz que você está aqui. - Eu acabo deixando escapar a frase sem querer. - Você poderia estar compondo alguma coisa ou então ensaiando, mas você está aqui comigo. - Balanço a cabeça em negação, rindo.

- Eu gosto de estar com você... - Ele comenta.

De alguma forma eu me senti culpada, talvez eu esteja sendo grudenta demais. Ele está quase saindo em turnê, deveria estar ensaiando.

Mas eu estou tomando o tempo dele, sendo que eu o vi na semana passada. É quase como se eu precisasse da presença constante dele.

- Eu sei, mas as vezes me sinto um pouco... culpada - Ele arqueiou a sobrancelha - Eu sinto como se tivesse roubando um momento de criação importante para você... invés de estar compondo algo, você está aqui por mim.

- Você... Você não está me roubando nada. Eu vim ver você porquê eu quis. - Eu suspiro - Acho que você não entendeu direito. - Foi a vez dele suspirar - No ensaio, fico pensando em você. Quando eu componho, penso em você. Quando você não está por perto, penso em você. - Sinto meu coração bater disparadamente. - Você ocupa todos os meus pensamentos. Você me inspira. - Sinto sua respiração quente em meu ombro - Eu trocaria todos os meus finais de semana de ensaio por esse tipo de noite.

Senti algo dentro de mim se aquecer com suas palavras e pude sentir meu coração ansiando por suas carícias. Apertei seus braços em torno de mim e acabei dormindo assim. O que você está fazendo comigo, Castiel?

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